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Críticas

Aparecida: O Milagre

Fé cristã

Por Luiz Joaquim | 17.12.2010 (sexta-feira)

Obras de cunho religioso, como “Nosso Lar” (4,060 milhões de espectadores) e “Chico Xavier: O Filme” (3,414 milhões) despertou o mercado (?) cinematográfico brasileiro para uma demanda de público existente interessado no assunto. Isso todos sabem, como sabem também que a doutrina espírita foi o dínamo principal que mobilizou esses 7,5 milhões de pagantes. De qualquer forma, ficou claro que a “fé” pode ser um elemento frutífero ao cinema nacional. Posto isto, vemos hoje a estreia de “Aparecida: O Milagre” (Bra. 2010), dirigido por Tizuka Yamasaki e produzido por Gláucia Camargos e Paulo Thiago. E pela nova produção, o rebanho a ser conduzido aos cinemas agora é o católico.

Não que “Aparecida…” seja o primeiro a dedicar o suor de seu trabalho aos católicos na recente cinematografia brasileira. Afinal, quem não se lembra de “Maria Mãe do Filho de Deus” (2003) e “Irmãos de Fé”, ambos de Moacir Goes? A questão é que nenhum deles foi um fenômeno de bilheteria e mesmo pegando carona na popularidade do Padre Marcelo Rossi, aqueles eram filmes diferentes de “Aparecida…”, pois representavam histórias bíblicas. E elas foram centenas de vezes melhor representadas no cinema.

No trabalho de Yamasaki, filmado nos municípios de São José dos Campos e Aparecida, a história é contemporânea. Concentra-se em Marcos, primeiro há 35 anos, em sua infância (com o ótimo ator mirim Vinicius Franco), quando perde o pai que trabalha nas obras no Santuário Nacional da padroeira do Brasil. E depois nos dias de hoje, já Marcos interpretado por Murilo Rosa e seu bigode de metalúrgico sério e responsável.

Acontece que, ao contrário de sua viúva mãe (Bete Mendes), Marcos não só é ateu como pragueja contra a Santa. Em constante briga com a ex-esposa (Leona Cavalli), Marcos ralha forte com o filho Lucas (Jonatas Faro), um ex-usuário de drogas e que quer seguir a carreira de artista, frustrando os planos do pai-empresário que não poupa nem a namorada (Maria Fernanda Cândido) de suas tensões.

Pelo roteiro finalizado por Paulo Halm, ao final, o estado de ódio e torpor do ateu representado por Marcos é despertado por um acidente que sensibiliza toda a família, e vem seguido por um milagre. E assim contado, “Aparecida: O Milagre” soa como uma passagem bíblica, cinematograficamente ilustrada, mas seguindo os preceitos da melodramaturgia. Ou seja, pelo exagero nas performances dos atores, conhecido pelos norte-americanos como “overacting”. Sempre acompanhado, vale destacar, pela trilha sonora açucarada de Paulo Francisco Paes. São cerca de 50 minutos de música ocupando 90 minutos de filme.

Numa pequena reflexão, o que se percebe sobre a intenção primeira de “Aparecida: O Milagre” é a de querer saciar apenas os fervorosos católicos, dando o que eles já acreditam e o que conhecem muito bem. A produção, que lembra mais uma telenovela frágil, não reforça, ou não invoca, o mistério da fé (ou a falta dela) pelo emprego da inteligência cinematográfica, cuja linguagem, pelas suas infinitas possibilidades de sedução intelectual, já criou obras contundentes nesse campo. Dois exemplos a ver: “Ondas do Destino” (1996), de Lars Von Trier em 1996; e “Fim de Caso” (1999), de Neil Jordan.

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