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Festivais

2o Fest Paulínia (2009) – noite 4

Paulínia pergunta quanto dura o amor

Por Luiz Joaquim | 13.07.2009 (segunda-feira)

PAULÍNIA (SP) – Os créditos iniciais do filme de Roberto Moreira, “Quanto Dura o Amor?”, terceiro a concorrer como ficção na noite do domingo do 2º Festival Paulinia de Cinema, rolam ao som de “High and Dry”, do Radiohead. Por si só, a canção já sugere a que espectador o filme poderá atingir em cheio em sua proposição dramatúrgica. Mas, ao final, Moreira supera essa expectativa, mostrando que este seu segundo longa-metragem deve bater forte em qualquer um que pensa no amor como algo frágil, principalmente nos dias loucos e fugazes de hoje.

Radiohead toca enquanto a atriz Marina (vivida pela atriz Silvia Lourenço) viaja de carro do interior de São Paulo para a capital paulista para estudar e buscar trabalho. Ela vai ficar no apartamento da advogada Suzana (Maria Clara Spinelli), uma amiga do namorado que ficou no interior. No mesmo prédio, mora o poeta Jay, um apaixonado pela prostituta Michelle (Leilah Moreno) ali da redondeza.

A redondeza, à próposito, é a avenida Paulista, mais precisamente no edifício Anchieta, aparecendo quase também como um personagem, junto a paisagem extremamente viva e dinâmica do lugar. Essa vivacidade do lugar é presente de tal forma no filme que antes refleteria em seu próprio título, inicialmente pensado como “Condomínio Jacqueline”.

De forma alternada e paralela o filme mostra, em ótimo ritmo, Marina, Suzane e Jay passando por descobertas e dores sentimentais semelhantes. Marina pela atração inédita por uma mulher; Jay pela prostituta que não abre espaço para delicadeza, romantismo e fidelidade em sua vida; e o caso de Suzana, o mais intrigante, pela coragem, elegância e ineditismo do tratamento no cinema brasileiro, por ela se envolver com um colega do Fórum onde trabalha, mas sem ter coragem de revelar um segredo sexual definidor para a relação afetuosa.

“Quanto Dura o amor?” não responde à pergunta de seu título, até porque ela não tem resposta. Ressalta apenas a fragilidade destas pessoas que querem se entregar por completo para o outro diferente deles mesmos. Bem recebido em Paulínia, até o domingo, era a ficção mais redondamente resolvida em todos os aspectos naquela competição.

DOC
Já o documentário “Sentidos à Flor da Pele”, de Evaldo Mocarzel, exibido na sessão anterior, mostrou seu diretor usando as mesmas estratégias já vistas em “Do Luto a Luta” (2004). Os (bons) personagens, seis, são cegos congênitos ou que adquiriram a deficiência ainda em vida. Mocarzel quer mostrar aqui, como o fez com os portadores de Síndrome de Down, que os defcientes visuais podem ter as mesmas práticas sociais e profissionais que os de visão perfeito, ou seja, que o problema está na sociedade, e não nos cegos.

Um problema é que Mocarzel esgota o discurso antes mesmo da metade deste filme de 80 minutos, tornando a segunda parte reinterativa daquilo que já ficou muito bem estabelecido, e em melhor forma no “Janela da Alma”, de Walter Carvalho e João Jardim (no júri, aqui). Um ponto interessante construído foi a brincadeira proposta por Mocarzel de dois de seus entrevistados editarem o som de trechos de um minuto do filme.

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