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Críticas

Justin Bieber: Nunca Diga Nunca

Febre Bieber no cinema

Por Luiz Joaquim | 25.02.2011 (sexta-feira)

Em 1977, quando Woody Allen realizou “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, Alvy, seu personagem, paquerava uma jornalista da revista de música Rolling Stones que cobria uma turnê de Bob Dylan. A certa altura, o astro aparece no corredor e ela fala para Alvy, “lá vem ele, Dylan é Deus, ele é Deus, cara”. Enquanto Alvy retruca, “olha, Deus tá entrando no banheiro”. Em “Justin Bieber: Nunca Diga Nunca” (Never Say Never, EUA, 2011), documentário em (desnecessário) 3D digital invadindo os cinemas hoje, o deus Bieber, de 17 anos, não entra nem sai do banheiro.

O que isso significa? Que Bieber, por incrível que pareça, é o personagem menos expressivo nesse documentário caça-níquel. Talvez a única fala memorável dita pelo garoto seja a que ele conta ter quebrado por acidente a pata de um animal empalhado de seu avô. O outro único momento humano vivido pelo jovem popstar diante da câmera do diretor Jon Chu (“Ela Dança, Eu Danço” 2 e 3) é quando o moleque leva uma bronca da avó: “Só vai brincar depois de arrumar o quarto”, ordena ela.

A presença marcante dos avôs em sua vida é explicada pela história de sua mãe, que o teve muito jovem e precisou criá-lo sem a presença do pai na pequena cidade canadense de Stratford. Como a estrela nasceu em 1994, quando o acesso a Internet e filmadoras portáteis digitais já eram bastante acessíveis, temos um sem número de imagens de Bieber, desde os dois anos de idade, brincando de músico, até hoje.

De suas brincadeiras tocando bateria na cadeira da cozinha, ou cantando e tocando violão na rua, nos degraus de um teatro em Stratford, até seu primeiro concurso de calouro, lá pelos 12 anos, tudo está registrado. Não só registrado, mas postado no Youtube. É, á propósito, com imagens do Youtube, que “Nunca Diga Nunca” inicia. Foi por uma dessas postagens que um jovem empresário em Nova Iorque descobriu o garoto e o agenciou levando-o em diversas estações de rádio, apresentando-o como um fenômeno.

Auxiliado por uma divulgação maciça via Twitter, do tipo: “hj tô na 98,1FM, me escuta”, Bieber vai arrebatando fãs e vira um sucesso instantâneo entre o público que faz dessas ferramentas virtuais sua razão de viver, os adolescentes, no caso específico do Bieber, as adolescentes. Dessa forma, tem-se a impressão que “Never Say Never” é um filme sobre o Youtube, ou sobre a casa de espetáculos Madison Square Garden.

Isso porque a pobre estrutura narrativa do filme caminha, a contar, do décimo dia antes de sua apresentação no Garden, vendido aqui como o topo da carreira para qualquer músico, até a data de sua apresentação ali. Entre um dia e outro, depoimentos de parentes, da treinadora vocal, dos amigos e da professora de Stratford, do produtor, do segurança e de muitas fãs. São meninas de 11 anos elogiando o cabelo ‘deu um vento e ficou’ de Bieber, e exigindo, aos prantos, que ele se case com elas. Este filme, não se engane, é apenas para elas, e para Bieber ficar ainda mais famoso e rico.

Para quem acha que o jovem não faz a menor diferença na mídia mundial, “Nunca Diga Nunca” traz de interessante entender como um fenômeno pode ser gerado via Internet. Ninguém se espante, portanto, se no próximo Rock’n’Rio (em setembro) uma platéia colossal cantar em uníssono “Vou não, posso não, quero não…” e o resto você já sabe, porque o Youtube ajudou você a saber.

Em tempo: na madrugada de ontem, a banda do DJ Reginho, autor do hit pernambucano citado acima, sofreu um acidente com o ônibus que os trazia de um show. O artista está hospitalizado.

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