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Críticas

Tetro

A quase-ópera de Coppola

Por Luiz Joaquim | 28.01.2011 (sexta-feira)

Quem lembra o último novo filme dirigido por Francis Ford Coppola – o homem que nos deu a trilogia “O Poderoso Chefão” (1972-1990) e “Apocalypse Now” (1979) – que foi visto no circuito de cinema brasileiro? Só os mais velhos lembrarão. E, muito provavelmente, será lembrado “Drácula, de Bram Stoker”, em 1992. Por isso, e muito mais, ir ao Cinema da Fundação Joaquim Nabuco assistir “Tetro” (EUA/Arg./Esp./Ita., 2009) é algo quase obrigatório para quem preza por bom cinema.

Na verdadade, reverência histórica ao autor à parte, “Tetro” é também interessante pela combinação elegante entre estética e dramaturgia. Com a história de Bennie (Alden Ehrenreich, com rosto lembrando um jovem DiCaprio), preste a completar 18 anos e em Buenos Aires em busca do irmáo mais velho, Tetro (Vincent Gallo), Coppola revisita questões pessoais de sua própria família, presentes em outros obras, sendo “O Selvagem da Motocicleta” (1983) seu filme mais próximo nesse aspecto.

Não por acaso, a fotografia em P&B de “Tetro”, feita com esmero pelo romeno Mihai Malaimare – também remete a “O Selvagem…”. Mas aqui, há um cuidado ainda mais audacioso com a dramaturgia que a luz e a sombra pode proporcionar, pois Tetro é um iluminador de teatro. É a luz e a sombra sua ferramenta de trabalho.

Na verdade, o protagonista era um potencial escritor que deixou sua vida na América por um trauma familiar , e com planos de criar uma nova vida anônima. Nesse sentido, o encontro com o caçula Bennie, este ávido por irnformações sobre sua mãe (falecida quando ainda era criança) não é desejado nem celebrado por Tetro.

O mote que liga tanto o filme a questões próprias do diretor não estão apenas vinculadas à admiração que Coppola tinha pelo seu irmão mais velho, mas também pela rivalidade entre seu pai e seu tio. O molho dramático que entra em “Tetro”, o deixa, ao final, com com um forte aspecto de uma trágica ópera.

A opção em tornar a Buenos Aires mostrada no filme de forma estetizada, remete ainda mais ao universo quase `de outro mundo`, ou de `sonho`, que permeia “O Selvagem…”. Da mesma forma, a postura de alguns personagens em “Tetro”, como o de Carmen Maura na pele de uma crítica de arte, reforçam esse mundo imaginário criado pelo cineasta que serve apenas para ressaltar os dramas internos de seus protagonistas, ou mais especificamente, de seus isolamentos do resto do mundo real.

Não adianta entrar em “Tetro” esperando um épico mafioso ou filosófico sobre a guerra. Ele está mais para um sussurro – com alguns belos “gritos” como a cena do velório – do mestre norte-americano descendente de italianos a respeito da importância de nossas origens e de nossa essencia também revelada por essas origens.

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