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Críticas

Carros 2

Filme engata a 5ª marcha

Por Luiz Joaquim | 23.06.2011 (quinta-feira)

Incrível como o projeto da Pixar “Carros”, que hoje inicia nos cinemas com sua continuação (Cars 2, EUA, 2011) perdeu o foco do espírito inicial. Mesmo sendo dirigido e escrito pelo mesmo John Lasseter do primeiro filme, lançado há cinco anos, o novo trabalho, que agora é projetado (desnecessariamente) em 3D Digital, não guarda nada do aspecto fabular infantil, com ritmo tranqüilo, que mostra o amadurecimento do herói Relâmpago McQueen (voz de Marcelo Garcia/Owen Wilson) em direção ao altruísmo.

Na nova história, na verdade, o protagonista nem é o carro mais veloz de Radiator City; e muito menos seu romance com Posche Sally (Bonnie Hunt) tem espaço por aqui. Quem reina absoluto em no mínimo 80% das cenas de “Carros 2” é o melhor amigo de McQueen, o rebocador jeca Mate (Daniel Lawrence Whitney).

A mudança radical de protagonismo no filme 2 soa como um indicio forte de como aquela idéia lá atrás era realmente original, enquanto esta nova… O projeto inicial de Lasseter em 2006, como chegou a ser anunciado na época, era um sonho que este grande homem da Pixar acalentava desde criança, como fã de carros que era e ainda é.

E, de fato, apesar de morno, o primeiro “Carros” apresentava um arrojado trabalho técnico de animação digital que dava um passo a frente do que vinham sendo feito até aquele momento. Ademais, ali, as crianças tinham boa diversão garantida sob uma cuidadosa história de respeito ao próximo menos favorecido e aos mais velhos.

A nova aventura dá um giro no mundo (Tóquio, Paris, Itália, Londres), para onde Relâmpago viaja, incitado pelo Fórmula 1 italiano Francesco (John Turturro), para disputar o título de carro mais rápido num Grand Prix. Relâmpago leva sua equipe – a Kombi hiponga, o Jipe militar, um velho Cinquecento e uma empilhadeira, para lhe dar suporte, assim como Mate. Na Europa, Mate é confundido com um agente secreto norte-americano pelos espiões ingleses McMissel (Michael Cane) – o carro inglês Peerless caracterizado aqui como um James Bond –, e Caixadibrita (Emily Mortmer). Eles querem a ajuda de Mate para capturar o bandido que tenta boicotar um novo combustível ecológico em teste nas corridas.

Essse volume de informações são lançadas ao longo de seus 106 minutos numa velocidade que parece querer acompanhar o ritmo dos automóveis do Grand Prix. “Carros 2” não abre espaço para o oxigênio circular no que o filme teria a oferecer de melhor às crianças, que é a capacidade de Relâmpago e Mate superarem o impasse da amizade que surge em meio ao caos das corridas milionárias.

Ao contrário, a produção insiste em apresentar-se num lugar entre um filme de espionagem e outro de corrida. A vocação para a múltipla identidade, acaba por enfraquecer todas elas individualmente, e ao mesmo tempo.

Se Mate e seu exagerado sotaque de jeca do interior pode soar divertido às crianças, aos adultos chega a cansar. E se a Pixar pretendia seqüestrar a atenção dos pais com a mirabolante (mas ingênua) história de perseguição contra o atentando ao combustível ecológico, as crianças deverão passar ao largo de entender o que acontece na tela.

Em resumo, nem um, nem outro espectador é bem atendido aqui, exceto pela, mais uma vez, excelente qualidade técnica de animação. O elogio, entretanto, não pode ser desdobrado aos truques para o efeito 3D, quase inexistentes aqui.

Como atrativo ao público brasileiro, este poderá identificar (com esforço) a participação de Emerson Fittipaldi e Cláudia Leitte (como Veloso) dando voz a carros em competição com Relâmpago e Francesco. Há também a inconfundível voz de Luciano do Valle como o locutor do Grand Prix.

Antes de “Carros 2”, Lasseter dá o gostinho de voltarmos a universo de “Toy Story”, por um curta-metragem onde Woody, Buzz Lightyear e seus amigos ajudam Ken a dar o primeiro beijo na Barbie. O resultado não é, entretando, tão bom como soa este argumento.

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