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Festivais

43o. Festival de Brasília (2010) noite 3

Contrastes entre velhice e juventude

Por Luiz Joaquim | 27.11.2010 (sábado)

Brasília (DF) – São muito fortes os contrastes temáticos dos dois primeiros longas-metragens exibidos em competição, ambos de ficção, aqui neste 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Enquanto “Transeunte”, de Eryk Rocha, mostrado quinta-feira, segue os passos do solitário e melancólico sexagenário Expedito (Fernando Bezerra) pelas ruas do Rio de Janeiro, “A Alegria”, de Felipe Bragança e Marina Meliande, exibido um dia antes, concentra-se em quatro adolescentes, também no Rio. O foco maior está em Luiza (Tainá Medina, a não-atriz de 16 anos) que se esforça para mostrar que tem uma razão para ser alegre, mesmo num momento crucial, que é o da perda da inocência em confronto com a realidade, por vezes violenta.

Curioso que, o que há de rigor na construção de Expedito – seja pelo roteiro de dois anos feito por Rocha e Manuela Dias, seja pelo desempenho extraordinário de Bezerra -, há de rigor nos enquadramentos e tratamento visual pensado para “A Alegria”. Já a fotografia de “Transeunte”, com um contrastante preto e branco feito pelo uruguáio Miguel Vassy, privilegia os ‘pedaços’ do corpo do velho Expedito. Da junção dessas partes, resulta os 120 minutos do filme, e conhecemos o seu todo.

Com três documentários no currículo, Eryk não negou aqui seu interesse pela tom de urgência que definem as imagens documentais. A câmera de Vassy é quase microscópica, e tem o poder de redefinir as formas exatamente por essa proximidade. A grade de um elevador, a borda de um prato, ou as colunas do metrô ganham outros sentidos. Nesse aspecto, o rosto (e o corpo) de Expedito passa, assim, a ser a paisagem mais importante do filme.

Perguntamos o que interessava em Eryk, 32 anos, abordar, em sua primeira ficção (na verdade, o primeiro longa de ficção de um descendente de Glauber Rocha), a história de um homem de 65 anos, que não tem filhos, perdeu a mãe e a mulher que amava, e passa os apenas a observar o mundo. Sem conseguiu responder com exatidão, Eryk acredita que a resposta possa estar mais no seu inconsciente, que sofreu perdas fortes como a do pai e dos dois avôs.

“De qualquer forma, eu me perguntava o que marcaria a passagem de um homem assim pelo mundo. Quem iria lembrar dessa pessoa depois que ela se fosse? Achei que fazer um filme seria uma boa forma de registrar sua existência”, resumiu, em consonância com Fernando Bezerra, que é já um forte candidato ao troféu Candango de melhor ator.

Duas informações: o baiano Bezerra atuou em vários filmes, três deles sob direção de Hermanno Penna, incluindo “Sargento Getúlio”. Era o sujeito que apanhava de Lima Duarte o tempo todo. Seu penúltimo filme foi “Linha de Passe” de Walter Salles, produtor deste atual “Transeunte”

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