X

0 Comentários

Festivais

91. Oscar (2019) – papo reto

O CinemaEscrito dá a real, em um parágrafo, sobre cada um dos oito indicados ao principal prêmio da noite

Por Luiz Joaquim | 23.02.2019 (sábado)

Amanhã (domingo, 24/2), é noite de Oscar, sua 91º edição, e cinéfilos do mundo inteiro deverão dar uma parada ainda que rápida, em algum momento, pra dar uma olhadinha no que vai acontecer.

Estamos naquela época do ano em que todo mundo é crítico de cinema. Todos fazem suas apostas e depois esquecem de tudo o que viram e disseram. Ainda assim, o CinemaEscrito resolveu deixar registrado algumas pontuações sobre os oito indicados em principal prêmio da noite – melhor filme – desta edição de 2019.

O texto de cada filme aqui resume-se a um parágrafo, adequado as tempos twitteanos – muito embora nenhum dos textos aqui caiba nos 280 caracteres permitidos pelo aplicativo. Enfim.. tentamos.  A propósito, siga o CinemaEscrito no Twitter.

 

Infiltrado na Klan

6 indicações – Filme, direção (Spike Lee), roteiro adaptado, ator coadjuvante (Adam Drive), edição e trilha sonora original

Aclamado como um dos melhores filmes de Lee nos últimos anos (o que significa isso mesmo?), Klan soa como uma boa piada bem contada (piada baseada numa história real). No caso, isso não é um elogio. Não se pode, entretanto, colocar de lado o teor político – aqui forte, preciso, direto – que seu diretor organiza bem na tela – além da coragem de marcar o final de sua obra com imagens de noticiários pontuais dos dias de hoje. Klan, entretanto, é competente por ser divertido (e diverte-se) ao falar de coisa séria: o racismo e as mortes que ele causa. Lee é definitivamente uma autoridade cinematográfica para assinar algo assim, mas filmes não entram automaticamente para a história pelo pedigree de seus diretores e sim pelo que ele é em si. O absurdo da história de Klan – um negro associado a Ku Klux Klan? – nos chega melhor do que como o filme resolve isso. Um título de mesmo núcleo temático – o racismo -, que foi arremessado nos cinema em 2018 de maneira quase envergonhada, diz muito mais, em termos de exercício cinematográfico, do que o novo filme de Lee. Chama-se Ponto cego, de Carlos López Estrada. Vejam e divirtam-se comparando-os.

Pantera Negra

7 indicações – Filme, edição de som, mixagem de som, figurino, direção de arte, trilha sonora, canção.

Aqui temos uma consagração numa diversidade de direções como não vemos com tanta frequência no cinema comercial. Aquela (consagração) que gera muito dinheiro, essa vem a cada 15 dias, despejada por Hollywood, mas incluir nisso um torpedo (elegante) de auto-estima direcionado a afrodescendentes do mundo inteiro (e aos próprios africanos também) Pantera negra o fez com galhardia. Era comovente ver, por ocasião da estreia do filme em início de 2018, espectadores negros nos EUA posando com o pôster do filme, orgulhosos do super-herói que os representava. A história do Príncipe T’Challa, de Wakanda, já era muito cultuada na versão de papel impresso que a Marvel fazia circular desde os anos 1960. Chegou ao cinema sem a discrição que o marcou nos HQs. Mas a “histeria” midiática criada pelo marketing fez jus aos atrativos que o filme nos presenteava. Fluidez, envolvimento, humor e empenho social fizeram do título um dos mais lembrados do ano, atingindo a incrível marca de US$ 1,34 bilhões nas bilheterias o que, consequentemente, o ajudou a entrar para a história por ser a primeira obra baseada em um HQ que concorre ao prêmio máximo da Academia. Leia mais sobre Pantera negra, no texto de Delles Sasse, clicando aqui.

Green Book: O guia

5 Indicações – Filme, roteiro original, ator (Viggo Mortensen), coadjuvante (Mahershala Ali) e edição.

Temos aqui talvez o filme mais frágil (para sermos educado no termo) desta seleção. Concluído a sessão de Green book a sensação (na verdade, a sensação surge bem antes do final) é a de que o roteiro foi criado e escrito por um software da Microsoft. O operador apertou os comandos “Engajado” e “Inclusivo” e a impressora cuspiu o roteiro. Salva-se Mortensen, sempre bem, conseguindo manter a dignidade de seu personagem por uma performance como se estivesse ele, Mortensen, a nos dizer: “eu acredito nesse cara”. Green book inquieta pelo mau motivo. Isso se traduz numa fórmula fácil de criar um ar embasbacado no espectador por apresentar a este, nos anos 1960, um personagem negro sensível e culto – o musicista Don Shirley (Mahershala, sob controle para o papel) – num tour pelo sul racista da América, dando ordens em seu motorista branco, um descendente de italianos, racista. A certa altura, o racista, já amigo do musicista negro, o instiga a deixar de tocar peças mais sofisticadas ao piano, para, num bar-furdunço, tocar rock (um gênero, à época, de validade tida como pejorativamente popular, pobre). Uma outra leitura mais fina sobre a opção desta sequência poderia, em si, deixar perceber nela própria racismo e não apenas como o convite de um amigo branco para o amigo negro relaxar e aproveitar a vida, como sugere o filme. Este é apenas um dos aspectos dúbios desse filme, cuja melhor palavra a resumi-lo é “fácil” (“esquecível”, também pode lhe cair bem).

A Favorita

10 indicações – Filme, direção, roteiro original, atriz (Olivia Colman), coadjuvante (Emma Stone e Rachel Weisz), fotografia, edição, figurino, direção de arte.

O diretor grego Yorgos Lanthimos conquistou os gringos depois de criar uma aura sobre sua rápida ascensão filmográfica na Europa (mas não sem contestações). Tudo bastante vinculado a Dente canino (premiado no Un certain regard, Cannes 2009, e indicado ao Oscar em 2011 como filme estrangeiro). Há dois anos voltou a ganhar luzes dos holofotes com O sacrifício do cervo sagrado (melhor roteiro em Cannes), e agora está no topo do mundo mercadológico do cinema com dez indicações ao Oscar. Há cerca de 20 anos que isso necessariamente não significa muito no que diz respeito a excelência de um filme. Em A favorita, a fotografia do irlandês Robbie Ryan sugere (com a permissão do grego) a todo tempo o uso de uma lente olho-de-peixe (ou apenas lentes mais abertas, ora escuras, ora claras) girando no centro das incríveis locações como uma proposta estética, cansando mais do que surpreendendo. A favorita é muito um filme de seu tempo (mulheres importam aqui, homens são objetos sexuais ou bobos da côrte, literalmente) e o enredo tem seu fascínio no estudo que propõe sobre a ideia do poder; mas o que deveremos lembrar sempre aqui (premiada ou não na noite deste domingo 24/2) é da atuação de Colman e do figurino de encher os olhos feito por Sandy Powell (já oscarizada por Shakespeare apaixonado há exatos 20 anos). A julgar por A favorita, Lanthimos não deverá ir muito longe em Hollywood (ao menos não no que diz respeito a bons $ e na conquista de fãs norte-americanos). Ou fará, mas com títulos que mal deverão se sustentar nas próprias pernas da consistência cinematográfica. Pena.  

Bohemian Rhapsody

5 indicações – Filme, ator (Rami Malek), edição, edição de som, mixagem de som.

A cinebiografia de Freddy Mercury sequestrou a todos de surpresa. É sempre muito bonito quando um filme surpreende até mesmo seus realizadores e todos os envolvidos – que se dedicaram ao trabalho como aquilo que seria o mais importante na vida deles naquele momento. Não para ganhar um Oscar, mas para deixar algo digno na tela. O filme não venceu sem contestações (algo vence sem passar por isso no século 20?). E elas vieram em bom volume da comunidade gay queixando-se que Mercury ficaria indignado pela forma como foi ‘caretamente’ retratado aqui. O que me faz lembrar do radialista no Festival de Gramado em coletiva de imprensa dizendo a Paulo Caldas que sabia mais de seu cinema do que o próprio Caldas. Quem sabe um bom documentário não resolve o que dizem faltar na dramatização Bohemian Rhapsody – obra que, lembramos, NÃO é um documentário. A prótese dentária de Malek também parece ter chamado mais atenção do que o próprio ator em algumas sequências do filme. Mas, se consideramos que a tal prótese era realmente exagerada e não chamou a atenção em TODAS as sequências do filme, saiba que esse crédito é de Malek. Agradeça a ele.

Roma

10 indicações – Filme, direção (Alfonso Cuarón), roteiro original (Cuarón), atriz (Yalitza Aparicio), coadjuvante (Marina De Tavira), fotografia (Cuarón), edição de som, mixagem de som, filme estrangeiro, direção de arte.

Aqui temos aquele que parece ser o mais completo filme dessa seleção irregular, e com créditos corretos para cada uma das dez indicações. Roma soa como uma ideia bem desenvolvida, realizada e eficiente em vários aspectos: da concepção visual, à construção dos personagens até o discurso em si. Aqui sim, há um filme que questiona o mundo politicamente, jogando luz sobre gente “invisível” e fundamental, sem a carga xiita do politicamente correto. E é assim que obras de arte costumam ser mais eficazes em sensibilizar espectadores. Para ler mais sobre Roma convidamos o leitor a clicar aqui.

Nasce uma estrela

8 indicações – Filme, roteiro adaptado, atriz (Lady Gaga), ator (Bradley Cooper), coadjuvante (Sam Elliot), fotografia, mixagem de som, canção original (Shallow)

Se tivéssemos R$10 apostaríamos que Barbra Streisand e Kris Kristofferson, protagonistas do Nasce uma estrela (1976), de Frank Pierson, subirão ao palco neste domingo para apresentar no Oscar o clipe de Nasce uma estrela (2018), de Bradley Cooper. A nova versão, sob o comando do galã, atualizou a história de maneira inteligente, como uma atualização deve ser ao tratar de questões fortes como o alcoolismo ou apenas irritantes, como a indústria fonográfica. É, enfim, uma história de amor bem conduzida (ainda que contenha certa gordurinha no roteiro), e com um homem bonito chorando (bem) em cena. Fórmula infalível que encontrou na química entre Bradley e Gaga uma equação perfeita.

Vice

8 indicações – Filme, direção (Adam Mckay), roteiro original (Adam McKay), ator (Christian Bale), atriz coadjuvante (Amy Adams), ator coadjuvante (Sam Rockwell), edição, maquiagem.

McKay é definitivamente um nome a se prestar atenção no cinema norte-americano atual. Dono de um interesse particular pelos meandros do poder (seja ele expressando-se como for) e na forma como ele, o poder, interfere na sociedade americana, e por tabela, no mundo. Vide seu muito bom A grande aposta (oscar de roteiro adaptado em 2016) e prestemos atenção à versão americana do alemão Toni Erdmann que ele está produzindo. Em Vice o impacto parece ser menor que o provocado pelo seu longa anterior, mas não menos interessante. Cercado por um elenco de primeira grandeza em interpretações profissionais (quero dizer, na medida quase matemática para o que parece ser necessário aqui), McKay nos chega como uma espécie de maestro, cuja visão e competência só sobrelevam a também competência de gente grande (e que só faz crescer em Hollywood), como Christian Bale e Steve Carell.

Conheça todos os indicados em todas as categorias clicando aqui

Mais Recentes

Publicidade