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Críticas

Vênus Negra

Filme exibe no Cinema da Fundação (Recife) pelo Varilux

Por Luiz Joaquim | 15.06.2011 (quarta-feira)

Parte do cinema africano con temporâneo (e em alguma medida também o europeu) parece ter certa fixação na história recente da política de colonização. O último filme de Abdellatif Kechiche, diretor que nasceu na Tunísia e tem nacio nalidade francesa, se chama “Vê nus Negra” (França, 2010), obra baseada na história real de Saartjie Baartman, que no início do século 19 foi levada da tribo hotentote para a Europa.

O filme tem esse tema fascinante que é a dominação do homem pelo homem, relatando situações em que algumas poucas pessoas afirmam superioridade em relação a outras por causa da cor da pele ou da quantidade de objetos na estante. Saartjie é convidada para Londres por um empresário, onde é exibida como uma curiosidade de circo. Ela é uma mulher negra com uma constituição física diferente das européias, tratada por isso um pouco como um bicho, sendo obrigada a grunhir na frente das pessoas, levando chicotadas quando se “comporta mal”.

Tudo isso é uma encenação para um espetáculo, uma fabulação consciente do empresário, que usa comercialmente o exotismo da sua contratada, tratando ela com um resto de humanidade. Kechiche parece querer reforçar que essa relação entre os dois, consciente ou não, faz de alguma forma parte de um panorama social maior, representando o olhar europeu dominador sobre as pessoas de suas colônias.

A primeira cena demonstra um pouco essa visão de cima para baixo dos europeus, com um médico falando da aproximação física dos negros com os macacos, sugerindo inferioridade da raça em relação ao homem branco. É um discurso clinicamente frio, um ti po de laudo médico que parece falar sobre um objeto. Várias cenas se configuram nessa estrutura, em que Saartjie é uma peça de estudo, nun ca real mente tratada como uma pessoa.

É a sensação que acompanha toda a projeção, um épico da submissão com quase três horas, com a protagonista cada vez mais degrada para prazer excessivo de pessoas brancas, ricas e entediadas. O filme parte de um estudo de personagem para algo mais amplo, um ensaio político sobre anos de dominação.

Embora essa ideia seja não apenas forte, mas adaptável aos tempos contemporâneos, parece ser o caso de discutir uma suposta estética da perversão, debater sobre as formas de en cenar a dominação. O filme é baseado na exposição explícita de um tipo de escravização, mostrando de perto a destruição de uma personagem, com closes em lágrimas enquanto pessoas ricas se divertem malignamente, batendo ou se aproveitando sexualmente, num tom algo forçado de crítica social histórica.

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