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Críticas

Deixa ela Entrar

Fome controlada

Por Luiz Joaquim | 01.01.2010 (sexta-feira)

Por conta do recesso de fim de ano, o Cinema da Fundação volta às suas atividades não hoje, mas amanhã com um dos filmes que mais atraiu e agradou seu público na mostra Expectativa 2010 / Retrospectiva 2009, encerrada há duas semanas. Trata-se de “Deixa Ela Entrar” (Lät den Rätte Komma In, Sue., 2008), de Tomas Alfredson, filme que dá uma interessante dimensão para o universo dos vampiros adolescentes, tão na moda graças a escritora Stephanie Meyer e a coqueluche midiática iniciada pelo romance “Crepúsculo” em 2005.

Mas atenção, em “Deixa Ela Entrar” não espere encontrar o tom açucarado que Hollywood deu à versão cinematográfica da autora norte-americana. “Deixa Ela Entrar” é também uma adaptação de um romance, escrito por John Ajvide Lindqvist, e sim, temos aqui a história de envolvimento afetuoso entre uma vampira adolescente, Eli (Lina Leandersson), com um garoto de 12 anos, Oskar (Kare Hedebrant).

Mas ao contrário do estilo “Crepúsculo” de mostrar este universo, o diretor Alfredson mostra o que é feio e assustador como feio e assustador e o que é belo e delicado como belo e delicado. Estes são conceitos subjetivos, ok, e talvez fosse mesmo melhor dizer que estas são sensações promovidas pelo filme sueco exatamente pela falta de receio em mostrar sangue, pele queimada ou membros humanos decepados sem constrangimento. Ao mesmo tempo em que mostra carinho explícito entre estes dois personagens tão distintos, mas apaixonados um pelo outro exatamente pelo que os torna iguais.

E o que os torna iguais é o isolamento em que são obrigados a viver. Enquanto a pálida Eli, que acaba de se mudar para o apartamento vizinho ao de Oskar, é obrigada a ficar distante das outras crianças e da luz do sol, Oskar é um menino ensimesmado por sua fragilidade e por ser constantemente vilipendiado de forma violenta pelos colegas da escola. O próprio cenário gélido no interior da Suécia estimula ainda mais a sensação no espectador desse isolamento dos dois personagens, e reforça também a idéia de calor quando eles estão juntos. Assim como a trilha sonora lúgubre (e não pop), que dá um tom sombrio na vida de Eli, e triste na vida de Oskar.

Deste belo encontro, surge o carinho e a cumplicidade tão comum aos melhores romances do cinema. Na verdade, “Deixa Ela Entrar” toma o mote vampiresco apenas como pano de fundo para reforçar ainda mais a tensão do nascimento do amor entre dois seres distintos em sua raça. Poderia ser a história de amor entre um esquimó e uma nigeriana e seria igualmente linda, isso porque aqui não é o espetáculo pelo exótico que está em primeiro lugar, mas sim o carinho entre esses dois seres e as suas consequências.

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