São raros, ou raríssimos, os filmes que conseguem transpor para uma uma sala de cinema a ambiência e a essência do prazer que é estar numa casa noturna deixando-se levar pela batida do Techno. Ano passado, Anthony Lapia, com o seu primeiro longa-metragem – After (Fra., 2023) – colocou o público do programa Panorama, no Festival de Berlim, para dançar pelas pancadas dos 130 BPM (batida por minuto) pulsando em seu ritmo obsessivo e embalando corpos que, na tela, se amontoam numa pista de uma boate subterrânea.

No Brasil, o filme exibiu apenas na 47º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (outubro, 2023) e, embora comprado pela distribuidora Pandora, do Belas Artes Grupo, o título não foi disponibilizado para estrear nas salas de cinema do país, indo parar direto no streaming da empresa, o Belas Artes À La Carte.

 Entendendo que After è um filme cuja correta fruição precisa de uma sala de cinema, com som (alto) e imagens perfeitamente calibrados, o Cinema da Fundação pleiteou a autorização do Belas Artes À La Carte para disponibilizar uma sessão de After no À Meia-Noite Te Levarei ao Cinema. Sessão – com projeção no formato DCP, 2K – que, provavelmente, será a única em todo o Brasil. A sessão está marcada para às 23h59 do sábado, 4 de maio, no Cinema da Fundação / Derby (Rua Henrique Dias, 609, Recife).

AFTER – Nascido na produtora Société Acéphale por investimentos próprios no valor de 60 mil Euros, After é o primeiro longa-metragem do grupo que compõe a ‘sociedade acéfala’, já há dez anos no mercado, e após ter realizado 15 curtas-metragens.

E, de cara,Anthony Lapia acerta bastante no tom da sua estreia. Ao contrário de boa parte de produções afins, que nos levam para o mundo das casas underground com música eletrônica, cujo foco se divide entre o tráfico, o sexo ou a violência, em After Lapia está interessado no rosto de seus dançarinos, em traduzir, pelo enquadramento fechado, a expressão de êxtase estimulada pelo Techno tocando alto, sequestrando o público pelos sentidos primitivos.

Rostos em êxtase ao som da música. A vida é complicado, mas não ali

As drogas e o sexo também dão as caras em After, mas não de forma problematizante. Os corpos estão ali enroscados e em movimento, interagindo, seja por uma conversa trivial, seja por uma discussão trivial, seja cheirando algo como quem toma um café à luz do dia.  O filme é, enfim, uma expressão legítima e sedutora das infinitas possibilidades na prática clubbing.

Mas, como bem disse o francês Tsugi, After “não é um filme sobre drogas ou música, mas sim sobre corpos e interação social”. Isso porque, após a sua longa apresentação musical, o filme nos cola em Félice (Louise Chevillotte) e Saïd (Majd Mastoura).

Ela, uma advogada criminal de convicções céticas pautadas pelos livros que devora. Ele, de origem árabe, trabalhando em Paris como motorista de aplicativo e com inspirações revolucionárias próprias de quem ganha a vida nas ruas. Mas tudo isso só será percebido no ‘after’, após Félice, provocando a ex-namorada, convidar o desconhecido Saïd para ir ao seu apartamento.

Saïd e Félicia: Unidos pela música, separado pelos ideais

After, portanto, propõe também uma conversa sobre o amadurecimento sentimental e sobre as diferenças étnico-sociais. Tudo isso levado por um casal tão distinto e tão próximo, no caso, pelo melhor da música Techno.

SERVIÇO:

À Meia-Noite Te Levarei ao Cinema

Filme – AFTER (2023, Fra., 70 min.), de Anthony Lapia. Classificação indicativa: 16 anos

Projeção no formato DCP

Onde – Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Rua Henrique Dias, 609, Derby, Recife)

Quando – 4 de maio / 23h59

Ingresso – R$ 14 e R$ 7 (meia)

Vendo dos ingressos – na bilheteria do cinema

– 48 ingressos serão disponibilizados para venda entre 18h40 e 19h40 do sábado 4/5

– 112 ingressos restantes estarão disponibilidades para venda a partir as 23h do sábado 4/5