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Reportagens

Figueira do Inferno

Documentário alucinógeno

Por Luiz Joaquim | 15.07.2022 (sexta-feira)

– texto originalmente publicado no jornal Folha de Pernambuco em 14 de julho de 2004 (segunda-feira).

Os fazedores de imagem do Telephone Colorido representam hoje o (talvez único) braço radical na confecção de imagens em película para o cinema pernambucano. Leia ‘radical’ com não-comportado, quando a linguagem soa escrachada e trivial mas, na realidade, guarda um sujo talento narrativo. Hoje, com sessões às 19h30 e às 20h10, o Cinema da Fundação projeta a premiere planetária de Figueira do inferno, novo curta-metragem que o grupo produziu sob direção de Raoni Vale e Ernesto Teodósio.

A dupla venceu o concurso Firmo Neto 2001 para roteiro, outorgado pela Prefeitura da Cidade do Recife, e, posteriormente, recebeu o aporte do Funcultura para finalizar o trabalho. Com imagens captadas em 16mm, Super-8, vídeo digital e High-8, o filme sofreu transfer para 35mm e, segundo os realizadores, é um “registro etinobotânico da utilização de Daturas e Brugmâncias no Nordeste brasileiro”.

Figueira é um documentário e quem espera a irreverência irrestrita  do anterior Resgate cultural é bom ter cuidado. O Molusco Grilo, responsável pela montagem do filme, diz que não houve nenhuma interferência ficcional para produzir qualquer efeito alucinógeno no discurso. “Há apenas uma advertência no começo do curta. A direção tratou apenas de coletar depoimentos de índios, mestres de umbanda e também de um surfista que explica outras funções psicoativas das plantas”, adianta Grilo.

Como contraponto aos depoimentos empíricos, o filme entrevistou alguns acadêmicos, como o bioquímico da UFCE, Francisco de Abreu Matos, explicando as propriedades medicinais do maxixe. Como cenário, o grupo usou a paisagem litorânea e interior do Ceará, Paraíba e Pernambuco. Cidades como Caruaru e Canhotinho serviram de locação para ilustrar Figueira do inferno. “Filmamos  em várias comunidades indígenas, e comunidade de pescador também. Mas tem também um contexto urbano no filme, diz o diretor Ernesto Teodósio.

Raoni diz que o filme é um diálogo entre a voz científica e o conhecimento comum da sociedade sobre as plantas alucinógenas. “O grande nome por trás do filme é o do Dr. Pedro Luz, especialista tem etnobotânica, com quem conversamos em 1998. Tudo era um projeto arqueológico, mas juntos desenvolvemos o que veio a ser o roteiro para o cinema”, explicou Raoni. É bem possível que a projeção de Figueira provoque risadas pelo humor peculiar que impregna o Telephone Colorido, mas Grilo adverte que esta é uma nova proposta do grupo, que já gerou outro documentário “sério” como Engenho prado: Guerra de baixa intensidade, que será exibido na próxima quarta-feira, junto a História de amor a 16 quadros, de Fernando Spencer e Amim Stepple, e Samba de Cabôco, de Márcia Mansur e Luís Lourenço, no Varadouro às 20h.

Serviço:

Lançamento do curta Figueira do inferno

Cinema da Fundação

Hoje [14-6-2004] às 19h20 e 20h10

Entrada franca

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