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Festivais

5o. CineBH (2011) – fim de semana

Teses sobre maldade e prostituição

Por Luiz Joaquim | 03.10.2011 (segunda-feira)

BELO HORIZONTE (MG) – A Mostra Cine BH chega neste ano à quinta edição e fortalece um interessante perfil, apresentando-se como um festival interessado em debater o mercado do cinema, em especial assuntos que poucas vezes chegam ao grande público: produção, difusão e detalhes de políticas de incentivo ao cinema.

Há também curtas e longas-metragens, e embora o Cine BH pareça prejudicado por sua colocação no calendário, sendo um dos últimos festivais do ano, trazendo por isso filmes que já foram exibidos em outros eventos, há um interessante direcionamento, ressaltando filmes nacionais de realizadores jovens e longas internacionais que passaram por festivais como Cannes ou Veneza.

Dois filmes internacionais foram exibidos no segundo dia do festival, no sábado à noite, no Cine Santa Tereza. “As Más Intenções” (Peru, 2011), primeiro longa-metragem de Rosario Garcia-Montero, e “L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância” (França, 2011), de Bertrand Bonello, que concorreu à Palma de Ouro de Cannes deste ano.

O trabalho de Rosário trata de histórias mínimas dentro de um contexto político que nunca é detalhado no filme: os anos 1980 no Peru, período de baixa econômica e atos descritos como “terroristas”. Há um cuidado em deixar a política fora do quadro, evidente apenas como uma permanência opressora que move os personagens.

Dentro desse panorama social está o olhar infantil de Cayetana, menina jovem e bastante mimada que, quando a mãe regressa de viagem depois de alguns anos, mostra sinais claros e quase sempre cruéis de maldade. É um retrato que parece sugerir a semente do mal na juventude de famílias ricas cercadas por trabalhadores pobres de pele escura.

São algumas boas ideias que não alcançam algo maior por certas deficiências técnicas e, mais para o fim, de roteiro. Há um bom tratamento rústico da idéia de “cartão postal de terceiro mundo”, que em seguida desaparece para dar espaço para a imaginação de Cayetana, embora o filme pareça não ter orçamento para isso, um pouco como uma versão com menos dinheiro de “Labirinto do Fauno”.

O filme de Bertrand, que tem estreia nacional marcada para o dia 21 deste mês, ao contrário, mostra logo nas primeiras imagens um forte poder de fascínio. Há uma incrível organização visual, um pouco como pinturas de época, do fim do século 19, narrando a história de um grupo de prostitutas francesas. Bertrand parece ter uma curiosidade voyeur sobre o cotidiano delas, criando uma narrativa dividida entre técnicas de limpeza e de paciência para aguentar perversões sexuais e pequenos momentos da rotina.

Uma delas é desfigurada por um homem durante algo que parece um pesadelo sexual. Ela fica com cicatrizes no rosto, simulando um sorriso constante, e o filme nos mostra como aconteceu, com algum prazer. A plateia vira o rosto, indício discreto de cinema de horror. Outras cenas têm também carga pesada desse submundo do sexo, uma violência que não é apenas física, sendo talvez por isso uma degradação ainda mais difícil de acompanhar sem reagir.

Não há qualquer aprofundamento nesses personagens masculinos, um pouco como sombras que surgem e vão embora apenas para satisfazer desejos sexuais. A permanência é a das prostitutas, tratadas entre si talvez como modo de sobrevivência com delicadeza sem exageros, e essas parecem as melhores cenas do filme.

Mais para o fim entra um desagradável discurso moral que parece apontar uma tese sobre o estado das coisas na França contemporânea, fechando o filme dentro de uma única forma de compreensão.

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