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Festivais

12o. Bafici (2010) – dia 2 (Gabriel Mascaro)

Reflexões urbanas a partir do cinema

Por Luiz Joaquim | 12.04.2010 (segunda-feira)

Com o filme “Avenida Brasília Formosa”, exibido no segundo dia do Bafici, o cineasta Gabriel Mascaro parece continuar suas investigações sobre as fronteiras contraditórias que recortam o Recife. Enquanto em “Um Lugar ao Sol” Mascaro direcionava sua câmera para o topo, registrando encontros com pessoas que moram em coberturas, aqui o interesse desce para as diretrizes urbanas que organizam a cidade. “Reflito sobre essas contradições em meus trabalhos, mas confesso que não é um projeto muito claro na minha cabeça”, diz Gabriel. “É algo que surge de forma natural. Mas não pretendo buscar uma tese fechada. Me interessa muito mais as relações humanas que se estabelecem a partir desses vetores que traço em meus flmes”, explica.

Filmes que parecem cada vez mais apontar para as limitações impostas no uso desenfreado do rótulo “documentário”. Não apenas o próprio “Avenida Brasília Formosa”, que coreografa ficção a partir de pessoas interpretando ações pessoais do cotidiano, mas também o curta-metragem mais recente de Gabriel, “As Aventuras de Paulo Bruscky” (programado para a edição deste ano do festival É Tudo Verdade), que idealiza um encontro entre o cineasta e o artista plástico Paulo Bruscky, a partir do Second Life, plataforma virtual que simula o real. “No Brasil, o documentário ainda tem carga institucional forte. É associado à ética jornalistica, à relcação factual”, opina Mascaro. “Desafiar essas questões me parece interessante. As pessoas têm necessidade de real, e essa fronteira para mim não existe. Nem sei mais o que é ou não real. O processo em “Brasília” foi tão aberto, que, para mim, essa fronteira ficou muito apagada”, ressalta.

Neste filme, mais um que contribui para embaralhar os limites entre real e encenação, Mascaro nos convida a um debate sobre a política urbana do Recife. Embora o posicionamento seja de certa forma discreto, é possível perceber a crítica à verticalização intensa no Recife via imagens das Torres Gêmas ou registros da visita de Lula ao Recife na inauguração da avenida. Essas questões, tão particulares na formatação da identidade urbana do Recife, são apreendidas nos festivais internacionais (o filme também foi projetado em Roterdã, em fevereiro)? “Na Europa já se discute sobre como a verticalização e a especulação imobiliária nas cidades têm modificado áreas. As pessoas estão conectadas com reflexões urbanas. O filme tem conseguido dialogar com o público, que parece aberto a este tipo de experiência”, explica o diretor.

Além de apresentar seu filme no Bafici, Mascaro participou do Buenos Aires Lab (Bal), encontro que promove articulação entre cineastas, produtores, e curadores de eventos internacionais. Nesse sentido, a premiação serve como legitimação simbólica: a batalha real é organizada nos bastidores, no contato direto com pessoas ligadas aos festivais de Cannes, Berlim ou Sundance. “O Bal proporciona chance de conhecer realizadores e produtores. É ótima oportundidade para aprendizado”, ressalta Gabriel, que veio defender seu novo projeto, “Valeu boi!”. “O filme se passa no agreste e relfete sobre a vida cotidiana de quem mora no sertão, sobre os impactos do desenvolvimento econômico na região, sobre como as mudanaças tecnológicas agem sobre personagens do local”, adianta o diretor.

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