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Críticas

Dois Irmãos (2010)

As agruras e alegrias entre dois irmãos

Por Luiz Joaquim | 24.12.2010 (sexta-feira)

Tendo estreado há dois meses em São Paulo, e exibido em duas sessões aqui no Recife na mostra Expectativa/Retrospectiva do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, entra em cartaz hoje no Cine Rosa e Silva “Dois Irmaõs” (Dos Hermanos, Arg., 2010), novo filme do elogiado diretor Daniel Burman. O filme traz a mesma contundência e humor que se pode encontrar em qualquer relação familiar sadia; tema tão presente nas obras passadas do cineasta. É pela ótica da família que Burman olhou a crise econômica em seu país em “Esperando o Messias”, e foi também em “Abraço Partido” e “As Leis da Família” que o realizador avaliou os atritos e comunhão entre pai e filho; ou ainda as questões pertinentes da convivência (ou não convivência) de um casal em “Ninho Vazio”.

No novo filme, como já anuncia o título, o foco está nos irmãos, maduros, Marcos e Suzana (Antonio Gasalla e Graciela Borges, ambos espetaculares) que procuram acertar os ponteiros sentimentais após a morte da idosa mãe. À propósito, vale logo ressaltar a qualidade, pela economia, de Burman para sintetizar situações dramáticas, seja de importância primordial para todo o enredo, seja em detalhes pequenos, que estão apenas para dourar o bolo. Por exemplo, a silenciosa sequência do óbito da matriarca é tão simples como comovente e eficaz.

Economia e precisão são outras características que podem definir a abertura do filme. Enquanto ainda surgem os créditos de apresentação, Burman nos coloca numa reunião de condomínio no prédio de Suzana. Em dinâmica montagem, o que ele ressalta ali é o que há de cômico e enfadonho numa reunião de condomínio de uma classe média. A razão primeira da sequência é apenas apresentar os dois protagonistas e seus diferentes perfis.

E eles não podiam ser tão diferentes. A questão aqui é como a afetuosidade se dá diante desses conflitos. Ou ainda, como os conflitos se instalam mesmo com a presença da afetuosidade em algum recanto íntimo deles. Enquanto Suzana é uma dinâmica e trambiqueira corretora, preocupada com resultados, Marcos é um senhor de meia idade, gay e solitário, que passou sua vida cuidando da velha mãe. Sem ela, Marcos se vê perdido e acaba aceitando, meio a contragosto, a ideia de ir morar no Uruguai, com um custo de vida mais baixo, menos confortável. Entretanto, o processo o acaba colocando diante de um desejo juvenil, o de ser ator teatral.

Uma cena – ainda no início do filme, que pode ate soar cômica – destila claramente a inclinação para a delicadeza de Marcos e para o pragmatismo de Suzana. Se dá no velório da mãe, onde ele chora descontroladamente, e ela pensa apenas no fracasso da organização que foi a cerimônia. Outros momentos mostram o equilíbrio dramático e de humor que, na América Latina, só o cinema argentino parece ter alcançado. Basta atentar para a discussões barra pesada entre os dois, como também seus momentos de reconciliação. Serenos, como uma caminhada numa praia deserta.

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