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Críticas

Dália Negra

Crime sem posição

Por Luiz Joaquim | 05.10.2006 (quinta-feira)

Quando se escreve o nome Brian De Palma, qualquer leitor mais atento a filmes sabe que se está falando de um nome forte na história do cinema contemporâneo. Hoje estréia “Dália Negra” (The Black Dhalia”, EUA, 2006) novo filme do cineasta, que – para frustração daqueles que vêem em seu nome algo além de uma referência – não incomoda, mas também não agrada. Acontece, enfim, o pior, “Dália Negra” passa por nós de forma indiferente (exceto por uma seqüência). Digamos que se o filme tivesse gosto seria o de um “picolé de xuxu”. E em se tratando de De Palma, isso é grave.

O enredo tem como partida o caso real de Elizabeth Short (Mira Kirshiner), aspirante à atriz nos anos 1940, que foi barbaramente assassinada – tendo, seu algoz, rasgado-lhe a boca de orelha a orelha. Até hoje, o caso desafia os detetives policiais que não conseguiram dar uma resposta para o assunto, mas o romancista James Ellroy criou um romance com uma fictícia solução que viria a servir de fonte de De Palma.

Nele, os ex-boxeadores Bucky (Josh Hartnett, de “Pear Harbor”) e Lee (Aaron Eakheart, de “Obrigado por Fumar”) são os meninos de ouro do grupo de detetives que tenta desvendar o mistério. Cultivando uma amizade íntima, que tentadoramente envolve a sensual esposa de Lee, Kay (Scarlett Johansson), os dois seguem pistas sobre o crime até que a situação se volte contra eles mesmos. Nesse caminho, Bucky conhece Madeleine (Hilary Swank), uma milionária excêntrica e faminta por sexo que, não por acaso, lembra a figura da vítima.

Acontece que De Palma deixa de fazer o que melhor sabe: criar tensão, se apropriando com estilo da gramática cinematográfica. Como já mencionamos, há apenas um momento sublime aqui, que rende justiça ao diretor. Acontece quando Bucky vai a um hotel tentar salvar Lee, encurralado alguns andares acima. Exceto por isso e um pouquinho mais, “Dália Negra” sofre de um virtuosismo na direção de arte e nos diálogos adaptados do livro que chamam a atenção para si em detrimento da tensão que o filme gostaria de transmitir, mas não consegue.

Ao final, fica a imagem esforçada dos dois casais protagonistas. E apesar de Hartnett e Johansson – a mais fatal das atrizes contemporâneas – saberem usar seus charmes, tem-se a impressão que não conseguiram criar a eletricidade suficiente e tão comum aos filmes noir, realizados há 60 anos.

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