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Críticas

Top Gun: Maverick

Cruise não mais “tira o fôlego” da mulherada pela beleza, mas ainda estimula palmas em cena aberta.

Por Luiz Joaquim | 25.05.2022 (quarta-feira)

Curioso observar como astros sessentões (ou setentões) de Hollywood, interessados em reviver personagens que lhes marcaram a carreira na juventude, recorrem a um caminho comum: o de se colocar como mentor de uma nova geração – seja ela representada pelo filho do velho personagem ou algum jovem protegido dele – e, daí, realçar que o estilo old school de resolver problemas deve ser respeitado, podendo ser inclusive o melhor (ou o único) caminho.

De Stallone, com o seu Creed (2016), a Bruce Willis, em Duro de matar: Um bom dia para morrer (2013), só para ficarmos em dois exemplos, o molde é o mesmo.

Nesta semana, o herói sessentão que revisita o passado é Tom Cruise, na pele do Maverick de Top gun: Ases indomáveis (1986), que, à época, com 24 anos de idade, usando seu casaco de couro, seu jeans apertado e os óculos de aviador, pilotando motos e aviões-caça da marinha norte-americana, tirou o fôlego da mulherada (Take my breath away era a canção pop que colou naquela geração e ainda levou o Oscar).

Em Top Gun: Maverick (Idem, EUA, 2022) – estreando nos cinemas do mundo nesta semana – há, claro, o desafio que abre a porta para as cenas de ação, mas a cola que dá a liga da comoção humana passa pelo impasse em que Maverick (Cruise) se coloca: aprovar ou não aprovar o jovem piloto Rooster (Miles Teller) para uma missão praticamente suicida.

Teller como Rooster, ponto chave para sustentar o drama do filme,

Maverick sabe que Rooster tem poucas chances de ser exitoso, e o coerente seria não aprová-lo, mas a não aprovação selaria uma inimizade indesejada por Maverick, uma vez que Rooster é o filho de Goose (Anthony Edwards), parceiro de Maverick morto em combate no passado (no filme de 1986), e cuja morte ainda hoje assombra, em forma de culpa, o personagem de Cruise.

É este impasse, inclusive, que rende a grande cena do novo Top Gun. No caso, um reencontro de Maverick com o parceiro Ice (Val Kilmer), hoje um almirante condecorado que não consegue falar por complicações na garganta.

O momento é particularmente tocante quando se sabe que Kilmer se recolheu da carreira de ator por conta de uma longa batalha contra o câncer na garganta, que o obrigou a fazer uma traqueostomia. A história pode ser conhecida com mais detalhes pelo documentário autobiográfico Val, disponível no Prime Video (veja aqui).

Para a breve cena de diálogo vocal entre Maverick e Ice no novo filme, o timbre de voz de Kilmer foi recriado artificialmente a partir de arquivos de áudio do ator.

Já o desafio para a ação é um grande MacGuffin hitichcockiano. Explicamos: os ases da aviação bélica do filme precisam abrir um buraco num depósito de urânio escondido por um país pária qualquer e, segundo depois, jogar uma bomba lá dentro para que a paz mundial possa reinar.

Neste filme de 2022, o vilão não tem nem mais nacionalidade, muito menos personalidade. A luta aqui é para invalidar uma matéria prima que pode gerar uma arma poderosa. E todo envolvimento sugerido à plateia em Top Gun: Maverick consiste em dizer a ela que a missão é quase impossível de ser realizada.

Quase.

Como diz o próprio Maverick, “serão precisos dois milagres consecutivos” para serem exitosos. O filme promove uns quatro “milagres” desafiadores da física e da condição humana.

A competência do filme está, portanto, na capacidade de convencimento sobre essa impossibilidade da missão para, depois, desdize-la em forma de cenas de ação belamente orquestradas, registre-se, com um desenho de som que acena para o Oscar de 2023.

Na sessão de Top gun: Maverick vista por esse crítico que aqui escreve, a plateia aplaudiu em cena aberta por cinco vezes. Prática pouco habitual hoje, mais bastante comum em sessões de filmes de aventura até os anos 1980 (curiosamente, a década do filme anterior).

Nesse sentido, Cruise (também produtor aqui) e sua turma, como o diretor Joseph Kosinski, são competentes em entregar exatamente aquilo que o seu público, o de Top gun: Ases indomáveis, e os fãs do astro desejam.

Penny (Connelly) como novo par romântico de Maverick (Cruise)

Incluindo aí cenas aleatórias de Cruise novamente pilotando uma moto, ainda usando o seu casaco de couro, seu jeans apertado e os seus óculos de aviador; ou, ainda, a briga regada a testosterona sobre quem é o melhor aviador da equipe; ou, também, a sequência de um partida de futebol americano na praia, com Maverick e os seus descamisados alunos, 30 anos mais jovens que ele, todos banhados por uma cuidadosa luz dourada.

Só não tem, nessa edição, o Take my breath away como fundo musical, no par romântico de Maverick com Penny (Jennifer Connelly), talvez porque hoje a mulherada não perca o fôlego com facilidade.

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