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Entrevistas

Entrevista: Cláudio Assis (Big Jato)

Cláudão: -Eu sempre tive amor pelas pessoas-

Por Luiz Joaquim | 26.09.2015 (sábado)

Tendo saído vitorioso do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro com seu novo filme, “Big Jato” – adaptado da obra de Xico Sá – Cláudio Assis deu a volta por cima de uma recente polêmica envolvendo seu nome. Teve lá a voz calada por vaias na primeira apresentação pública do filme para o País, mas seu talento falou mais alto que estas vaias e o cineasta, natural de Caruaru, voltou a conquistar a simpatia com uma história que fala sobre a formação de um jovem poeta, de um espírito livre, assim como o seu. Nessa entrevista exclusiva ao CinemaEscrito / Folha de Pernambuco, feita ainda em Brasília, Claudão conta sobre a experiência de trabalhar com crianças e adolescentes e o impacto da obra de Xico Sá sobre si mesmo.

Seu novo filme roda numa rotação mais suave, focando uma família com adolescentes e crianças. Pode comentar essa novidade em sua filmografia?

Não tem novidade. Cada filme é um filme. Todos os meus filmes têm algo plugado no social, e o que fazemos aqui é falar sobre a formação e nascimento de um poeta. Nós tentamos ir pro lado da fábula. Uma fábula sertaneja. A gente tem uma responsabilidade aqui que é traduzir algo que é do Xico Sá; mesmo que não seja uma autobiografia, mas sim uma semi-biografia. E a responsabilidade está aí. A gente tem [no roteiro] Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco, uma menina que ta começando agora, além do Xico Sá. Bom, para trabalhar com esses nomes é preciso responsabilidade. Outra coisa [para se ter cuidado] são as crianças. Temos um menino de 11 anos, que é o Francisco [Assis Moraes, filho de Cláudio com Júlia Moraes], a Clarice [Fantini], de 8 anos, o Rafael [NIcácio], de 16 anos, e os outros jovens que estão na casa dos 20 anos. A história chama a atenção por causas desses jovens. Mas isso de dizerem que agora eu estou sendo doce e coisa e tal… eu sempre tive amor pelas pessoas. Mas meu cinema tem de ter denúncia, tem de chamar para pensar, refletir. É [meu cinema] uma contribuição pra pensar a sociedade.

De qualquer forma, trabalhar com criança e adolescente é algo novo pra você. Algum método diferente?

Olha, não. Eu não… Vou contar uma história. Um dia fui numa sessão, assistir uma Mãe de Santo por insistência de uma pessoa próxima. Nem sou disso, mas fui lá. E a Mãe de Santo recebeu um espírito. E era um caboclo brabo danado (risos). Mas eu só fazia tirar brincadeira. Brinquei, brinquei, brinquei. Até que o espírito lá cansou, aí ele me olhou sério é disse: “Você vai ser eternamente criança. Seu santo é Cosme e Damião”. Eu saí de lá numa felicidade enorme! Então, o meu modo de tratar com criança é muito bacana. Pra mim não há problema trabalhar com elas. A Maeve [Jinkings] fez uma preparação com o núcleo de adolescentes e crianças por uma semana. Foi pouco, não tínhamos dinheiro. Mas não tivemos problemas com elas [as crianças]. Tenho inclusive um projeto de um filme infantil com Paulo Lins. Tá hibernando, mas vamos fazer. A ideia não morreu. Chama “Criação de Um Novo Mundo”.

E o seu interesse pelo livro do Xico Sá? O que há de fascinante ali para você? De certa forma ele retrata também sua história, não é verdade [Cláudio é natural de Caruaru e veio jovem para o Recife]?

Meu foco e interesse aqui estavam na luta do personagem. Porque o Xico é um guerreiro. Trabalhou em livraria, morou na Casa do Estudante [do Recife, no Derby], veio do Ceará pra Pernambuco em busca de um sonho. E eu saí de Caruaru porque eu não me cabia ali. E também vim atrás de um sonho. Não abri mão dele e a gente tem isso em comum. E ele [Xicó] é padrinho de meu filho. Juntos temos um foco em comum que é conquistar o que sonhamos. Hoje, Xico não é apenas um jornalista, é um escritor.

PRÊMIOS – “Big Jato” levou no Festival de Brasília os prêmios de melhor filme, ator (Matheus Nachtergaele), Atriz Marcélia Cartaxo), roteiro (Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco), e trilha sonora (DJ Dolores).

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