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Festivais

44º Annecy (2020) – Apresentação

Começa o mais importante festival de animação do mundo, em versão on-line e cobertura do CinemaEscrito

Por Julio Cavani | 15.06.2020 (segunda-feira)

Criado em 1960, o Festival de Annecy, realizado na França, será totalmente online pela primeira vez em 2020, graças às imposições geradas pela pandemia do novo coronavírus. Seria inviável promover presencialmente a 44ª edição do maior evento do mundo dedicado ao cinema de animação, que anualmente atrai mais de dez mil participantes de diferentes países, reunidos em uma turística cidade à beira de um lago com vista para os Alpes, perto das fronteiras com a Suíça e a Itália. A programação começa hoje (15) e segue até o próximo 30 de junho, com transmissões pela internet de mostras competitivas de curtas e longas-metragens, além de debates e sessões especiais.

Na edição de 2020, a África é o continente homenageado. Haveria uma programação especial de filmes africanos, mas a organização do festival resolveu cancelar e adiar esse conteúdo para 2021. Só mantiveram o cartaz em homenagem à animação africana, desenhado pelo animador franco-camaronês Jean-Charles Mboti Malolo, e apenas um debate sobre questões específicas de mercado.

Nas mostras competitivas de Annecy, os curtas-metragens ainda sãos as maiores estrelas, já que a produção de longas de animação ainda não alcançou uma grande escala quantitativa na maioria dos países. Na cerimônia de premiação, por exemplo, os últimos troféus entregues na noite são sempre para os curtas, que assim adquirem o destaque principal. Fora de competição, o festival atrai grandes lançamentos dos maiores estúdios norte-americanos, com grandes investimentos nas campanhas de lançamento. Com uma ampla feira anual que reúne milhares de profissionais e empresas do setor, o Festival de Annecy tem um perfil mais industrial do que artístico, mas abre espaço para tudo, inclusive para os experimentalismos mais radicais.

A mostra competitiva de curtas é dividida em sete programas: Oficial (a principal, onde concorreu o filme pernambucano Guaxuma, de Nara Normande, em 2018); Off-Limits (experimentalismos radicais); Perspectivas (tendências); Audiências Jovens (infanto-juvenis); Filmes de Graduação (produzidos por estudantes universitários); TV (episódios de seriados); e Comissionados (comerciais, vinhetas e videoclipes). Até 2018, a competição de longas era bastante restrita e cresceu em 2019 com a criação da mostra Contracampo, dedicada a produções independentes. Há ainda uma seção dedicada a projetos de realidade virtual.

No formato online adotado por Annecy, é necessário pagar uma taxa de credenciamento de 15 euros para ter acesso a todos os curtas e longas por meio de uma plataforma de streaming exclusiva. É tudo ou nada, já que não é possível ver os filmes separadamente mediante pagamento de ingressos para as sessões individualmente. Gratuitamente, apenas debates, projetos de realidade virtual e curtas da competição de Comissionados serão veiculados no canal oficial do festival no YouTube.

“Carne”, de Camile Kater

Em 2018, o Brasil foi o país homenageado. Em 2020, a participação brasileira restringe-se ao longa-metragem infantil Nahuel e o livro mágico, uma coprodução com o Chile dirigida pelo animador chileno Germán Acuña, que concorre na competição principal, e ao curta Carne, de Camila Kater, também na competição oficial (e selecionado em 2019 para os festivais de Locarno e de Brasília, entre outros). O brasileiro Alexandre Siqueira também está entre os concorrentes com o curta Purple boy, mas oficialmente trata-se de uma produção de Portugal.

‘Purple Boy’, do brasileiro Alexandre Siqueira

Na última década, dois longas-metragens brasileiros foram premiados: Uma história de amor e fúria (2013), de Luiz Bolognesi, e O menino e o mundo (2014), de Alê Abreu, também finalista do Oscar de Melhor Animação em 2016. Em 2015, dois troféus foram conquistados pela animadora paulista Rosana Urbes pelo curta Guida.

Nas duas competições de longas, o Japão é o país mais presente, com quatro concorrentes. Essa forte ocupação japonesa é bem comum em Annecy e está relacionada à grande indústria do “Anime” no país, que foi homenageado pelo evento em 2019. Na mostra Contracampo, um dos favoritos é On gaku (“Nosso Som”, em tradução livre), que foi o grande vencedor em 2019 do exigente Festival de Ottawa, um dos maiores do mundo dedicados à animação.

Com seis longas concorrentes, há também uma forte presença do Leste Europeu, região com forte tradição em animação em parte graças à herança do regime soviético, que investiu bastante no setor durante a Guerra Fria para enfrentar o poder de influência de valores norte-americanos representados sobretudo pela Disney. Entre os concorrentes, está The nose or the conspiracy of mavericks, do consagrado animador russo Andrey Khrzhanovsky, vencedor de Annecy em 1995. Outros fortes concorrentes são o documentário autobiográfico My favorite war, de Ilze Burkovska Jacobsen, da Letônia, e o polonês Kill It and Leave This Town, de Mariusz Wilczyński, lançado em fevereiro na Berlinale.

Co-produção Chile-Brasil, o longa “Nahuel e o livro mágico” está na competição

Da América Latina, além de Nahuel e o livro mágico (produzido pelo estúdio chileno Punkrobot, vencedor do Oscar pelo curta Bear story), há o longa argentino Lava, de Ayar Blaco.

Além de ser o principal evento dedicado à animação, o festival de Annecy está entre os maiores eventos cinematográficos do mundo e foi um dos participantes, em maio, do We Are One, que reuniu no YouTube programações especiais montadas pelos grandes festivais de Cannes, Veneza, Berlim, Locarno, Roterdã, Tribeca, Nova York, Tokyo, Karlovy Vary, San Sebastian, Londres, Mumbai, Macau, Jerusalem, Sarajevo, Sydney e Sundance.

 

LONGAS-METRAGENS (COMPETIÇÃO OFICIAL)

The Nose or the Conspiracy of Mavericks, de Andrey Khrzhanovsky (Rússia)

Kill It and Leave This Town, de Mariusz Willczynski (Polônia)

Little Vampire, de Joann Sfar (França)

Jungle Beat, de Brent Dawes (Ilhas Mauríceas)

Lupin III – The First, de Takashi Yamazaki (Japão)

7 Days War, de Yuta Murano (Japão)

Ginger’s Tale, de Konstantin Scherkin (Rússia)

Bigfoot Family, de Ben Stassen e Jérémie Degruson (Bélgica, França)

Calamity, de Rémi Chayé (França, Dinamarca)

Nahuel e o Livro Mágico, de German Acuña (Chile, Brasil)

LONGAS-METRAGENS (COMPETIÇÃO CONTRECHAMP)

On Gaku, de Kenji Iwaisawa (Japão)

Mikk Mägi, e Oskar Lehemaa (Estônia)

Lava, de Ayar Blasco (Argentina)

Accidental Luxuriance of the Translucent Watery Rebus, de Dalibor Baric (Croácia)

Beauty Water, de Kyung-hun Cho (Coreia do Sul)

My Favorite War, de Ilze Burkovska Jacobsen (Letônia, Noruega)

The Shaman Sorceress, de Jae-huun Ahn (Coreia do Sul)

The Legend of Hei, de Ping Zhang (China)

True North, de Eiji Han Shimizu (Japão, Indonésia)

The Knight and the Princess, de Bashir El Deek e Ibrahim Mousa (Arábia Saudita, Egito)

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