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Festivais

14º Cine-PE (2010) – noite 1 (cobertura)

Novo O Bem Amado em sintonia com a TV moderna

Por Luiz Joaquim | 28.04.2010 (quarta-feira)

Guel Arraes já sabia que corria um risco ao assumir a autoria de uma nova versão audiovisual para a peça “O Bem Amado”, de 1962, criada por Dias Gomes. Era o risco da comparação com o absoluto sucesso e aceitação com a novela e a minissérie que a TV Globo exibiu nos anos 1970. Mas, projetado na noite de segunda-feira, para um Cineteatro Guararapes não totalmente ocupado – dentro da programação especial de abertura do 14º Cine-PE: Festival do Audiovisual -, o filme “O Bem Amado” não precisa nem ser avaliado sob a luz da antiga produção televisiva para reconhecermos suas fraquezas.

É provável que a mais gritante destas fraquezas esteja na disposição narrativa das situações pelas quais vivem o prefeito Odorico Paraguaçu (Marco Nanini), Zeca Diabo (José Wilker), Seu Dirceu Borboleta (Matheus Nachtergaele) e as Irmãs Cajazeiras (Andrea Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa) entre outros. Vendo o filme, ficam claras as amarrações duras de diversas situações a partir de um único mote – a inauguração do cemitério de Sucupira.

É a situação da eleição de Odorico, mais a situação das três irmãs desejando o prefeito, mais a situação de Violeta (Maria Flor) se apaixonando pelo jornalista da cidade (Caio Blat), mais o bloco do morimbundo importado, mais o bloco do casamento de Seu Dirceu, e por aí vão. Os blocos parecem funcionar isoladamente, mas nunca dando unicidade ao longa. Na verdade, alguns blocos, nem isoladamente, conseguem seduzir, ou fazer rir.

A confirmação e explicação por essa opção quebrada da narrativa veio na entrevista coletiva de ontem pela manhã, quando a produtora Paula Lavigne revelou que o filme deve virar uma microssérie de quatro capítulos na TV Globo (ainda sem data).

Mérito mesmo merece o ator Marco Nanini. Foi o ator quem comprou os direitos autorais da peça e procurou Guel para transformá-la em cinema. Com sua versatilidade, Nanini nós dá na tela um Odorico com toda uma nova (e convincente) feição e expressão corporal. Uma pena que a montagem acelerada, e outras artimanhas cinematogáficas (a trilha sonora, por exemplo) nem dava tanto tempo para essa e outras performances “respirarem” na tela.

Na verdade, observando a reação do público, pode-se dizer que o melhor do filme “O Bem Amado” ainda é o texto de Dias Gomes, ou seja, é um mérito extra-filme. Sempre que Odorico largava uma de suas expressões, como “streptisicamente”, “acontecimentos hemorrágicos”, ou “pratrasmente” entre outras, a gargalhada era autêntica no cineteatro. O filme deve chegar ao circuito dos cinemas dia 23 de julho.

CURTAS
Quem acompanhou toda a programação na noite da segunda-feira no festival não teve dúvida que o bem amado naquele momento foi Kleber Mendonça Filho. Após a projeção de seu curta “Recife Frio”, o cineasta foi cercado por uma multidão congratulando pelo que havia assistido. O filme foi ensurdecedoramente aplaudido, tal qual no Festival de Brasília, em novembro.

Na entrevista de ontem, perguntamos ao realizador se já havia recebido respostas do público quanto ao tom crítico do filme a respeito da maneira desarticulada do urbanismo recifense. Kleber respondeu que não tem intenção política, mas acha que “Recife Frio” pode gerar discussões bem vindas, “mas é um processo que deve ser lento”, arriscou.

Antes, foram exibidos os curtas “Tanto”, de Nataly Callai, “Lá Traz da Serra”, de Paulo Roberto, “O Filme Mais Violento do Mundo”, de Gilberto Scarpa, e “Bailão”, de Marcelo Caetano. Com exceção deste último, todos receberam aplausos diplomáticos.

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