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Festivais

2o Festival Paulínia de Cinema – noite 1

Houve uma vez um verão em Búzios

Por Luiz Joaquim | 10.07.2009 (sexta-feira)

Paulínia (SP) – O novíssimo e ostentoso Theatro Municipal de Paulínia, com suas colunas gregas e 1.300 poltronas, voltou a brilhar jogando o foco no cinema brasileiro durante a noite de quinta-feira, quando deu partida ao 2º Festival Paulínia de Cinema. Após atraso e uma longa apresentação, bem adminstrada, diga-se de passagem, por Marília Gabriela e Lázaro Ramos, o terceiro longa-metragem de Heitor Dhalia, “À Deriva”, ganhou sua primeira exibição em terras brasileiras depois sua première há dois meses em Cannes.

Com parte da equipe e do elenco no palco – Débora Bloch, Cauã Reymond e a iniciante Laura Neiva (de apenas 15 anos), Dhalia foi rápido ressaltando o que mais se fala aqui em Paulínia: a impressionável boa intenção da prefeitura municipal em alavancar esta cidade petroquímica como polo cinematográfio.

“À Deriva” conta a história de Filipa (a boa Neiva), uma menina de 14 anos em veraneio com o pai, um escritor francês (Vincent Cassel), a mãe (Bloch) além da irmã mais nova e do imão caçula numa praia em Buzios (RJ). O cenário paradisíaca é o palco de confrontos sexuais próprios da adoslecência, com Filipa ponderando sobre sua virgindade, ao mesmo tempo em que testemunha assustada a traição do pai com uma norte-americana (Camilla Belle).

Nesse contexto, o filme de Dhalia se proprõe a apresentar uma amadurecimento emocional precoce comum aos adolescentes. Amadurecimento que chega à força pela separção não-amigável dos pais. De um modo geral, e curiosamente, a situação à deriva em que se encontra Filipa, sem pai nem mãe na sua confusão sexual e na sua fragilidade de filha semi-esquecida, o filme de Dhália também fica boiando no mar do cinema brasileiro.

Que fique registrado a excelência técnica alcançada – bela fotografia de Ricardo Della Rosa, bonita trilha-sonora de Antônio Pinto -, mas, da mesma forma que há uma definição não tão clara do espaço temporal em que tudo transcorre (algumas dicas da direção de arte e figurino apontam para o início dos anos 1980), também parece indefinida a identidade do filme.

Tudo bem que Dhalia não tinha de fazer algo com marcas brasileiras a ferro e fogo, mas “À Deriva” soa como um filme universal, no mau sentido. A própria presença e participação (ótima) de Cassel parece desnecessária para o contexto dramático. Ela empresta sim um charme (inclusive por ouvirmos seu português esforçado) e uma internacionalização à produção, mas que parece não ser determinante para ser um personagem estrangeiro, considerando a trama.

A presença mais forte aqui é a da menina Laura, que veste bem a roupa da adolescente chata, ensimesmada em suas próprias dúvidas e medos. Tendo de encarar a aspereza da falta de amor dos pais ao mesmo tempo em que o sexo começa a fazer concretamente parte de sua vida, mas de forma traumática, como se ele, o sexo, fosse o objeto repelente do amor, e não o contrário. Tudo graças ao exemplo que tem do pai amoroso com a família, mas infiel com a esposa.

“À Deriva”, produzido por pela O2 Filmes, de Fernando Meirelles, mostra entretanto um amadurecimento dramatúrfico de Dhália, com um roteiro mais sofisticado e menos pretencioso, que dá as cartas de sua intenção logo no início, sem querer vender o que não tem. Em sua fácil comunicação, belas imagens e charmoso elenco estrangeiro, deve fazer uma história interessante quando chegar ao circuito comercial.

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