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Críticas

Salve Geral

“É nós” na fita!

Por Luiz Joaquim | 02.10.2009 (sexta-feira)

É muito boa a imagem de abertura de “Salve Geral”, novo filme de Sérgio Rezende (“Zuzu Angel”, “Canudos”), em cartaz nos multiplex. A câmera mostra um piano descendo, amarrado por cordas, do alto de um edifício. Boa porque já contrasta a delicadeza do que representa o objeto musical em foco contra a violência sobre objeto humano que será discutido nos seus 120 minutos seguinte. “Salve Geral” conta a história do envolvimento da dona de casa Lúcia (Andréa Beltrão) nos ataques realizados por uma facção criminosa que “parou” São Paulo no Dias das Mães de 2006.

No caso o piano pertence a Lúcia, que transporta o instrumento para sua nova casa num bairro pobre. Depois de ficar viúva e ter a pensão do marido cancelada em função da falência da empresa onde ele trabalhava, Lúcia vai morar na periferia, para a revolta do filho de 18 anos, Rafa (Lee Thalor). Habituado ao conforto da classe alta paulista, o rapaz participa de um pega de carros com os amigos e acidentalmente mata, a tiro, uma garota. Sendo preso em flagrante, é detido e levado a um dos presídios onde funciona uma célula para o Comando (o Primeiro Comando da Capital – PCC), organização criminosa articulada numa rede que envolve 200 mil bandidos.

Ao mesmo tempo em que Rafa se envolve com o Comando, Lúcia – que também tem formação em Direito -, conhece a Ruiva (Denise Weinberg), advogada do Professor (Bruno Perillo) lider do Comando. Vendo em Ruiva uma ajuda para encurtar a pena de seu filho, Lúcia aproxima-se da advogada sem compreender muito bem com quem está se metendo. O auge das complicações entre o sistema carcerário e os presos acontece quando centenas deles são transferidos para uma penitenciaria de segurança máxima no interior de São Paulo, gerando o estopim para o que foi noticiado em todo o país naquele domingo de maio de 2006, com delegacias sendo metralhadas, ônibus queimados, lojas e shopping fechados, dezenas de mortos e transito ainda mais caótico em São Paulo.

Sérgio Rezende merece crédito por dramatizar num filme, e de forma profissional, fatos tão complexos da recente história social brasileira. E “Salve Geral”, abre, como já disse, bem, com a apresentação de seus personagens bem defendida pelos atores, e situações bem ritmadas pelo diretor e seu montador. Há entretanto, um miolo fofo que parece não funcionar em harmonia com o fluxo da trama, particularmente quando acontece o improvável envolvimento emocional de Lúcia com o Professor, que calha de ser o único bandido bem-apessoado da história.

A própria luta de Lúcia pelo filho parece apagar-se um pouco diante da novidade do romance. Mas, uma vez voltando o foco ao complexo sistema criminoso brasileiro, “Salve Geral” soa interessante por mostrar esse retrato bem dramatizado; ainda que venha acompanhado de uma trilha sonora – de Miguel Briamonte – querendo empurrar emoções extras para situações já bem resolvidas no filme. Atenção para a performance de Weinberg, como o “trator” Ruiva, maquiavelicamente conseguindo tudo o que deseja e dando medo apenas com o seu olhar duro. Com todo o respeito ao bom trabalho de Beltrão, é Weinberg quem rouba a cena nesse filme que irá tentar um vaga entre os cinco que irão concorrer ao Oscar de longa estrangeiro em 2010. O resultado é divulgado em janeiro.

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