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CinemaEscrito #3: problema do século 20

Coluna “Cinema Escrito” #3: “Ei, o microfone tá aparecendo!” – sobre problemas de 13 anos atrás.

Por Luiz Joaquim | 20.03.2017 (segunda-feira)

Antes do site CinemaEscrito.com vir ao mundo em maio de 2007, sua identidade existiu por brevíssimas cinco semanas em 2004.

No início daquele ano, o JC Online, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (Recife), nos convidou para assinar uma semanal coluna online sobre cinema, na qual teríamos liberdade para definir seu perfil e também batizá-la.

Assim nasceu a coluna ‘Cinema Escrito’, cuja primeira publicação aconteceu em 20 de fevereiro de 2004. Naquele momento, decidimos montar a coluna abrindo com um texto reflexivo sobre aspectos comportamentais, estéticos, técnicos ou do mercado cinematográfico. Atrelado a este texto, algumas notas rápidas e pontuais sobre tópicos circunstancial do cinema no mundo.

Quase todos eles voltavam-se para aspectos atemporais dessa arte, podendo oferecer a mesma força (ou uma força próxima) sobre as reflexões que ofereceu há 13 anos.

No caso da questão avaliada pelo texto abaixo, ela não é mais passível de acontecer nas projeções digitais no formato DCP (Digital Cinema Package), estabelecidas como padrão nos últimos cinco anos para as salas profissionais de cinema.

Semana 3 – 12 de março de 2004

– “Ei! O microfone tá aparecendo!”

Quantas vezes você já se deparou, ao ver um filme no cinema, com um microfone pendurado no topo do enquadramento? Antes de questionar a competência do diretor saiba que o problema pode ser resolvido por você mesmo.

Já estou cansado (e sei que você também) de ir ao cinema e, uma vez lá, confortavelmente sentado e apreciando aquela coisa toda, ser tomado abruptamente pela invasão de um microfone no quadro. Sim. Sem aviso, mais do que de repente, surge o ‘boom’ (pra ser mais técnico na nomenclatura dessa peça), seguindo a cabeça dos atores para onde quer que eles se movam.

Aí começa um levantar de braços da plateia, um por um, com o dedão em riste apontando para a peça intrusa, geralmente no topo da imagem. Em seguida iniciam os comentários do tipo: “Esse diretor é uma anta!”, ou “Como é que o cara filma há dez anos e deixar uma porcaria dessa acontecer?”, ou ainda “Um filme tão caro… e com um defeito desses…”.

O último comentário já deveria lhe deixar com uma pulga atrás da orelha, não? Afinal, você realmente acredita que num projeto que custa entre 20 e 60 milhões de dólares (pra falar dos ‘medianos’ hollywoodianos), com uma equipe técnica de, por baixo, 200 pessoas, e que nenhum desses 400 olhos envolvidos iriam observar uma falha grosseira como essa?

O fato é que na maioria das vezes (não sempre), o problema não está na captação da imagem e sim na projeção. É exatamente lá atrás, na cabine de onde sai a projeção do filme, que o problema nasce.

O espectador comum de cinema, que vai lá só pra ver um filminho legal no escuro, geralmente não se dá conta que esse meio trabalha com formatos (vamos chamar de ‘janelas’) de projeção diferentes. Pra você entender tudo, segue um pouquinho de história: logo quando nasceu, lá pelos idos do século XIX, o cinema se mostrava num enquadramento de proporção 1:1,37 (um para um e trinta e sete). A largura era quase ¼ maior que a altura do quadro. Quando veio o som no cinema (isso rende outro texto para a coluna), a banda sonora – que é onde fica / ficava gravado, todo o registro sonoro do filme, passou a ocupar um espaço físico na extensão da película, por isso a proporção da imagem baixou para 1:1,33. Ou seja, o formato retangular do cinema havia diminuído ainda mais.

Chega os anos 1950 e, junto com ele, a TV já popularizada na casa dos norte-americanos. Para continuar no páreo contra esse violento concorrente no mercado de entretenimento, a indústria cinematográfica encomenda estudos para tornar o cinema ainda mais atraente e oferecer algo que a TV não podia dar. Criam-se então novos formatos e maneiras de captar e projetar imagem, de forma que ela se apresente ao publico de um jeito mais  colossal e impressionante, em toda sua gigante beleza visual.

Para resumir, os três formatos que predominam nos cinema de hoje são o 1:1,66 (um padrão ainda usado, principalmente na Europa); o 1: 1,85 (o preferido de Hollywood) e o 1: 2,35 (obtida pela técnica do Cinemascope; que nos DVDs vemos intitulado de ‘formato Widescreen’).

E O MICROFONE NA TELA? – Bom. Ao você flagrar o boom no teto cenográfico da imagem é porque aconteceu de o projecionista do cinema ter ajustado errada a abertura da janela no projetor. Ou seja, o filme foi rodado num formato 1:85 (para uma janela mais larga que alta) e o projecionista ajustou a janela 1:66 (que ganha na altura e perde na largura). Ou seja, neste caso, temos espaço sobrando no teto e no roda-pé da imagem, daí a incômoda presença do boom em cima ou embaixo da tela. E, como se não bastasse, ainda fica faltando imagem na direita e na esquerda do quadro.

Normalmente, num erro de projeção assim, o boom aparece lá em cima, mas num set de filmagem surreal, como naquele do ‘meio-andar’ de um edifício maluco do filme (foto acima) Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich, EUA, 1999), de Spike Jonzen, lembro de ter visto (por conta de uma sessão com a projeção errada) o microfone  no pé dos atores. Isso porque o teto do andar era intencionalmente mostrado na imagem, para o espectador ter a noção de quão baixinho era o ‘meio-andar’,

Aproveito para perguntar se você alguma vez já flagrou o microfone aparecendo em algum filme exibido pela TV? Não, né? Isso lhe diz alguma coisa? Bem… Comentamos em outro ‘cinema escrito’. E espero que, agora, quando avistar o boom na tela do cinema, você ao menos não esculache o diretor do filme e vá reclamar com o projecionista.

RÁPIDAS

– Brad Pitt, DiCaprio & Scorsese

Com foco numa gang internacional de Hong Kong, a produção Infernal Affair contará a história um policial disfarçado na marginalidade oriental, e de um membro da gang oriental (Brad Pitt) infiltrado na força policial do ocidente. A Warner Bros. está cantando Scorsese para dirigir, e Scorsese (que produzirá o longa) está cantando Leonardo DiCaprio para interpretar o tira.

Cannes 2004

O Festival de Cannes anunciou que fecha a 57ª edição (12 e 23 de maio)  com De-Lovey (EUA, 2004), de Irwin Winkler. O filme, que é a biografia do compositor Cole Porter, tem como estrelas Kevin Kline e Ashley Judd. A produção terá na França sua premiere mundial, no dia 22, antecedendo o anúncio dos vencedores pelo presidente do júri Quentin Tarantino. O evento fecha num domingo com a exibição da Palma de Ouro dessa edição.

cannes2004

Sofia Coppola e Quentin Tarantino no 57º Fest. de Cannes

Mais Cannes 2004

Quem abre Cannes nesse ano é Almodóvar com La Mala Educación (Espanha, 2004). Na seleção oficial do evento, pelo menos três ganhadores da Palma de Ouro terão filmes prontos para passar pelo crivo de Thierrry Fremaux, diretor artístico do festival. São eles Emir Kusturica com Life is a miracle, Mike Leigh (com filme ainda sem título) e Abbas Kiarostami com Dedicated to Ozu. Especialistas já apostam como prováveis competidores neste ano Zhang Yimou com House of the flying daggers, Youssef Chahine com Alexandria New York, Jean-Luc Godard com Notre musique, Rebecca Miller com The rose and the sanke, Sally Potter com Yes, Gianni Amelio com Le chiavi di casa, Spike Lee com She hates me, Wim Wenders com Land of plenty, Danny Boyle com Millions e Carlos Saura com The 7th day. Representando a França podem entrar Olivier Assayas com The works’,  Arnauld Desplechin com Rois et reine, Christophe Honore com Ma mère e François Ozon com 5×2.

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