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Festivais

2o Janela Crítica (2009) – 22.out

O humano atrás da farda policial

Por Luiz Joaquim | 22.10.2009 (quinta-feira)

Hoje, a partir das 21h no Cinema da Fundação, o cinéfilo recifense poderá conferir a incursão do carioca Eduardo Valente à frente de um longa-metragem com a exibição de seu “No Meu Lugar”. Por que tanto interesse nessa conferência? Porque o nome de Valente, mesmo antes do respeito adquirido no primeiro passo como realizador, com o curta-metragem “O Sol Alaranjado” (2001), rodado em 16mm e vencedor da competição ‘Cinefondátion’ em Cannes – de quem recebeu o prêmio das mãos de Scorsese -, o cineasta já era um conceituado crítico de cinema, antes pelo site “Contracampo” e hoje pela “Cinética”.

Responsável também pela curadoria de alguns bons festivais brasileiros, Valente produziu depois em 35mm, os curtas “Castanho” (2002) e “O Monstro” (2005), tendo feito menos barulho bom que seu primogênito. Com a chegada de “No Meu Lugar”, os olhos voltam-se mais uma vez para a estratégia desse pensador na construção de um novo filme, agora com fôlego extentido e, por isso mesmo, mais desafiador e suscetível a problemas.

“No Meu Lugar”, co-desenvolvido com o crítico Felipe Bragança, apresenta três núcleos narrativos. O erro de uma abordagem policial é o que impulsiona referências ao passado e presente de personagens desses três núcleos dramáticos. Em função dessa estrutura, montada em três instantes temporais diferentes, ligações direta com o tipo de cinema feito por Alejandro Iñarritu podem vir a cabeça do espectador. Mas “No Meu Lugar” traz em si próprio uma função narrativa que remete ao acaso, ou ao destino, como lembrou o crítico José Carlos Avellar durante debate na Mostra de Tiradentes, em janeiro.

Nos três eixos dramáticos temos o tenente da polícia militar (o ótimo Márcio Vito) afastado das ruas com sua filha; a viúva (Dedina Bernardelli) com seu novo companheiro e o casal de filhos do relacionamento anterior. Há também um entregador de água mineral (Raphael Sil) que vive numa favela com sua mãe e irmã, e que namora uma empregada doméstica da classe-média alta carioca. Nas três histórias há um cansaço, em todos eles, gerado por um desejo de querer sair daquele lugar existêncial mas não conseguirem.

Na verdade, enxergamos que a perda, e como lidar com ela, em função da constante presença da morte na vida dos personagens, seria a corda mais forte que ligaria os protagonistas dos três núcleos. Nesse sentido, Valente desenhou para o seu PM o retrato mais humano (humano sim, herói não) já empregado para um profissional assim no cinema nacional. E essa intenção já pode ser conferida na abertura do filme, com os olhos de Márcio Vito em primeiríssimo plano, para depois dar lugar ao seu rosto, e depois o vermos sustentando uma arma numa viatura circulando pelo Rio de Janeiro. Ou seja, somos apresentados ao personagem sem nenhuma idéia de pre-conceito, para só depois o lermos como um policial.

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