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Festivais

35a. Mostra (2011) – dias 7

O Papa humano de Moretti

Por Luiz Joaquim | 28.10.2011 (sexta-feira)

SAO PAULO (SP) – Duas obras que vêm da Itália foram as mais procuradas na quinta-feira (e não sem razão) desta 35a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A primeira foi “Habemus Papam”, obra-prima de Nanni Moretti, que volta ao humor mordaz, 13 anos após “Aprile”. Mas, a graça é apenas uma ferramenta para falar de coisa séria.

Com “Habemus…”, Moretti faz seu público rir o tempo inteiro de forma suave, com elegância, para no final provocar um arrepio dando a medida certa do peso que seria assumir não só a liderança da Igreja Católica, uma instituição de dois milênios, mas, mais importante, a liderança de um bilhão de cristãos espalhados pelo mundo.

Quando o Conclave se reúne mais um vez para votar num nome para o novo Papa, o escolhido (Michel Piccoli, de “O Desprezo” e “A Bela da Tarde”) não suporta a pressão, tem um ataque de pânico e se recusa a fazer sua primeira aparição no balcão na Praça de São Pedro. Ele não se acha apto para ocupar a função divina. O Vaticano, então, decide chamar o melhor psicanalista da Itália (Moretti) para resolver o problema.

Como se não bastasse a piada da terapia papal, “Habemus…” só faz melhorar a cada minuto, seja pela sátira aos teatrais rituais da Igreja, seja pelo confronto do terapeuta com os preceitos da fé católica, ou ainda ao mexer com o brio dos cardeais envolvendo-os num jogo de vôlei (!). Apesar das loucuras, Moretti é respeitoso, pois, no final, como dissemos, a questão que lhe interessa é salientar que o mundo mudou, e até um Papa precisa perceber isso.

O outro destaque italiano foi “Irmãs Jamais”, de Marco Bellocchio. Diferente do seu sucesso anterior, “Vincere” (2010), seu novo trabalho é quase um sussurro no ouvido do espectador. Trata-se de uma quase autobiografia, quando Bellochio conta a história de uma família na pequena vila de Bobbio, entre 1999 e 2008.

O primeiro foco está em Elena, de cinco anos, que é cuidada pela duas velhas tias (irmãs de Bellochio na vida real) de sua mãe Sara, que vive em Milão tentando ser atriz. Enquanto isso, o tio de Elena vive fugindo de credores e recriminando a irmã pela insistência em deixar Bobbio. A fotografia, que aposta em sequencias escuras, mais os diálogos coloquiais, terminam por criar uma atmosfera de forte intimidade com aquela família, que poderia mesmo ser a nossa. A 35a Mostra de SP encerra próximo dia 3.

*Viagem a convite da Mostra

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