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Críticas

Estrada Real da Cachaça

Roteiro histórico e etílico

Por Luiz Joaquim | 01.07.2011 (sexta-feira)

O fotógrafo cinematográfico Pedro Urano é carioca, mas é um nome bastante conhecido, querido e respeitado aqui no universo do cinema pernambucano. Foi dele a responsabilidade pelas imagens de sucessos em curtas-metragens locais como “Muro”, de Tião, “Superbarroco” e “Praça Walt Disney”, de Renata Pinheiro, e “Faço de Mim o que Quero”, de Sérgio Oliveira e Petrônio de Lorena, além de outras obras celebradas feitas no resto do País.

É dele também o terceiro longa-metragem – “Estrada Real da Cachaça” – que exibe no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, a partir de hoje, dentro do projeto da distribuidora Vitrine Filmes, que trabalha o lançamento de títulos mais autorais dentro de um circuito comercial.

O fato deste trabalho de Urano ser de 2008, tendo sido premiado no Festival do Rio e no de Mar del Plata daquele ano, mas só agora chegando aos cinemas, torna ainda mais interessante o projeto do Vitrine. Prêmios à parte, “Estrada Real…” vale a atenção do espectador pela viagem sentimental que faz a partir de Januária, no interior de Minas Gerais, até Paraty, no Rio de Janeiro.

É um percurso histórico, carinhosamente humano e estético que Urano promove aqui. O esmero plástico nas imagens que captura (inclusive em 16mm) e ordena nesse roteiro etílico, dão mostra de sua maturidade como construtor de sentidos. Com uma montagem e edição de som particularmente ágil quando precisam ser (sem provocar tontura) e calma quando olham para o homem simples, cativam de imediato.

Um ótimo parâmetro para comensurar a qualidade de um documentário é quando, ao seu final, temos aquela impressão de que sua existência se fazia necessária há mais tempo. E é essa ideia que temos quando vemos o diretor enveredar com sua câmera pelas entranhas do Brasil, por trilhas que nos mostram, com a ajuda de depoimentos (em off) de especialistas, sobre o contexto da bebida na cultura brasileira.

Mais forte que ouvir, é ver a cultura se manifestando diante de nossos olhos. É o caso da felicidade simples das lavadeiras que Urano registra. Com seus sorrisos largos, elas cantam a destilada num refrão mais ou menos assim: “Cachaça não me traga problema, desça pro estômago, mas não suba pra cabeça”. Há também a parada em Morro Vermelho (MG) para ver a lavagem da imagem do Cristo com pinga (“para preservar a madeira”), sendo depois a mesma cachaça aproveitada pelos fieis.

Do catolicismo à umbanda, a Cachaça trafega sem preconceitos, e o aspecto social – mostrando a dependência de alguns pinguços animados (cantando “Oi, nessa casa tem goteira, pinga nim mim, pinga nim mim”) também é vislumbrando por Urano da mesma forma: com um respeito que só a proximidade permite.

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