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Festivais

44o. Brasília (2011) – noite 5 e 6

A catarse de Navarro em Brasília

Por Luiz Joaquim | 03.10.2011 (segunda-feira)

BRASILIA (DF) – Antes de tudo, o que se lê na abertura de “O Homem que Não Dormia”, segundo longa-metragem de Edgar Navarro, exibido sexta-feira em competição aqui no 44o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é a seguinte frase, em letras gigantes: “Seja cristão ou não, receba no coração”.

A expressão é eficaz. Não está ali gratuitamente (nada está, neste filme de Navarro). Ela de fato cumpre a função de antecipar a catarse que o filme quer apresentar, caminhando temática e narrativamente por uma trilha não fácil de assimilar.

É um caminho difícil exatamente pelo seu teor de superação a um sincretismo religioso estabelecido e posterior chegada a um estágio de compreensão da vida onde o que sobra é a “compaixão e a concordância”, como bem dissera Navarro em entrevista no dia seguinte; ou na sua apresentação antes da projeção: “o filme é uma caminhada do inferno ao paraíso”.

O diretor do clássico “Superoutro” (1989) tem comentado que o longa anterior “Eu me Lembro” (sete Candangos no Festival de Brasília 2005) soou como a construção consciente de seu passado, enquanto o trabalho no novo filme é a tentativa de estruturar em uma história as várias inferências que o cineasta vivencia desde 1978 (quando surgiu a idéia de ‘O Homem…’) e mesmo com possíveis vidas passadas, segundo Navarro.

No cerne da estrutura dessa história, Bertrand Duarte (de “Superoutro”) é o padre Lucas, atormentado com suas incertezas num local remoto do interior da Bahia. Ao mesmo tempo, um velho misterioso (Luiz Paulino do Santos) chega à localidade e sua proposta conexão espiritual, numa outra vida, com um assassino (Navarro) mexe com o comportamento da população do vilarejo. Entre eles, o louco Pra frente Brasil (Ramon Vane), uma morena faceira (Mariana Freire), e a esposa (Evelin Buchegger) de um coronel (Fernando Neves).

Nesse processo, todos experimentam uma espécie de libertação da mediocridade humana, sendo o mais simbólico de todos a do Pe. Lucas, que ao vivenciar uma revelação divina que o faz desvencilhar-se das dúvidas sobre o amor, ele é, literalmente, levado aos céus. E considerando essa “missão” de Navarro em traduzir tal mistério através do cinema, pode-se dizer que “O Homem que Não Dormia” é o filme de sua vida.

Na noite de sábado, concorreu o frio longa “Meu País”, de André Ristum, sobre o retorno ao Brasil de um executivo que mora na Itália (Rodrigo Santoro), por conta da morte do pai (Paulo José). Nisso ele reencontra o caçula irresponsável (Cauã Reymond) e descobre uma irmã (Débora Falabella) bastarda de limitacões mentais.

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