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Críticas

Poesia

A vida com toque agridoce

Por Luiz Joaquim | 15.04.2011 (sexta-feira)

O cinema recente sul coreano, ao menos a filmografia que chega ao circuito nacional, parece quase sempre interessado na pesquisa de gêneros, em histórias que insinuam seguir um caminho narrativo que já possui regras bastante claras e um tanto previsíveis para em seguida revirar esses códigos e formatar ideias autorais. O caso mais recente é o de “Poesia” (2010), que entra hoje em cartaz no Cinema da Fundação, dirigido por Chang-dong Lee, autor de filmes pequenos e emocionalmente carregados, pouco conhecidos no mercado brasileiro.

Na primeira cena vemos um corpo boiando num rio e temos a sensação de que vamos assistir a um filme sobre crime e castigo, mas essa possível narrativa policial do começo parece ser apenas material para enfatizar a outra discussão da narrativa, essa naturalmente mais densa e um tanto psicológica: o drama que implica aceitar a finitude não apenas da vida humana, mas também das relações entre pessoas e da natureza, temas delicados que em certo sentido contrastam com a dureza do assassinato inicial.

A história é sobre Mija, que aos 66 anos decide sem maiores explicações escrever pela primeira vez uma poesia. Ela entra num curso num centro cultura e a partir daí começa a observar pequenos detalhes do cotidiano que antes ignorava, situações simples de contato com o outro e/ou com a natureza. Ela também está nos graus iniciais do mal de Alzheimer, então a perda progressiva da memória ocorre ao mesmo tempo em que inicia um encanto honesto com coisas pequenas da vida, mostrando como Chang-dong Lee parece ter um tipo de pessimismo bastante curioso ao falar sobre a passagem do tempo.

O filme tem algo que pode ser visto como humor, na forma como retrata o curso de poesia e os alunos. Eles recitam trechos de poemas que falam sobre “rosas vermelhas” e “amor eterno”, temas abordados por senhores e senhoras de meia idade buscando formas autênticas para se expressarem.

Mija inicia um tortuoso processo de auto-conhecimento para então se preparar para a criação de uma obra pessoal, uma poesia, que reproduz seus anseios íntimos diante de fatos que ela não sabe bem como expressar. Essa produção ficcional, a única poesia que ela escreve, parece sugerir com excesso de sentimento todo o silêncio que acompanha o filme. É raro encontrar um longa-metragem em que essa obra interna aparece de forma tão fluida e com vida própria.

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