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Críticas

Avatar

É como um livro pobre que se destaca pelo encadernamento e letras bonitos.

Por Luiz Joaquim | 18.12.2009 (sexta-feira)

A primeira observação a fazer sobre “Avatar” (EUA, 2009) – nova peça megamilionária de marketing da Fox, capitaneada pelo diretor de “Titanic”, James Cameron – é que, enquanto vemos o filme, uma palavra não sai da cabeça: Copenhague. A segunda observação vem a partir de Tarzan. Aquele personagem, criado há 97 anos, pelo escritor Rice Burroughs e conhecido do cinema desde 1932, quando o campeão de natação Johnny Weissmuller (1904-1984) o encarnou nas telas em “Tarzan: O Homem Macaco”.

A maior cidade da Dinamarca não sai da cabeça porque, quem lê jornal, vê TV, escuta rádio, ou acessa a Internet sabe que a mídia internacional só fala desse momento histórico onde líderes do mundo inteiro tentam chegar a um acordo em prol da preservação do meio ambiente a partir da 15á Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-15). Evento iniciado no último dia 7 e que, curiosamente, encerra hoje, com a chegada de “Avatar” nos cinemas de 46 países deste planeta.

Mas o que o COP-15 tem a ver com “Avatar” mesmo? Tem que o novo brinquedo da Fox traz um discurso velho travestido de novo para entreter crianças e adolescentes que talvez nunca tenham ouvido falar de Tarzan, mas sabem muito bem que é importante cuidar da natureza, nossa casa e casa dos nossos netos. Desde que o terrorismo virou piada de mal gosto, a partir de 11 de setembro de 2001, a natureza virou a nova bandeira de Hollywood: “O Dia depois de Amanhã” (2004), “Terra” (2007)”, “O Dia em que a Terra Parou” (2008), “2012” (2009) e outros

Pela história de “Avatar”, entendemos que não há mais verde na Terra e que num planeta chamado Pandora há uma pedra muito valiosa. Para lá vai uma colônia espacial de militares e cientistas que estão ali para explorar esse minério. Os militares estão lá para eventualmente combater os Na’vi, os nativos de Pandora. Na’vis são seres com mais de dois metros de altura, esguios, com forma similar a humana, mas olhos e aparência facial de gato, e pele azul. Assim como os Smurfs.

Os cientistas estão lá para se infiltrarem entre os na’vis. Para isso eles criaram os Avateres. Avater é um corpo híbrido entre o humano e o na’vi, com o qual os cientistas se conectam mentalmente para transitar entre os nativos e conhecê-los melhor. Nesse processo, Jake (Sam Worthington), um militar numa cadeira de rodas, volta a andar no corpo de seu avatar e, uma vez na floresta, se apaixona ao conhecer a na’vi Neytiri (Zoe Saldana); e também pela sua cultura e seu modo de seu povo se relacionar com a natureza de Pandora.

Em Pandora, há uma conexão concreta entre todos os seres vivos. Na’vis, animais, plantas, árvores estão interligadas por trilhões de sinapses. Assim como os nervos cerebrais, todos os seres se comunicam nessas conexões, se protegendo e protegendo a todos. A própria idéia de divindade para eles está numa árvore, que é a fonte da sabedoria por guarda todas as informações dos antepassados.

TECNOLOGIA – “Avatar” era um projeto antigo de Cameron, que foi engavetado por ele entender que não teria um resultado que desejava com a tecnologia disponível de então. Em 2005 ele retomou o projeto, mesmo sem ainda estar satisfeito com a técnica de captura de performance facial baseada em imagem real, como fez Peter Jackson com seu Gollun (“My precious…”), de “O Senhor dos Anéis”. Cameron queria mais expressividade nos olhos de seus na’vis e avatares.

Daí sua equipe desenvolveu um novo sistema usando uma câmera posicionada na cabeça para gravar as mínimas nuances do desempenho facial dos atores. Cada ator usou um equipamento especial na cabeça, semelhante a um capacete de futebol americano, no qual era afixada uma minúscula câmera que captava os movimentos de todos os músculos, além dos movimentos dos olhos.

Mas suspender ao alto “Avatar” por esse ponto, é elogiar um livro ruim pelas encadernamento e letras bonitos. O caldo que sobra de tanto estardalhaço marqueteiro sobre “Avatar” é que temos aqui uma “coisa” muito bem embalada (mas não revolucionária, como tentam empurrar), cujo conteúdo é bobo, para não dizer chato. É uma colagem de uma dezena de filmes que já vimos – com Weissmuller no elenco, inclusive, além de “Aliens: O Resgate”, com a mesma Sigourney Weaver que Cameron volta a dirigir em “Avatar”. Questão é que tudo é amarrado aqui para reforçar, numa obviedade enfadonha, o discurso pronto do mundo ecologicamente correto de hoje e, o mais importante: vender e vender. É um filme que parece menos cinema e mais um objeto caro, feito para render muito dinheiro.

Esse novo objeto da Fox é como uma bonequinha que dança, mexe os olhos e fala: “Eu vejo você”, no lugar de “Eu te amo”. Ela é movida por um controle remoto bem mais sofisticado que aquele da semana passada, e as meninas de hoje já nem lembram mais. Meninas que nem mesmo experimentaram os prazeres da boneca de pano, com o qual suas avós brincavam e criavam suas próprias relações com a vida.

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