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Críticas

Hércules 56

Revisão de nossa história recente

Por Luiz Joaquim | 05.10.2007 (sexta-feira)

Revisitar a história é sempre sadio e o cineasta Silvio Da-Rin sabia disso quando publicou sua dissertação “Espelho Partido: Tradição e Renovação do Documentário Brasileiro” e também quando decidiu dirigir seu primeiro longa-metragem, “Hércules 56” (Brasil, 2007), estreando no Cinema da Fundação. Por ele, Silvio nos leva a 1969, ao momento histórico em que militantes contra a ditadura seqüestraram o embaixador americano Charles Elbrick e exigiram do governo militar a liberdade de 15 presos políticos, entre eles o hoje ex-braço direito do presidente Lula, José Dirceu, e o ilustre comunista pernambucano Gregório Bezerra.

Diferente de “O Que É Isso Companheiro?” (1997), pelo qual Bruno Barreto dramatizou a mesma história de forma rasa, Da-Rin, através de seus personagens, levanta questão sobre a validade da ação revolucionária. Essa validade é extenuantemente discutida numa mesa onde a câmera e a montagem do filme acompanham com curiosidade a conversa entre cinco senhores que, na juventude, foram protagonistas na captura do embaixador.

Silvio não pára nos detalhes da preparação e realização do seqüestro pela lembrança dos reminescentes. De forma intercalada, o diretor vai nos oferecendo em rico material histórico o desenrolar da ação de soltura dos 15 presos políticos. Acompanhamos o percurso do grupo desde a saída do Brasil, embarcando na aeronave ‘Hércules 56’ da Força Aérea Brasileira, passando pelo México com sua recepção calorosa, até chegar a Cuba, onde alguns receberam treinamento guerrilheiro para voltar ao Brasil e continuar combatendo a ditadura.

Há ainda, alternadamente editadas, as impressões e reações dos 15 libertados. São depoimentos captados em 1969, ainda no calor da desconfiança, do medo e da desinformação a respeito de qual seria o destino de cada um. O contraponto, a reavaliação crítica e autocrítica, surge quando Da-Rin nos dá o depoimento atual dos nove ex-presos políticos que sobreviveram e alguns outros depoimentos em imagens de arquivos (anos após o evento) daqueles que já faleceram, como é o caso de Gregório Bezerra.

Ao reunir num único filme, mais de 30 anos depois, a diversidade de versões e opiniões sobre aquele que foi uma das mais emblemáticas expressões do inconformísmo num Brasil militarista, e na voz de seus protagonistas, Da-Rin presta um serviço de valor. Faz lembrar que o confronto de idéias é a melhor das formas para se tentar desenhar uma verdade sobre a história. Tentar desenhar, e não determinar, vale reforçar

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