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Reportagens

Luiz Joaquim lança livro-coletânea de críticas

“Vinte e Cinco: Escritos de Cinema (1997-2022)” reúne 75 textos selecionados e publicados no período

Por Yuri Lins | 23.09.2024 (segunda-feira)

– com informações da assessoria da CEPE Editora. Na foto acima, Luiz Joaquim (crédito: Osmário Marques). 

O desafio do jornalista e editor do site CinemaEscrito.com, Luiz Joaquim, foi imenso. Com reconhecida trajetória profissional na imprensa, universidade e curadoria de salas de cinema, deveria selecionar algumas dezenas de textos para ilustrar, em um livro, os seus 25 anos de crítica de filmes. Mas havia pedras, diga-se valiosas, no meio do caminho para se chegar ao número de carga simbólica. Era preciso escolher 75 textos entre os mais de três mil assinados por ele. O resultado está em Vinte e cinco: escritos de cinema (1997-2022), título a ser lançado pela Cepe Editora nesta segunda-feira (30/9), das 19h às 22h, no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), sala do Derby, Recife.

No lançamento, antes da sessão de autógrafos, o autor e o crítico cinematográfico e curador Ernesto Barros batem um papo sobre A possibilidade de a crítica de arte/cinema ser ou não identificada como um gênero literário. E também será exibido o curta Conceição (1999), analisado no livro e dirigido por Heitor Dhalia.

Os textos do livro estão organizados em três perspectivas. Cada uma, um capítulo. O primeiro capítulo, Do meu lugar, reúne 25 análises sobre produções pernambucanas. No segundo, Do nosso lugar, o autor traz 25 críticas relacionadas a filmes brasileiros, enquanto no terceiro, Do lugar de todos, 25 analisam trabalhos estrangeiros.

Leia entrevista com o autor, Luiz Joaquim, concedida para a CEPE editora.

Quais critérios você adotou para selecionar as críticas publicadas?

Quando imaginei o livro pensei que seria interessante selecionar um texto para cada um dos anos vividos no período que corresponde aos primeiros 25 anos de minha carreira no segmento da crítica cinematográfica. Interessante por duas razões. Uma é, num certo sentido, pedagógica pois disponibiliza em uma única publicação os textos de um mesmo autor escritos ao longo de mais de duas décadas. Isto, fatalmente fará o leitor atento perceber a evolução (ou a busca por uma evolução) analítica e estilística desse mesmo autor. Em outras palavras, VINTE E CINCO pode talvez ajudar iniciantes ou potenciais críticos de cinema a identificar o que seria um texto mais frágil ou um texto mais robusto do ponto de vista da análise cinematográfica.

O livro apresenta 75 textos. 25 deles para o cinema pernambucano, 25 para o brasileiro e 25 para o estrangeiro. Foram escolhas difíceis de definir, considerando o universo dos meus mais de 3.000 textos.

Um segundo critério foi selecionar críticas sobre filmes de realizadores que, à época da publicação nos jornais, não tinham, aos olhos dos brasileiros, a dimensão que possuem hoje. Na verdade, hoje aqueles cineastas são nomes incontornáveis na história contemporânea do cinema. Exemplo? Takeshi Kitano (no texto de 1999 para “Hana-Bi: Fogos de Artifício”), Bong Joon Ho (no texto de 2007 para “O Hospedeiro”) e Apichatpong Weerasethakul (no texto de 2010 para “Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”).

Entre os brasileiros estão textos feitos no calor do momento, para obras que também entraram para o história do cinema nacional, seja por realizadores que surgiram nestes 25 anos (Luiz Fernando Carvalho, com “Lavoura Arcaica” em 2001; Breno Silveira, “2 Filhos de Francisco” em 2005; José Padilha, com “Tropa de Elite” em 2007), seja por realizadores veteranos que voltaram a filmar após o fim da Embrafilme em 1990: Walter Lima Jr. (“A Ostra e O Vento”, em 1998), Eduardo Coutinho (com “Babilônia 2000” em 2001) e Nelson Pereira dos Santos (com “Brasília 18%”, em 2006).

Já entre os pernambucanos, os textos selecionados contemplam, arrisco dizer, 25 nomes de realizadores bastante determinantes para o que se tornou o cinema local durante 1997 e 2022 – incluindo os hoje já consagrados e os hoje ainda vistos como promessas. A maioria em seu primeiro ou segundo longa-metragem como Paulo Caldas, Marcelo Gomes, Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Daniel Bandeira, Marcelo Pedroso, Gabriel Mascaro, Marcelo Lordello, Cláudio Assis, Kleber Mendonça Filho, Leonardo Lacca, Renata Pinheiro, Camilo Cavalcante, Vincent Carelli, Déa Ferraz, Fellipe Fernandes e Fábio Leal entre outros. Num certo sentido, os textos contam a história do cinema pernambucano naquele quarto de século.    

Qual a importância da crítica no momento atual do cinema e da mídia, especialmente em Pernambuco e no Brasil?

Essa é uma pergunta eterna. Isto porque a crítica de cinema está em crise há uns 70 anos. E isto é bom porque o trabalho analítico deve trazer, em si, o senso de crise. A palavra ‘crítica’ vem do grego, ‘Kritiké’ (feminino de ‘kritikós’) que encerra a ideia de julgamento e expressa a apreciação teórica de uma obra. É consensual que a crítica de arte estende, ou deveria estender, o prazer proporcionado pela obra em questão. A premissa é a mesma para a atividade crítica de cinema. Assim sendo, sua importância irá sempre ser válida e desejada enquanto houver arte comovendo ou transformando as pessoas.

Diria também que, independente do local, seja em Pernambuco, em todo o Brasil ou em Timbuktu, a crítica ratifica a sua força diante de produções cinematográficas com orçamento médio ou pequeno. Aquelas que não contam com contratos milionários de marketing para nascer para o mundo. Não que uma crítica hoje possa transformar uma obra pequena num campeão de bilheteria (e isso até pode acontecer também), mas, inegavelmente, ela (a crítica) pode fazer um filme de orçamento modesto entrar para história do cinema. Aqui um exemplo clássico no nosso país: Glauber Rocha analisando “Aruanda”, de Linduarte Noronha, para o Jornal do Brasil.

Com a queda de prestígio da grande mídia e o advento das redes sociais, a crítica de cinema ampliou ou teve a sua importância reduzida?

Diria que ampliou e teve a sua importância reduzida. A crítica anda numa corda-bamba. E a resposta do porquê desse status passa por questões mais profundas a serem analisadas. A crise dos tradicionais veículos de comunicação explicam um pouco mas não totalmente. Houve uma diluição da fonte de informação. Todas as pessoas são potenciais analistas e hoje se apresentam assim porque há canais virtuais para livremente escoar as suas percepções – o que é ótimo! O que não é bacana, me parece, é a não profissionalização, ou seja, não investir na ampliação constante de seu repertório cinematográfico (contemporâneo e histórico). E é preciso também ler, ler e ler ainda mais os livros sobre cinema. E não apenas esses, ler também romances pois só assim o crítico poderá, quem sabe, estabelecer uma estilística própria e ganhar, talvez, algum reconhecimento. Outro ponto essencial, conforme dizia Sartre: escrever não é “se descolar da vida com o objetivo de contemplar essências platônicas num mundo estático”. Em outras palavras, analisar filmes por meio da escrita é também agregá-lo ao que está ao nosso redor, com o nosso vizinho, com a nossa cidade, com o nosso país, com o mundo.  

De 2022, ano relativo as últimas críticas selecionadas, para cá, ocorreu algum(uns) fato(s) que justificasse a inclusão de novos textos na atual edição do livro ou em futuras edições? Qual(is)?

Ah sim, diversos. O cinema, como um moto-contínuo, é uma máquina de produzir perpétuas notícias e mudanças valiosas para a cultura. Por exemplo: o ascensão de Maeve Jinkings como a grande atriz que é; a beleza do cinema feito no Norte do Brasil, finalmente chegando ao circuito exibidor nacional (vide “Noites Alienígenas”); os veteranos da “Nova Hollywood” mostrando-se inteiros mais de 50 anos depois, com os seus “Os Fabelmans” (Spielberg), “Assassinos da Lua das Flores” (Scorsese) e “Megalópolis” (Coppola); e a volta de Fernanda Torres aos holofotes, os quais nunca deveriam ter desviado dela,  por “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, a ser lançado em breve. Sem falar no recrudescimento de um cinema inclusivo, que olha a tudo e a “todes” com o respeito que se espera. E isso é só o começo.

Serviço:

Lançamento do livro Vinte e cinco: escritos de cinema (1997 – 2022), de Luiz Joaquim. Haverá bate-papo entre o autor e o cineasta e crítico de cinema Ernesto Barros, além da exibição do curta Conceição, de Heitor Dhalia, analisado no livro.

Quando: 30 de setembro de 2024 (segunda-feira)

Hora: 19h às 22h

Onde: Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Rua Henrique Dias, 609, Derby, Recife/Pernambuco

* Entrada franca

Preço: 60,00 (impresso) / 30,00 (e-book)

Sobre o autor:

Vinte e cinco: escritos de cinema (1997-2022) é o terceiro livro de Luiz Joaquim e o segundo pela Cepe Editora. Antes, o jornalista e mestre em Comunicação assinou Celso Marconi: o senhor do tempo (Cepe Editora, 2020) e Cinema brasileiro nos jornais (Massangana, 2018). Trabalhou como repórter e crítico de cinema no Jornal do Commercio e na Folha de Pernambuco e chefiou o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e o bacharelado em Cinema e Audiovisual da Uniaeso. Em 2022, geriu o Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe) e fez a curadoria do Cinema São Luiz (Recife), tendo ainda, desde maio de 2023, coordenado o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco e pela Cinemateca Pernambucana Jota Soares, da Fundaj.

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