Venus
Peter O’Toole aparece em mais uma brilhante performance
Por Luiz Joaquim | 01.06.2007 (sexta-feira)
Quando anunciaram em janeiro a candidatura ao Oscar 2007 de melhor ator para Peter O’Toole, 75 anos, por “Vênus” (Venus, Ing., 2006) – exibindo apenas hoje às 21h e amanhã às 11h na Sessão de Arte do Shopping Boa Vista – ficou demarcado que ali, sem dúvida, deveria haver uma belíssima performance.
E há. Mas o brinde para o público não vem apenas pela atuação precisa do eterno Lawrence da Arábia. O diretor Roger Mitchell (o mesmo de “Um Lugar Chamado Nothing Hill”) soube regular em dosagem perfeita o ritmo, a musica e os diálogos que embalam esse encontro apaixonado da maturidade de Maurice (O’Toole) com o viço juvenil da adolescente Jesse (Jodie Whittaker).
Maurice é um famoso ator, ainda atuando, que em seus tempos de galã não abria mão dos prazeres que a vida lhe oferecia. Essa opção, inclusive, lhe custou o casamento no passado, o que não lhe impediu de manter uma relação afetuosa com a ex-esposa (Vanessa Redgrave).
Longe do estereótipo do velho triste e solitário, Maurice é mostrado como um exemplo de vigor, de simpatia pelo vida e pelo que ela lhe oferece, mesmo quando sofre com um tratamento da próstata. Mas o enredo está mais interessado é em nos tornar cúmplice do despertar da paixão deste velho artista, encantado pelo belo, com a rudeza da sobrinha de seu melhor amigo (Leslie Phillips).
Entre os dois, os contrastes culturais e morais são enormes, sendo que nenhum deles é colocado por Mitchell como sujeito a um julgamento exatamente pela consistente construção dos dois personagens e brilhante defesa de seus interpretes. Nestes contrastes, a trilha sonora tem um papel preponderante, pontuando tudo de forma sóbria, quando usa músicas de Erik Satie para Maurice e as de Corinne Bailey Era para Jesse, ou ainda quando embaralha as duas.
O fato é que temos em “Vênus” uma tocante declaração de respeito pela velhice, ressaltado pelo que há de antagônico nisso em Jesse, assim como vemos um atestado de alumbramento pelo vigor da vida e da beleza pura da arte. É como se o velho conquistador Maurice nos dissesse que não há melhor motivo para estarmos aqui que não seja pelo prazer de apreciar a beleza, e quando possível, desfrutá-la em toda a sua exuberância.
Atenção para um plano-seqüência simples, em que a câmera de Mitchell gira em torno de O’Toole enquanto este fita uma auditório vazio. Fica já marcada para sempre como uma das mais fortes imagens sobre a fugacidade da fama, da mesma forma como as brincadeiras entre os seus amigos no pub, ao se questionarem quantos parágrafos os obituários dos jornais irão lhe dedicar quando eles tiverem partido. É cruel.
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