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Críticas

Sicko – $O$ Saúde

Sistema de saúde ianque na berlinda

Por Luiz Joaquim | 05.03.2008 (quarta-feira)

Na ficção “Onde os Fracos Não Tem Vez”, o personagem de Javier Barden, um assassino impiedoso, é obrigado a costurar, ele mesmo, a própria coxa, avariada por um corte profundo, porque ir a um hospital seria se render à polícia. Em “Sicko – $O$ Saúde” (Sicko, EUA, 2007), documentário de Michael Moore, temos na primeira cena, antes mesmo dos créditos, um norte-americano anônimo também costurando a própria coxa pelo mesmo problema, mas ele não é um assassino. Apenas não vai ao hospital porque não pode arcar com a fortuna do tratamento.

O mote é ótimo: 40 milhões de norte-americanos não têm seguro saúde. Aqueles que o possuem sofrem uma infinidade de restrições pelas empresas de saúde que os impossibilita de utilizar o benefício quando estão enfermos; e os EUA é o único país ocidental que não tem um sistema de saúde público e universal, gratuito para sua população. Aí vem o polêmico Michael Moore, e faz “Sicko” (pronuncia ‘çícou’) contando tudo isso, ao seu estilo, com farpas para todos os lados e com uma ironia um pouco acima do tom.

Mesmo com os excessos, o retrato que Moore mostra do sistema de saúde da América, faz qualquer estrangeiro sentir orgulho dos programas governamentais de saúde de seu país, mesmo que funcione com limitações, como o nosso Sistema Único de Saúde.

Depois de uma breve introdução sobre as pessoas que não podem pagar um caro sistema de saúde, o documentarista vai atrás de personagens que podem pagar, mas não conseguem ser atendidos. Neste rol, o destaque é para os bombeiros e voluntários que ajudaram nos resgates entre os escombros do 11 de Setembro. No calor daquele momento, eram celebrados como heróis pelo governo americano mas, sete anos depois, não conseguem um apoio governamental para ajudar no tratamento de saúde (a maioria respiratórios) em decorrências do socorro que prestaram.

Com o mesmo estilo irônico utilizado em “Tiros em Columbine” (2002) e “Fahrenheit 9/11” (2004), e fazendo os mesmo questionamentos sobre o que é bom ou ruim para o seu país, Moore vai brincando de fingir-se como uma criança de seis anos que acredita ingenuamente na propaganda americana. Daí o diretor parte para o Canadá, Inglaterra e França para conferir como funciona o modelo de saúde por lá, com o objetivo para reforçar seu argumento contra o “sistema” norte-americano.

A ironia chega ao máximo quando Moore leva os enfermos do 11 de Setembro para o presídio de Guantanamo, em Cuba, pois é lá, onde estão os presos culpados pelo atentado contras as Torres Gêmeas, o único lugar onde o governo norte-americano oferece tratamento de saúde gratuito. Depois da piada, o cineasta leva os enfermos para serem tratados em hospitais cubanos, gerando um comovente e autêntico momento dentro do documentário. Mas logo logo descamba para o brega, quando confronta bombeiros ianques com os cubanos e ainda mostra o deposito de 12 mil dólares que o próprio Moore fez de seu bolso para o maior site anti-Michael Moore da América.

O resultado de “Sicko” é ser um belo documento, sugerindo reflexão, sobre o impiedoso sistema capitalista de saúde dos EUA, mas resulta também em ser um documentário sarcástico demais para ser levado a sério em sua totalidade.

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