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Críticas

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Um Batman em crise

Por Luiz Joaquim | 27.07.2012 (sexta-feira)

E finalmente o espectador brasileiro terá acesso ao encerramento da trilogia do homem-morcego concebida pelo diretor Chistopher Nolan. Depois de uma semana ouvindo a tragédia cometida pelo estudante de medicina James Homes, que matou 12 pessoas numa sessão de pré-estreia do filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (Batman: Dark Knight Rises, EUA, 2012) no estado americano do Colorado, os fãs locais do herói poderão dizer se valeu a pena a espera de quatro anos desde o filme anterior – “O Cavaleiro das Trevas”.

O novo filme estreia hoje em mais de 800 salas de cinema no País, fechando um ciclo cuja Warner Bros, pelas mãos de Nolan, buscou resgatar o lado soturno desta figura amargurada chamada Bruce Wayne, criada por Bob Kane (1915 -1998) em 1939 e popularizado até hoje pela DC Comics. Na primeira investida, “Batman Begins” (2005), Nolan conseguiu impressionar pela riqueza de detalhes do qual cercou-se para contar a origem e formação do Homem-Morcego, assim como desenhou uma nova paisagem para Gothan City, bem diferente daquilo que o cinema mostrara até então.

Bale também emprestou prestígio e qualidade ao herói, que aparecia ali, quando mascarado, com uma voz cavernosa, ajudando ainda mais o visual sombrio escolhido para lhe cercar. Para ajudar, atores de ótimo calibre como Michael Caine (o mordomo Alfred) e Gary Oldman (como Comissário Gordon) reforçavam a carga dramática que Nolan e seu irmão, Jonathan, impuseram ao roteiro.

Em 2008, no segundo filme, Nolan contou com um trunfo (e uma tragédia) que nem ele se dava conta. A presença de Heath Ledger como o Curinga, e seu posterior falecimento mesmo antes da estreia do filme. A performance de Ledger roubou a cena em “O Cavaleiro das Trevas”, dando a figura de Batman ainda mais nobreza em função exatamente de ter contra ele um vilão espirituoso, inteligente, humorado e com instigando dubiedade entre o que era o bem e o mal. A frase “Por que tão sério?”, do Coringa, tornou-se um bordão para muitos em todo o segundo semestre de 2008.

E aí chegamos a um dos problemas neste novo “Batman Ressurge”. O filme perde fôlego com o vilão Bane (Tom Hardy) que, como é dito a certa altura por um personagem, é “a pura encarnação do mal”. Bane, era um integrante que foi expulso da Liga das Sombras – a mesma que treinou Wayne para ser Batman no primeiro filme.

Apresentando como um monte de massa muscular usando uma máscara de metal na boca, que deixa sua voz ainda mais gultural que a do Batman, Bane quer destituir o poder dos políticos e da polícia de Gothan e falsamente “devolvê-la” ao povo. Para isso, apropia-se de uma tecnologia criada pela empresa de Wayne e a converte em forma de arma atômica para usar como ameaça.

Tudo isso acontece num contexto em que Wayne está oito anos recluso em sua mansão. Ele pendurou a máscara em função da acusação de o Homem-Morcego ter assassinado o querido promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart, no segundo filme), além de viver um luto pela amada Rachel (Maggie Gylennhaal).

Nesse contexto, surge a ladra Seline (Anne Hathaway, com poucos encantos dramáticos) que num jogo de gato e rato (ela é a gata), termina por ajudar o Cavaleiro das Sombras. Surge também o jovem policial Blake (o bom Joseph Gordon-Levitt) órfão como Wayne e igualmente sedento por justiça. Blake é uma boa surpresa, que vai crescendo no filme até mais que a própria mulher-gato e Batman.

E aí chegamos a outra questão neste “Batman Ressurge”. O filme abre muito mais espaço para Bane, Blake e Seline (nessa ordem) – há ainda a executiva Miranda (Marion Cotillard) – e menos para o protagonista. São poucas, e pouco empolgantes, as cenas de luta do mascarado. E são
muitas, e pretensiosas, as explicações em torno do plano malévolo de Bane. Explicações que podem cansar o espectador ao longo dos seus 164 minutos de duração.

Não é a toa que, aqui, os melhores momentos dramáticos ficam por conta de Michael Cane, como um Alfred preocupado com o patrão voltar a tomar gosto na perigosa função de salvar Gothan City, e no espírito de justiça pura que o jovem policial Blake alimenta. Quando o melhor de um filme sobre Batman está no seu mordomo e num aprendiz da lei é porque algo não deu certo.

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A bat-linha do tempo

Batman (1966)
A tele-série criada pela rede de TV norte-americana ABC criou nos anos 1960 um Batman carregado com a psicodelia própria da época, e abusava de onomatopéias, cheias de “POW!” e “KABUM!”, ilustrando as sequências de lutas. Foi ali que o Homem-Morcego, sempre ao lado do garoto prodígio Robin, ganhou fama pela sua sexualidade duvidosa. Por três gerações, Adam West foi a referência audiovisual de muita gente para o homem-morcego. A música tema criada por Nelson Riddley vive até hoje na cabeça dos fãs.

Batman (1989)
Havia uma excitação entre os fãs do herói. Era a primeira vez que Hollywood ia dedicar uma fortuna para levar o mascarado às telas. O diretor Tim Burton, recém celebrado por “Os Fantasma se Divertem”, ficou com a honra e chamou seu ator Michael Keaton para encarnar Batman, o que de cara desagradou os fãs. Por outro lado, Jack Nicholson deu ao Curinga uma perfomance memorável, e ainda tinha a bela Kim Bassinger como Vicki Vale de par romântico, o que obrigou Keaton a usar salto alto. O melhor do filme, entretanto, foi a trilha sonora de Prince.

Batman: O Retorno (1992)
Tim Burton assume a sequência e, Michael Keaton volta a por a máscara e a capa negra. Mais uma vez os vilões roubam a cena. Como Pinguim estava muito à vontade Danny DeVito, e a linda Michelle Pfeiffer era a Mulher Gato, com seus inesquecíveis “miau” e suas lambida.

Batman Eternamente (1995)
A Warner Bros acorda e resolve entregar a direção da franquia a Joel Schumacher. Assumidamente gay, Schumacher trata de mudar as vestimentas do herói para látex e não tem o menor pudor em dar um close da bunda de Val Kilmer, o novo herói, agora mais másculo. Para garantir o sucesso, o estúdio contrata uma constelação de estrelas: Jim Carrey assume o Curinga, Nicole Kidman é a psicóloga Chase e Tommy Lee Jones o Duas Caras. Robin, para a diversão de Schumacher, entra em cena na pele de Chris ODonnell.

Batman & Robin (1997)
Schumacher volta a direção do herói, mas Val Kilmer pula fora do mico. O convite para dar corpo a Batman vai para o ator em ascensão da telesérie “Plantão Médico”, George Clooney. Chris ODonnell ainda é Robin, e a Warner mais uma vez tenta a garantia de sucesso com novas estrelas como vilões: Arnold Schwarzenegger é a grande curiosidade do filme, como o Sr. Gelo. Uma Thurman vira Hera Venenosa e surge a Batgirl na pele de Alicia Silverstone.

Batman Begins (2005)
Passam-se oito anos até a Warner decidir dar uma nova cara ao Homem-Morcego. O plano era restaurar a original atmosfera lúgubre do herói nos HQs e sua origem conturbada. O diretor Christopher Nolan, que chamara atenção com a engenhosidade de “Amnésia” e o drama “Insônia”, é o nome pensado pelos estúdios. O projeto é grandioso em todos os sentidos, e Nolan pensa primeiro em bons atores para – além da ação – dar força a dramaturgia do enredo. Christian Bale assume o mascarado, Michael Cane é o mordomo Alfred, Gary Oldman é o Comissário Gordon, Morgan Freeman é Lucius Fox, Katie Holme faz o par romântico e Cillian Murphy é o vilão Espantalho.

Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
Depois da aprovação do novo e mais fiel universo do herói para o cinema, Christopher Nolan retorna e tem um trunfo na manga. O ator Heather Ledger, que robou a cena como o Curinga, dando ao personagem mais sofrimento que êxtase, mas dúvidas que certezas. A morte prematura de Ledger, deixou a estreia do filme, meses depois, ainda mais curiosa. Aaron Eckhart aparece como o duas caras e Maggie Gyllenhaal era Rachel, o amor do mascarado, em sua melhor perfomance dramática. Uma atração nas cenas de ação era o veículo batpod.

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