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Festivais

O tio que todos queriam ter

O gênio de Tati na Fundaj (Recife)

Por Luiz Joaquim | 10.07.2009 (sexta-feira)

É para poucos artistas ser reconhecido apenas pela indumentária que marcou seu perfil. Exemplos clássicos são o chapéu e a bengala de Chaplin, os óculos de aro grosso e negro de Woody Allen e, para pegar um exemplo recente, a solitária luva branca de Michael Jackson. Nesse time entra também o craque Jacques Tati (1907-1982), cuja combinação do sobretudo com a bôina, o cachimbo, guarda-chuva e as calças de bainha alta identificam de imediato o Monsieur Hulot. O cineasta francês ganha, de hoje a quinta-feira, uma mostra retrospectiva no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco com todos os seus filmes (seis longas-metragens e três curtas).

Com Hulot, personagem doce, gentil, observador, atrapalhado e ingenuamente provocador da sociedade em que vive, Tati criou obras-primas para o cinema francês. Não é exagero dizer que se hoje temos alguma idéia de leveza e graça com a qual enxergamos a cultura francesa, muito se deve ao trabalho deixado por Tati dos anos 1930 aos 1970. Sua pequena filmografia só reforça a força de seu gigantismo profissional.

Dono de um senso de tempo e espaço aguçado, Tati concebia com precisão geométrica seus cenários só para destacar, em tom piadístico, claro, alguns absurdos sociais impostos em nome da modernidade. Quem não lembra da esquisita casa futurista em “Meu Tio” (exibe amanhã, 18h30), que parece ganhar vida em sua cozinha e garagens automáticas; ou ainda dos labirintos de vidro e da assepcia em “Tempos de Diversão” (exibe domingo, 18h30).

Em sua postural quase infantil Tati, diante do chato mundo dos adultos, não só brincou com a loucura urbana mas também olhou para o campo, como no curta “Escola de Carteiros” (exibe hoje às 18h30, com o longa “As Férias do Sr. Hulot”). Em “Escola…”, primeiro filme que dirigiu (1947), o atrapalhado carteiro tenta fazer seu trabalho da maneira mais rápida possível, apesar de sua bicicleta rebelde. O curta gerou, dois anos depois, o longa “Carrosel da Esperança” (exibe terça-feira, às 18h10, junto ao curta “Curso Noturno”).

Ainda na programação, cujas sessões têm preço único e individual de R$ 3,00, estão o longa “As Aventuras dp Sr. Hulot no Trânsito” (exibe quarta, às 18h50), e o curta “Soigne ton Gauche”, que encerra a mostra na quinta-feira às 18h30, junto ao longa “Parade”. Este último, de 1974, feito especialmente para a TV. É uma mostra imperdível, para todas as gerações, não só para admirar o melhor cinema, mas para sentir o joie de vivre (a alegria de viver), como dizem os franceses.

PROGRAMAÇÃO

Dia 10, Sexta-feira
18h30 – As Férias do Sr. Hulot (Les Vacances de M. Hulot, França, 1953, P&B, 74 min)
Escola de Carteiros (L´école des facteurs, França, 1947, P&B, 15 min, 35mm)
Direção: Jacques Tati
Rapidez e eficiência: essa é a informação que todo carteiro recebe. A missão é simples: reduzir a duração de uma ronda para chegar a tempo ao serviço postal. Numa pequena oficina de correios de um povoado, três carteiros, entre eles François, atolados pelas ordens nasais de seu superior, fazem a divisão das cartas.
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Dia 11, Sábado
18h30 – Meu Tio (Mon Oncle, França, 1958, cor, 116 min, 35mm)
Direção: Jacques Tati
Sátira do cineasta à modernidade já vigente na Paris dos anos 50, procurando mostrar a felicidade das pessoas mais simples que moram nos bairros pobres da periferia, ao contrário da pressa e do vazio daquelas mais abastadas que vivem num mundo automatizado. Monsieur Hulot, solteirão e desempregado, passa a ser admirado por seu sobrinho Gérard, justamente por estar fora dos padrões impostos pela sociedade e, em particular, pela mentalidade vigente na família do garoto. Na casa dos pais, onde mora, Gérard se vê rodeado por toda uma parafernália moderna. Seu tio Hulot, ao contrário, vive numa confusa periferia em que a ordem é estabelecida pelos próprios moradores. Gérard observa que, ao contrário da monotonia que reina em sua casa, fazendo com que a relação em família se torne fria e vazia, a casa de seu tio é marcada pela alegria de viver, mesmo com dificuldades, e isso o fascina.
*Prêmio de Melhor Ator para Jacques Tati no Festival da Finlândia, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes/1958.
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Dia 12, Domingo
18h30 – Playtime (França, 1967, cor, 120 min, 35mm)
Direção: Jacques Tati
Um grupo de turistas norte-americanas chega a Paris, nos anos 60. Ali está também o hilário Mr. Hulot. Seu jeito inocente de observar as coisas acaba criando deliciosas confusões com as turistas que visitam a capital francesa. A mais cara produção de Jacques Tati. Nela, o diretor praticamente construiu uma cidade, com restaurantes, farmácia, prédios comerciais e até aeroporto.
*Grande Prêmio da Academia de Cinema Francesa/1968 e Medalha de Prata no Festival de Moscou, Prêmio do Festival do Filme de Viena, Oscar do Cinema Sueco e Prêmio no Festival da Finlândia/1969
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Dia 14, Terça-Feira
18h10 – Curta – Curso Noturno (Cours du Soir, França, 1967, cor 30 min, 35mm)
Direção: Nicolas Ribowski
O filme apresenta vários números clássicos de Jacques Tati. Nele, o diretor ministra curso para executivos de uma grande empresa e demonstra estar aplicando seu arguto sentido de observação também com relação a si mesmo.

Longa – Carrossel da Esperança (Jour de fête, França, 1949, cor, 79 min, Digital)
Direção: Jacques Tati
Uma vez por ano, uma feira traz, para o pequeno vilarejo de Sainte-Sévère, no interior da França, atrações como um cinema ambulante. Numa das sessões, François, o carteiro do local, assiste à projeção de um documentário sobre o serviço postal norte-americano e decide colocar o método em prática para fazer o correio chegar mais rápido. Montado em sua bicicleta, se lança pelo campo com vigor. Passa carros, gira em torno de uma vaca, encontra uma cabra ignorante, uma abelha irritante e um incontável número de copos de vinho branco que se interpõem em seu caminho.
*Prêmio de melhor cenário do Festival de Veneza/1949 e Grande Prêmio do Cinema Francês/ 1953
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Dia 15, Quarta-Feira
18h50 – Trafic (França, 1971, cor, 97 min, 35mm)
Direção: Jacques Tati
O Sr. Hulot, desenhista de um modesto fabricante de veículos, desenha um caminhão com várias inovações e decide levá-lo à Exposição Internacional do Automóvel de Amsterdã. Para isso, sobe à direção do veículo, seguido por Maria, a jovem norte-americana responsável pelas relações públicas da fábrica, num carrinho esportivo. A viagem é constantemente interrompida por um problema de gasolina, uma cadeia que arrebenta, problemas na fronteira. São tantas as confusões que o carro chega tarde demais à exposição.
*Seleção de Melhores Filmes do ano pela Associação de Críticos de Cinema de Nova York e Convidado de Honra no Festival de Berlim/1971, Prêmios no Festival de Londres e de Valdotaise D’Or, na Itália/1972 e no Festival da Finlândia, em 1973
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Dia 16, Quinta-Feira
18h30 – Curta – Soigne Ton Gauche (França, 1936, P&B, 12 min, 35mm)
Direção: René Clément
Roger, um agricultor, sonha em ser lutador de boxe. No pátio da granja onde trabalha, ele treina exaustivamente. Mas os combates acabam por falta de adversários. Surpreendido um dia durante o transe ao simular uma vitória, é descoberto e levado ao ringue. Mas existe um problema: ele nunca lutou de verdade e ignora tudo sobre esta arte. Será que o livro que o carteiro deixou em sua cadeira vai ajudá-lo a aprender alguma coisa rapidamente para chegar à vitória?

Longa – Parade (França, 1974, cor, 85 min, 35mm)
Direção: Jacques Tati
Já pressentindo o avanço da tecnologia digital, Tati filmou Parade quase todo em vídeo. O filme foi financiado pela televisão sueca e filmado dentro de um circo. Este, que viria a ser o último filme de Jacques Tati, mostra o protagonista na pele do Sr. Loyal, um mestre de cerimônias circense. Nele, Tati volta a dar vida aos números mímicos que ele praticava quando atuava no music-hall. *Grande Prêmio do Cinema Francês, Palma de Ouro no Festival de Moscou, Prêmio no Festival de Londres e no de Teerã/1975

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