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Reportagens

Revendo 2010

Ano de (re)Nascimento

Por Luiz Joaquim | 20.12.2010 (segunda-feira)

2010 deverá ser relembrado muitas e muitas vezes no futuro como o ano em que o cinema brasileiro reencontrou seu publico. O responsável por isso foi “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro”, de José Padilha. O filme que estreou há 11 semanas (e, até agora, vai em 10,9 milhões de espectadores), quebrou, no mínimo, dois recordes no mercado nacional. O mais impressionante diz respeito a ter ultrapassado o título oficial de campeão de bilheteria alcançado por “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto. O segundo, diz respeito à Retomada, ultrapassando o número de 22 milhões de bilhetes vendidos para produções brasileiras em 2003, ano sempre lembrado com o de melhor participação do País nas bilheterias desde o final dos anos 1980.

Ajudando “Tropa…” nesse placar de 2010, estiveram dois filmes que acordaram os adeptos do espiritismo para ir a uma sala de cinema. Foram “Nosso Lar” (4,060 milhões de espectadores) e “Chico Xavier: O Filme” (3,414 milhões). Os três filmes figuram entre os dez mais visto no ano (veja quadro abaixo).

Logo no início de 2010, na verdade a primeira estreia do ano, dia 1º de janeiro, trouxe muitas expectativas (frustradas) quanto a um provável fenômeno de bilheteria. Era “Lula: O Filho do Brasil”, último filme de Fábio Barreto, que sofreu críticas pesadas e não chegou a um milhão de bilhetes vendidos. E o ano não foi delicado apenas nesse aspecto para os Barreto. Duas semanas antes de estrear a produção, seu diretor sofreu um acidente de transito que provocou traumatismo craniâno e o deixou sob risco de morte.

Outro lançamento frustrante, e que gerou polêmica pela posterior defesa radical de seu realizador, foi “A Felicidade Suprema”, primeiro longa-metragem Arnaldo Jabor, 24 anos após “Eu Sei que Vou te Amar”. “Nostalgia anacrônica” foi a expressão mais usada para se referir ao filme.

Decepção também foi mais marcante no cinema estrangeiro do que seus êxitos. Pelo menos no que se refere ao que saiu de Hollywood. A começar pela seqüência de “O Homem de Ferro”, um bela surpresa lançada em 2008, mas que viu no filme 2, em maio último, um caça-níqueis esquecível. Um mês antes, em abril, um rebuliço se dava nas bilheteria na semana que antecedia “Alice no País das Maravilhas”, dirigido por Tim Burton. Parecia perfeito o casamento entre o cinema de Burton e a fábula de Lewis Carroll. Não foi. Resultou numa obra burocrática e enfadonha (com ressalvas para o figurino e direção de arte).

No seguimento ‘sequências’, “Shrek para Sempre” (julho) também deixou a desejar, dando sinais que a franquia já não rende mais tanta graça, tendo aparecido esse quarto filme apenas para ganhar terreno no formato da moda, o 3D-Digital (celebrado ao extremo pelo superestimado “Avatar”, de John Cameron). No campo das refilmagens, o novo “Fúria de Titãs” (maio) foi patético, não há outra palavra para descrevê-lo considerando que a Fox, dois meses antes, havia lançando, sobre o mesmo tema, o infanto-juvenil “Percy Jackson e O Ladrão de Ráios”, sendo este muito mais modernizado e atraente.

Entre os arrasa-quarteirões de ideias originais, em agosto estreou “A Origem”, de Christopher Nolan, o qual seu estúdio, a Warner Bros, vinha vendendo-o meses antes como um filme revolucionário. Alguns da imprensa compraram a idéia, e não enxergaram o filme mediano que ele é por trás campanha colossal que ela foi.

No que se refere à produção e circuito alternativos, o cenário foi mais atraente. No Recife, em janeiro, um filme independente caiu nas graças da juventude local: “(500) Dias com Ela”, de Marc Webb. Outros com destaque em salas fora dos multiplex foram a animação australiana “Mary e Max”, de Adam Elliot, o italiano “Vincere”, de Marco Bellocchio, e o francês “Coco & Stravinsky”, de Anna Mouglaus. Nos multiplex, o estranho no ninho que agradou a todos foi “O Escritor Fantasma”, de Roman Polanski. O veterano cineasta, à propósito, ficou detido até junho (desde setembro de 2009) quando chegava a Zurique por um mandado internacional, referente a um processo na justiça americana de 1977.

PERNAMBUCO
2010 começou feliz no Recife com a reabertura (em 28 de dezembro de 2009) do Cine São Luiz, sob a administração da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Conflitos à parte entre o curador Lula Cardoso Ayres Filho e a direção da Fundação, o espaço aberto e belamente reformado regatou o orgulho da população recifense em ter uma sala, rara como esta, ainda em atividade na cidade.

Eventos ali, como o do Janela Internacional de Cinema – em particular na projeção de “A Trilogia do Dolar”, de Sergio Leone -, e o Festival de Vídeo de Pernambuco protagonizaram sessões inesquecíveis. A própria curadoria de Lula Cardoso Ayres Filho foi responsável por novos momentos inesquecíveis, pelas suas “sessões de arte” projetando clássicos como “Noites de Cabíria” “A Doce Vida”, “Os Incompreendidos”, e “Morangos Silvestres”, entre outros.

Já o cinema pernambucano viveu um ano histórico, atípico do ponto de vista de produção de longas-metragens. Foram gerados cinco novos filmes. O de Marcelo Lordello (“Eles Voltam”, em março), Paulo Caldas (“O País do Desejo”, em maio), Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”, em agosto), Cláudio Assis (“Febre do Rato”, em setembro), e Marcelo Gomes (“Era Uma Vez Verônica”, em novembro).

Uma sexta produção, com filmagens iniciadas (e interrompidas) em 2009 – “A História de um Valente”, de Cláudio Barroso – sofreu um forte baque em 2010 com o falecimento prematuro dor produtor Germano Coelho Filho, aos 52 anos, em 17 de outubro. Das personalidades internacionais que partiram neste ano, destaque para os francêses Eric Rohmer (janeiro) e Claude Chabrol (setembro), e o norte-americano Blake Edwards (na última quarta-feira, 15 de dezembro).

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Os mais vistos em 2010
(até 13 de dezembro, em milhões de espectadores)
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1 – Tropa de Elite 2 – 10,848
2 – Avatar – 9,108
3 – Shrek Para Sempre – 7,367
4 – Eclipse – 6,237
5 – Alice no País das Maravilhas – 4,344
6 – Toy Story 3 – 4,349
7 – Alvin e Os Esquilos 2 – 5,153
8 – Nosso Lar – 4,060
9 – Harry Potter e as Relíquias da Morte – 3,823
10 – Chico Xavier – 3,414

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