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Críticas

Mauá: O imperador e o rei

Se fosse Deus, o que daria ao Brasil? – filme de Sérgio Rezende estreou em 1999 com projeto para escolas

Por Luiz Joaquim | 21.04.2020 (terça-feira)

*texto originalmente publicado no Jornal do Commercio (Recife) em 15 de outubro de 1999 (sexta-feira)

É louvável o trabalho que Sérgio Rezende faz. O homem agrupa um amontoado que gente competente, estuda a fundo seu objeto de trabalho e administra muita dor-de-cabeça para colocar na tela imagens de períodos históricos do Brasil que antes só tinham espaço em nossa imaginação. Apesar desse ato heroico, Rezende não arrisca na concepção de Mauá: O imperador e o rei, em cartaz a partir de hoje [15/10/1999] em 80 cinemas do País. O cineasta faz um filme correto, agradável, mas carente de ingredientes que realcem a magia comum às grandes biografias filmadas.

Sua nova produção, de R$ 6 milhões, conta a história de Irineu Evangelista de Souza que, aos nove anos de idade, foi forçado a sair do Rio Grande do Sul para trabalhar no Rio de Janeiro. A película mostra a escalada do plebeu que se tornou o maior empresário do Segundo Império até receber o título de Barão e Visconde de Mauá. Entre seus feitios estão a construção da primeira indústria brasileira (uma fundição e estaleiro), a primeira via férrea do País, a fundação do Banco do Brasil, o financiamento da Guerra do Uruguai, a instalação da eletricidade no Rio de Janeiro e a extensão de cabos submarinos do Brasil a Europa.

Não se pode negar que Mauá: O imperador e o rei está um passo à frente do filme anterior de Rezende – Guerra de Canudos. Se por um lado, alguns personagens aparecem e desaparecem sem nenhuma explicação na sua última milionária, por outro, Rezende consegue dar mais ritmo aos percalços de Mauá que aos de Antônio Conselheiro. Os primeiros minutos do filme, que introduzem sobre o menino e adolescente Irineu, sustentam a atenção com uma agilidade no encadeamento de sequências rápidas. O filme perde o poder de convencimento quando começam a aparecer os problemas do Irineu adulto. Problemas isolados que, aparentemente, não têm ligação entre si.

A possibilidade lúdica que o cinema pode proporcionar é sub-utilizada pelas lentes didaticamente comprometidas de Rezende. Não se percebe um tom autoral em sua obra,  o que seria de muito bom gosto para qualquer filme, principalmente biográfico (vide o recente Deuses e monstros). Alguém pode levantar-se em defesa argumentando era um empresário e fica difícil colocar poesia na vida de um capitalista. Mas, conforme o próprio Rezende quer fazer entender, Irineu era também um sonhador. Será preciso então algo a mais para construir a história sob uma perspectiva de narrativa mais ousada?

O carisma provocado pela personalidade inquieta e empreendedora de Mauá cativa, mas o filme não pode querer se sustentar apenas com isso e uma cenografia e um figurino competentes, nem pela exploração dos recursos que só a linguagem cinematográfica detém. Em contrapartida, Mauá: O imperador e o rei merece muito mais atenção do que qualquer Austin Powers ou Casa Amaldiçoada. Os valores éticos que Sérgio Rezende resgata, na figura competente de Irineu, é um ótimo motivo para ir ao cinema o que um brasileiro determinado podia fazer pelo seu País no século passado, e sentir-se orgulhoso por isso.

FILME SOBRE MAUÁ VAI À SALA DE AULA – Heloísa Rezende, uma das produtoras de Mauá: O imperador e o rei aproveitou a temática histórica do filme para criar o Projeto Escola. A partir da trajetória de Irineu Evangelista de Souza (o Barão e Visconde de Mauá), a produtora pretende complementar as aulas de história, geografia e português do ensino médio com o longa-metragem e um material de apoio didático aos professores.

O kit do Projeto Escola contém informações sobre a produção e os bastidores das filmagens, um caderno de atividades com sugestões de trabalho em sala de aula e um CD-Rom com imagens do filme para ilustrar situações determinantes no período do Segundo Reinado. “É a primeira vez que um filme brasileiro trabalha com CD-Rom. Isso é comum nas produções americanas. Nosso objetivo não é a promoção do filme, mas a disseminação do Projeto”, explicou Heloísa.

Além desse material, a coordenação do projeto vai promover sessões previamente agendadas e exclusiva para educadores. Outra promoção beneficia o professor que levar seus alunos para assistir o filme em uma das salas dos multiplex a partir da segunda-feira. A cada 40 estudantes, o professor recebe um ingresso de cortesia e um CD-Rom do filme.

O Projeto Escola também criou um concurso a partir de uma pergunta feita pelo Visconde de Feitosa (Othon Bastos) para Mauá quando era adolescente: “Se fosse Deus, o que daria ao Brasil?”. O autor da resposta mais criativa vai ganhar passagem, hospedagem e alimentação para passar um final de semana na região de Xingu. O prêmio será concedido pela Companhia Hidroelétrica de São Francisco (Chesf), em homenagem a Mauá, por ter trazido a energia elétrica ao Brasil.

No Recife, o Projeto Escola está sob a coordenação do Cinescola e recebe o apoio do Serviço Social de Indústrias (Sesi) e do sindicato dos professores: “Pretendemos deixar o material em todas as escolas da Região Metropolitana e promover uma exposição fotográfica nas principais escolas da cidade”, diz Andréa Mota, do Cinescola. Além dos colégios, o material poderá ser adquirido por museus e fundações de cultura. O site  www.mauaofilme.com.br também disponibiliza orientações didáticas. Contato com o Cinescola pelo fone: 326.4133.

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