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Sobre legendagem

Câmera Clara 135

Por Luiz Joaquim | 02.03.2009 (segunda-feira)

O Cinema da Fundação exibiu ontem um clássico norte-americano chamado “O Campeão” (The Champ, 1931), de King Vidor. Logo no início, vemos o garoto Dink (Jack Cooper) correndo por uma estrada enquanto conversa com o pai: “Se apressarmos o passo, logo chegamos em tia Juana”. A frase não tem sentido no contexto, mas um ouvido atento podia perceber que eles não se referiam a nenhuma tia Juana, e sim a Tijuana, cidade fronteiriça entre os EUA e o México. A cópia exibida, que veio da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, é uma versão que foi restaurada e impressa em 1986. O exemplo é apenas para salientar o quanto evoluímos em termos de legendagem profissional para o cinema em cerca de 20 anos. Trocar tia Juana com Tijuana é um erro de fato, entretanto, algumas traduções que estranhamos nos dias de hoje não são “erros” no sentido estrito do termo, mas adequações. Explico: o exercício da legendagem para o cinema obedece normas técnicas específicas. Tão específicas que diferem da legendagem para o cinema das para home-vídeo (DVD, Blu-Ray, etc.). Algumas dessas normas dizem respeito a quantidade de linhas (duas no máximo) e a quantidade máxima de toques para a linha de cima e para linha de baixo. E essas determinações não são aleatórias, correspondem a um estudo que entende a capacidade de cognição de leitura do espectador, intermediada pela permanência por um tempo específico da legenda na tela. Logo, hoje, quando um tradutor legenda uma sentença dita no filme com uma frase traduzida de forma não-literal, ele não está errando, mas adequando ao formato – sem mudar a essência do sentido, claro. Portanto, pense duas vezes antes de chamar o legendador de burro ao perceber algo diferente nas legendas do que o seu ouvido escuta. No ano de 2000, fiz uma extensa reportagem sobre todo o processo de legendagem feito no Brasil. A matéria pode ser lida em (www.cinemaescrito.com).

Cigarros
A Aliança da Associação Médica da América (AMA), publicou um artigo no The New York Times da última quinta-feira informando que vai formalizar uma queixa a Warner Bros. pela disposição de maços de cigarros mostrando marcas específicas no filme “Ele Não Está Tão a Fim de Você” (estréia no Brasil próximo dia 27). “Não há justificação artística para isso”, disse Melissa Walters, cabeça do AMA responsável pela redução do uso de cigarros por adolescentes. O artigo fala que apesar de não mostrar personagens fumando, mostra uma delas deixando o marido por ele ter mentido sobre fumar. O curioso é que uma das marcas em destaque, o da “Santa Fe Tobacco”, não pagou para aparecer na tela. Um representante da marca inclusive concordou que o cigarro nem deveria estar em filmes. “Ele Não Está Tão a Fim…” traz as beldades Jennifer Aniston, Jennifer Connelly, Scarlett Johansson, Drew Barrymore no elenco.

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Preconceito
Na transmissão da cerimônia do Oscar 2009 para a Ásia, a corporação de Rupert Murdoch, que controla o Star-TV, satélite de TV para lá, censurou o discurso de agradecimento de Sean Penn e do roteirista de “Milk”, Dustin Lance Black quando eles se referiam a gays e lésbicas. Apesar das palavras não terem sido reprimidas durante a transmissão ao vivo, na manhã seguinte, segunda-feira, 23-fev., quando foi retransmitido para 53 países daquele continente, as duas palavras foram removidas. A justificativa da Star-TV, baseada em Hong-Kong, foi que a companhia tinha “a responsabilidade em ser sensível a todas as considerações do mercado em que atual”.

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Lispector
Ontem o vídeo da jornalista Geórgia Alves, “O Triunfo”, inspirado no primeiro conto de Clarice Lispector, de 1940, teve sua primeira exibição na TV local. Passou no programa “Curta Pernambuco”, da TV Universitária. O curta mostra Luísa, que desperta sozinha no apartamento onde morava com o amante. Quem perdeu pode conferir o trabalho pela internet, no site da TV Câmara, pelo endereço (http://www.camara.gov.br/internet/TVcamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=67091)

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