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Reportagens

I Encontro nacional de programadores de sala alt

A hora da sala alternativa de cinema

Por Luiz Joaquim | 21.07.2009 (terça-feira)

Quando se para e pensa nas dificuldades técnicas e curatoriais para programar uma sala de cinema no Brasil que não está inserida no perfil comercial dos multiplex, o assunto soa como inquestionavelmene urgente para quem atua nesse mercado. Mas, de forma curiosa, essa nunca foi uma pauta nos mais de 100 festivais de cinema que disputam espaço na mídia ao longo das 52 semanas do ano. Quinta (23) e sexta-feira (24) o assunto ganha um evento exclusivo, que acontece no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

O 1° Encontro Nacional de Programadores de Salas Alternativas de Cinema vai reunir na cidade 19 profissionais que atuam nessa área, seja administrando, programando e facilitando técnica e/ou curatorialmente esse circuito de exibição. Correndo por um ráia marginal ao dos complexos de cinema nos shoppings, há uma variada rede de pequenas salas no País, desarticuladas entre si, que operam enfrentando problemas típicos daqueles que trabalham com pequenos distribuidores de filmes.

São distribuidores pequenos mas com produtos (filmes) que têm respeito e interesse garantido tanto na mídia especializada quanto nos formadores de opinião e intelectuais. “É exatamente por essa abrangência de interesses que um Encontro como esse pode ser esclarecedor não só a curadores mas também ao público curioso em cinema. Assim ele pode entender os meandros e mecanismos que formam toda a articulação de uma sala alternativa”, aponta o curador do Cinema da Fundação e crítico de cinema desta Folha de Pernambuco, Luiz Joaquim.

Para o jornalista e cineasta Kleber Mendonça Filho, que divide a produção do Encontro com Joaquim no Cinema da Fundação, é inadimissível que ainda em 2009 não exista a mínima organização neste circuito de exibição. “Conhecemos os outros programadores, trocamos ideias informalmente, mas não há uma lista de discussão, não há uma associação nem nada parecido. Com esse encontro, vamos mostrar que, se podemos nos reunir, também podemos nos definir como uma categoria oficial e daí ganhar mais força e poder nas negociações”, explica. Para o curador, um problema prioritário, entre outros, é que seja melhorado o tratamento entre as distribuidoras majors (Warner, Fox, Paramount, Disney e outras) com estas pequenas salas.

Luiz Joaquim diz que para se ter idéia da necessidade dessa articulação unificada da categoria basta lembrar de um problema técnico concreto que, obrigatoriamente, uniu em 2006 as quatro salas do circuito alternativo de Pernambuco: o Cinema da Fundação, o Cineteatro Apolo, o Cine Rosa e Silva e o PMC Cinemas (Eldorado e Royal). “As distribuidoras começaram a oferecer sua películas com uma banda sonora num padrão diferente, chamado “cyan”, que havia, há pouco, sido adotada no mercado estrangeiro. Acontece que muitas salas pequenas foram pegas de surpresa sem o leitor ótico adequado e quando os filmes eram projetados, não tinhamos som na sala. Para resolver o problema aqui, todas as salas locais aproveitaram a vinda de São Paulo de um tecnico especialista no assunto”, explica.

A idéia para tornar realidade o 1° Encontro de Programadores surgiu exatamente das conversas informais que o crítico da revista Teorema, Macus Mello – que também programa a sala de cinema P.F. Gastal, da prefeitura de Porto Alegre – mantinha com Kleber Mendonça quando o encontrava nos festivais. “O plano inicial era atrelar o debate a algum festival de cinema, mas só com a adesão da Fundaj, pudemos concretizar esse projeto que coloquei no papel em 2008”.

Marcus conta que, há cinco anos, desde a inauguração em Porto Alegre do complexo Unibanco Arteplex, administrado por Adhemar Oliveira (o mesmo que deve ocupar o Chantecler no Recife), o circuito alternativo sofreu forte impácto. “Nenhuma de nossas salas tem projeção digital e alguns filmes lançam apenas nesse formato, no Arteplex. Documentários, por exemplo, estão cada vez mais raros em película. Eles exibem nos multiplex em digital e tem vida curtíssima. Para se ter uma idéia, o “Santiago”, de João Moreira Salles, tinhamos que exibir em DVD, aí entramos em uma outra discussão complicada sobre a utilização desta mídia como uso doméstico e não comercial, que envolve grandes órgãos fiscalizadores”, relata o curador.

Marcus também aponta uma outra questão séria que envolve renúncia fiscal. “Quando começamos na P.F. Gastal, em 1999, ninguém queria exibir cinema brasileiro por aqui. Hoje a situação mudou até porque filmes como ‘Não por Acaso’, por exemplo, tiveram um recurso para distribuição incentivado por dinheiro público. Nesse filme específico, a Fox o lançou nos multiplex e foi um fracasso absurdo. Quando ligamos em seguida para agendar sessões em nossa sala, nos cobraram uma locação de R$ 1.000, que não pudemos arcar e daí o filme não teve sobrevida, sendo suas 100 cópias logo depois queimadas pela distribuidora”, desabafa.

Programa discute quatro temas
Com quatro mesas de debate para acontecer pela manhã (a partir das 9h30) no Cinema da Fundação, e à tarde (a partir das 14h30) na sala Aloísio Magalhães (no mesmo endereço do Cinema), o 1° Encontro Nacional de Programadores de Salas Alternativas de Cinema foca algumas questões essenciais que perpassam por problemas comuns aos administradores destes espaços espalhados pelo Brasil.

Na primeira mesa (quinta-feira, 9h30), Maria Chiaretti, do Cine Humberto Mauro em Minas Gerais, Marcus Mello da P.F. Gastal de Porto Alegre, os curadores do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, e Fernando Adolfo, do Cine Brasília (tradicional sala que passa por uma forte crise no Distrito Federal) discutem as problemáticas típicos de uma sala pública. Às 14h30 de amanhã, a gaúcha Ana Luiza Azevedo, do Cine Santander em Porto Alegre, Cláudio Marques, do Arteplex Glauber Rocha, em Salvador, e Gilson Parker, do Cine Sesc Paulista apontam questões semelhantes para o caso nas salas particulares.

Sexta-feira pela manhã, o assunto concentra-se nas novas experiências de exibição, pelas vozes de Pedro Martins, de Fortaleza (responsável pela “Sessão de Arte”, que circula aqui no Recife no circuito Severiano Ribeiro), Roberto Nunes, de Sergipe (responsável por um circuito semelhante ao de Martins, só que circulando na Rede Cinemark), Marcos Sampáio, do Cine Sesi Pajuçara, em Maceió, e Daniel Leite, curador do carioca Cinelab.

A mesa na tarde de sexta-feira fala nas novas possibilidades de distribuição de filmes, com a presença do carioca Caio Cesaro, da Programadora Brasil, o paulista Cacá Carvalho, da Rain Networks (operadora das projeções em digital no Brasil), o carioca Raoni Luna, representando a Motion Pictures Licensing Corporation, e Alessandra Durso da mineira Usina Digital. O Encontro é aberto ao público e tem entrada franca.

PROGRAMAÇÃO

Quinta-feira, 23 julho

Mesa 1 – A Experiência das Salas Públicas
Local: Cinema da Fundação Joaquim Nabuco
Horário: 9.30 – 12h30

Mediador: Ernesto Barros (Cinema do Parque e Apolo, da Prefeitura do Recife)
Debatedores:
Maria Chiaretti (Cine Humberto Mauro, Belo Horizonte, MG)
Luiz Joaquim/Kleber Mendonça Filho (Fundação Joaquim Nabuco û Recife, PE)
Marcus Mello (Sala P. F. Gastal û Porto Alegre, RS)
Adolfo Gomes (Sala Walter da Silveira û Salvador, BA)
Fernando Adolfo (Cine Brasília, Brasília, DF)

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Mesa 2 (A Experiência das Salas Privadas)
Local: Sala Aluízio Magalhães
Horário: 14h30 – 18h

Mediador: Marcus Mello (Sala P. F. Gastal – Porto Alegre, RS)
Debatedores:
Ana Luiza Azevedo (Cine Santander, Porto Alegre, RS)
Cláudio Marques (Arteplex Glauber Rocha, Salvador, BA)
Gilson Packer (Cine Sesc, São Paulo, SP)

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Sexta-feira, 24 de julho

Mesa 3 (Novas Experiências de Exibição)
Local: Cinema da Fundação Joaquim Nabuco
Horário: 9.30 – 12h30

Mediador: Kleber Mendonça Filho (Cinema da Fundação Joaquim Nabuco)
Debatedores:
Roberto Nunes (Cine Cult Cinemark, Aracaju, SE)
Cine Sesi Pajuçara (Maceió, AL)
Daniel Leite (Cinelab, Rio de Janeiro, RJ)

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Mesa 4 – Novas Experiências de Distribuição
Local: Sala Aluízio Magalhães
Horário: 14h30 û 18h

Mediador: Luiz Joaquim (Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, Recife)
Debatedores:
Caio Cesaro (Programadora Brasil)
Cacá Carvalho (Rain Network, SP)
Raoni Luna (Motion Picture Licensing Corporation)
Alessandra Durso (Usina Digital, Belo Horizonte, BH)

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