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Críticas

Missão: Impossível – Efeito Fallout

O que falta de dramaturgia sobra em ação. E isso, aqui, não é um problema.

Por Luiz Joaquim | 26.07.2018 (quinta-feira)

Pode soar torturante para alguns, talvez muitos, críticos de cinema tecerem um elogio direcionado à Missão: Impossível – efeito fallout (Mission: Impossible – fallout, EUA, 2018), o sexto filme da franquia com Tom Cruise no papel do agente secreto Ethan Hunt. Mas ele, o elogio, é possível de ser feito.

Antes de qualquer afirmação, vale um reforço sobre um conceito: a ideia do que é bom e do que é ruim – que é a grande inimiga de uma crítica de cinema – não deve entrar aqui, em campo, pois caso entre os critérios da avaliação vão para o espaço; passando a ser o norte da crítica pautado pela comparação. Daí, vale perguntar: qual o sentido de comparar MI-6 com, por exemplo, Luz de inverno, de Ingmar Bergman. Seria estúpido em diversos níveis.

Para permitir-se fazer algum elogio a este 6º parque de diversão em forma de filme capitaneado por Cruise – dirigido mais uma vez por Christopher McQuarrie (que Cruise conheceu há dez anos, como roteirista em Operação Valquíria) e produzido por J. J. Abrams (que dirigiu o MI-3, seu primeiro longa-metragem como diretor) -, é preciso entender que o objetivo desta obra é entreter. E o filme não apenas entretém. Ele entretém bem.

Claro que, quando nos detemos sobre a estrutura do roteiro e qualquer outro ponto que diga respeito a ‘fazer sentido’ em MI-6, vamos mergulhar num oceano de clichês, incongruências e soluções já gagás dadas infinitas vezes pelo cinema (uma falha que não deixa de ser curiosa, uma vez que McQuarrie ganhou um Oscar pelo roteiro de Os suspeitos, 1995). Daí cabe uma outra pergunta: Este oceano faz da obra um filme questionável? Como resposta é certo um ‘sim’, longo e sonoramente grave.

Mas, ao relevar toda a baboseira escrita para justificar as cenas de ação em MI-6, chegamos num grau de envolvimento – este sim, um artifício fundamental num filme de ação, para entreter – que é competente. E o tal grau de envolvimento é aqui costurado por outras não menos competentes contínuas e contínuas sequências de ação.

Filmes assim, sem nada a oferecer além de mirabolantes cenas de aventura, pautam sua publicidade quase que exclusivamente sobre o set de filmagem em lugares luxuosos ou exóticos, sobre as tomadas absurdas e, nessa franquia em particular, nas cenas perigosas feitas pela estrela Cruise. Não à toa, desde janeiro a mídia vem irradiando infos sobre as estripulias do ator, com ênfase no seu tornozelo quebrado ao saltar de um prédio a outro em Londres, e da sequência em que pilotou ele próprio um helicóptero.

Guardada como ápice do filme, a sequência realmente impressiona e todos da equipe tanto sabiam que impressionariam que já na música de abertura de MI-6 – com a famosa melodia criada pelo argentino Lalo Schifrin – escuta-se o som de helicóptero integrado à canção.

O ENREDO – Beira ao patético, no início do filme, a maneira como é passada a informação sobre a nova missão designada a Ethan Hunt. Ela vem por um filme escondido numa edição de Odisseia, de Homero. O patético está no volume de explicações desinteressantes e quase desarticuladas que o tal filminho passa ao agente secreto da IMF (e para nós, espectadores).

Ao espectador basta saber que Hunt e sua turma – Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg) – precisam resgatar três cargas de plutônio, que seriam vendidas para um grupo terroristas (de nome ‘Os Apóstolos’) pelo mercado negro com a ajuda do assassino Lark (Liang Yang) e da contrabandista Viúva Branca (Vanessa Kirby).

‘Os Apóstolos’ pretendem usar o plutônio em armas nucleares e, claro, destruir o mundo. Para isso contam com a ajuda do malvadão Solomon Lane (Sean Harris), que aprontou também no filme anterior, MI-5: Nação secreta (2015).  Há ainda a presença de um agente da CIA, Walker (o atual Superman, Henry Cavill), que foi designado a acompanhar Hunt nesta missão.

E só.

Todo o resto diz respeito à velha caça entre gato e rato. E nisto McQuarrie acerta. Só para citar três ilustrações dessa caça, há um magnético balé de automóveis numa perseguição pelo trânsito parisiense; há uma corrida pelos telhados londrinos fotografada com capricho tecnológico; e há a já famigerada e impressionante sequência do helicóptero, que faz o espectador remexer na poltrona do cinema.

Esse remexer é, exatamente, o que MI-6 almeja desde o início. Nada mais.

 

Leia sobre Missão: Impossível – Protocolo fantasma (2011) clicando aqui.

Leia sobre Missão Impossível 3 (2006) clicando aqui.

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