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Reportagens

A tragicômica história de Simião

Cinema da Fundação (Recife) lança hoje o curta

Por Luiz Joaquim | 09.11.2009 (segunda-feira)

Não há, no meio audiovisual pernambucano, quem não conheça o camelô de cinema, Simião Martiniano. Realizador desde dos anos 1970, a época tendo o Super-8 como suporte, e depois nos anos 1980 com o VHS, dirigiu até hoje sete longas-metragens e três curtas. O cineasta já ganhou uma retrospectiva comentada no Rio de Janeiro, já recebeu prêmio em festivais no Espírito Santo e São Paulo, mas ainda têm limitações financeiras não só na confecção de suas produções como no próprio cotidiano. Parte dessa história triste será mostrada hoje, mas num tom muito divertido, em “A Maldição de Simião”, curta dirigido por José Manoel que é lançado, às 19h no Cinema da Fundação.

Em cerca de 15 minutos, temos Simião interpretando a si próprio, vendendo vinil usado em sua loja no camelódromo da avenida Dantas Barreto enquanto lamenta a má sorte. À noite, no caminho para casa sob uma trilha sonora melancólica, ele esbarra em gato preto, na assombração Jurema e, para seu descontentamento, ainda encontra um gay que se enamora com o cineasta.

Com seu filme, José Manoel – que atuou em todos os filmes de Simião – lança a questão que o próprio Simião se faz no filme: “Alguma coisa está acontecendo de errado?”. É uma indagação automática depois de o artista refletir sobre a razão de tanta dificuldade.

Ainda assim, na vida real, Simião não desiste e hoje prepara um novo longa-metragem chamado “Shows Variados”, já todo gravado e em finalização para lançamento no início de 2010. Em entrevista na redação da Folha, o diretor disse que para a produção de “Shows Variados” teve o apoio do ex-prefeito do Recife e hoje secretário estadual de Articulção Regional, João Paulo. E para o anterior “A Valise foi Trocada” (2007) contou com o suporte da Áudio e Video Produções. Exceto por esses trabalhos, Simião tocou todos os seus projetos com recursos pessoais.

José Manoel (em seu terceiro filme como diretor), assim como Borba Gato e outros, faz parte de um grupo de realizadores que nasceu da direta convivência artística com o Camelô de Cinema. O curta “A Maldição de Simião” soa quase como uma reverência ao mestre, e guarda a mesma ingenuidade (e beleza) cinematográfica, própria de quem faz o que faz por paixão e instinto.

Quem for a sessão de hoje, verá problemas na sincronização do som que Manoel explicou em entrevista: “Tivemos dificuldades na captação do som direto e na reposição do som, e não foi fácil fazer a dublagem de Simião”. Cortes secos na montagem também provocam um estranhamento, mas Manoel conseguiu aqui concretizar ao menos um momento impagável.

Quando Simião janta com sua neta em casa, um gato preto aparece para assustá-lo. Furioso, o cineasta pragueja contra tudo. A forma exagerada dá um tom cômico que faz sua neta sorrir descontroladamente. É quase o mesmo sorriso que sairá do espectador, fazendo deste o grande momento de “A Maldição de Simião”.

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