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Críticas

A Suprema Felicidade

Nostalgia fora do tom

Por Luiz Joaquim | 29.10.2010 (sexta-feira)

Quando teve sua primeira exibição pública, em setembro, no Festival do Rio, “A Suprema Felicidade” (Bra., 2010), o oitavo filme de uma carreira de 35 anos de Arnaldo Jabor (70 anos), recebeu críticas severas. Alguns usaram até a palavra “constrangedor” para exprimir o que sentiram ao acompanhar, no filme, a história que inicia em 1945 e segue por dez anos na vida do menino Paulinho (o ator Caio Manhente, aos 8 anos, Michel Joelsas, aos 13, e Jayme Matarazzo, aos 18).

Não usaríamos “constrangedor” para descrever “A Suprema Felicidade”, mas talvez “desequilíbrio” e “imaturo” fossem mais adequado. Soa, inclusive, estranho dizer que Jabor realizou um filme imaturo, sendo este o mesmo homem o responsável por clássicos absolutos do cinema brasileiro, como seu primeiro longa-metragem, o documentário “Opinião Pública” (1967); ou a melhor adaptação cinematográfica para um texto de Nelson Rodrigues, “Toda Nudez Será Castigada” (1973, premiado em Berlim); ou ainda o dono de uma trilogia – “Tudo Bem” (1978), “Eu Te Amo” (1980), e “Eu Sei que Vou Te Amar” (1984, premiado em Cannes) – quase que toda rodada dentro de um apartamento e que traduziu de maneira primorosa uma geração de brasileiros em crise com sua sociedade e com o amor. E ainda não falamos de psicodélico futurista “Pindorama” (1970) e o engraçado “O Casamento” (1975).

Assim como em “Tudo Bem”, que abre com o menino Jabor aparecendo em imagens de seu arquivo pessoal, “A Suprema Felicidade” também mostra o Rio de Janeiro com imagens originais da época em que transcorre a história de Paulinho, divida em três momentos, a infância, a puberdade e a adolescência. Já foi declarado pelo diretor que o filme não é autobiográfico, mas é sim, carregado por lembranças da própria experiência do cineasta carioca.

Num primeiro momento, “A Suprema Felicidade” destaca as brincadeiras de uma criança num Brasil que acaba de receber a notícia do fim da 2ª Guerra Mundial, sendo seu pai (Dan Stulbach) um frustrado piloto da Força Aérea Brasileira, e pincela aí os conflitos dos pais, sendo a mãe (Mariana Lima) uma mulher que deseja a independência financeira. Nesse ambiente tenso, a criança encontra alegria é nas brincadeiras com o avô músico (Marco Nanini, bem).

Num segundo momento, Jabor concentra a tensão no desejo sexual de Paulinho e suas experiências frustradas nos prostíbulos, enquanto que a terceira parte foca as paixões do adolescente, seja com a medium Deise (Maria Flor) seja com a streaper virgem Marilyn (Tammy di Calafiori), de apenas 16 anos, obrigada pela mãe (Maria Luisa Mendonça) a tirar a roupa por dinheiro.

Cercado por profissionais de primeira grandeza no figurino, direção de arte, fotografia, continuidade e outras especifidades técnicas, tudo funciona redondo na produção, exceto a direção e o roteiro (de Jabor com Ananda Rubnstein). A direção frouxa é um problema que acaba por resvalar na montagem do craque Lauro Escorel, particularmente na conversa do menino Paulinho com o avô no quintal de sua casa, que traz cortes esquisitos que só se explicam pela falta de bom material filmado.

De um modo geral, “A Suprema Feliidade” apenas se parece com um filme de Arnaldo Jabor – considerando sua obra anterior. É como se Jabor quisesse parecer Jabor, mas não conseguisse aqui. E o próprio norte do filme, a trajetória de Paulinho, não parece um norte. Além disso, o humor não tem força, ou tem, mas com 20 anos de defasagem se levarmos em conta os filmes brasileiros destas duas décadas. E não é um problema de excesso de nostalgia, mas sim de tom.

Os dois únicos momentos que nos soa autêntico de um típico Jabor são a já citade conversa de Paulinho e seu avô, e outra do garoto com o pai, que lhe conta como conheceu a mãe, enquanto esta ouve escondida, com saudade daquele tempo. Mas, ao final, fica o lamento em desconfiar que Jabor parece ter desaprendido a andar de bicicleta.

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