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Críticas

Como Esquecer

Sobre as dores da perda do amor

Por Luiz Joaquim | 14.01.2010 (quinta-feira)

Há filmes que, apesar de seus méritos ou problemas, parecem enxergados com certo equívoco como obras direcionadas a um determinado grupo de pessoas. “Como Esquecer”, que estreia hoje no Cinema da Fundação, vem rotulado como drama sobre a perda do amor entre pessoas do mesmo sexo, mas talvez seu grande mérito seja a distância do estigma de inventariar uma excentricidade e relatar uma história sobre a perda em geral. A dor é observada em seu ponto humano: a vontade de esquecer as assombrações reais e evitar o eterno retorno de fantasmas do passado.

A protagonista é Júlia (Ana Paula Arósio), professora de literatura que foi a parte sofredora do fim de um namoro de 10 anos com Antônia. Nosso primeiro contato com Júlia é através de registros de viagens, feitos enquanto ela ainda namorava, com uma câmera caseira que a enxerga com camadas extra de carinho. Depois há o corte e a mudança de rota, e vemos Júlia em casa, abafada no escuro, com rosto inchado, queimando fotografias. Esses extremos situam com criatividade irregular o que vamos ver a seguir.

Júlia vive com dois amigos, Hugo (Murilo Rosa), um ator profissional que aparentemente trabalha apenas em obras em que interpretar bem não é pré-requisito, e Lisa (Natália Lage), garota de roupas largas e coloridas e que acredita que gatos são espiritualizados. É na existência desses dois personagens que o filme parece ter seus pontos mais baixos: suas histórias envolvem dramas de densidade elevada, como a morte inesperada do namorado de Hugo e o aborto espontâneo de Lisa. Nesse contexto particular, a dor da protagonista parece algo menor – quando realmente não é -, soterrada por excesso de drama.

O filme é narrado por Júlia, e o texto que ela recita reforça sua profissão de professora universitária de literatura, no bom sentido, ao ser um material que tenta racionalizar a dor e a existência com metodologia científica, e no mau, em que há excesso de afetação num texto em primeira pessoa. O ponto de interesse dessa narração é ver uma personagem fria e em silêncio constante que só se revela diante do papel em branco. No fim, temos a velha sensação de que tudo passa.

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