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Críticas

I`m Not There

Dylan, em fragmentos

Por Luiz Joaquim | 11.04.2008 (sexta-feira)

É uma cinebiografia incomum essa que Todd Haynes fez em “Eu Não Estou Lá” (I’m Not There, EUA, 2007) sobre a lenda Bob Dylan, 67 anos. Se lembramos Dylan pelas suas imagens que conhecemos mostradas pela mídia, vamos lembrar do cantor folk, do sujeito cantando canções romanticas para a esposa com a qual se divorciaria em breve, ou do sujeito fazendo louvores para Jesus, entre outros

“Eu Não Estou Lá” é um enlouquecido filme inspirado nas “várias vidas de Bob Dylan”, e o diretor Haynes, de “Velvet Goldmine” e “Longe do Paraíso”, nem se deu ao trabalho de juntar todas essas vidas numa única. São seis atores – Cate Blanchett, Heath Leadger, Richard Gere, Christian Bale, Marcus Carl Franklin e Ben Winshaw – encarnando cada uma das identidades do polêmico músico. Curioso, e bom, é que nenhum deles foi escolhido pela aparência física. Não por acaso, e não apenas pelo seu talento (melho Globo de Ouro 2008 como coadjuvante), Blanchett é a que mais chamou atenção do grupo.

No papel de Jude, ela tenta se esquivar como a voz de uma geração, brigando com a mídia que, a sua revelia, tanto deseja lhe colocar esse título. Depois de passar pelo folk, o Dylan de Blanchett quer apenas tocar rock, mas sua nova aspiração de liberdade acaba tornando uma prisão. E mesmo com algums situações irreais em que Hayne coloca Blanchett (brilhantemente defendida), é aqui que o personagem chega mais próximo do Dylan que veio à tona no recente livro biográfico.

Antes disso, temos Dylan como Woody (Carl Franklin), um menino negro de 11 anos, que esconde seu passado criando mentiras a seu respeito para todos que encontra pela frente. Temos Christian Bale, funcionando como o símbolo que despertou a atenção do mundo pela sua letras densas. Temos Leadger, como o ator que casa com uma francesa (Charlotte Gainsbourg), ecoando no ciclo de canções de amor e desilução que ele viria fazer. E há também Gere como “Billy The Kid”, como um Dylan revisionista da condição territorial do western americano.

Quanto mais você apreende de Dylan em “Eu Não Estou Lá”, menos você compreende quem é Dylan. E isso não significa uma falha, mas um mérito criativo pelas mãos de Haynes. Não definições determinadas aqui. Estamos diante de uma figura contráditória e, por isso mesmo, instigante. Há ainda a maravilhosa fotografia de Ed Lachman, alternando P&B e cor, funcionando como uma moldura para as várias frações de um homem, que, aqui, somam mais que a de um homem inteiro.

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