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Críticas

O Nome dela É Sabine

O lado triste na vida de Sandrine Boinnare

Por Luiz Joaquim | 08.12.2009 (terça-feira)

Nada mais deprimente do que ver a vida se esvair. Quando somos expostos a essa imagem, de alguém a morrer, seja no cinema (por uma dramatização ou documentário), seja num telejornal ou por uma foto, o habitual é a comoção nos aflorar à pele. Mas é uma comoção que dura o mesmo tempo do breve expirar de uma vida. É rápida, embora fique em nossa cabeça ainda por algum tempo. No caso de “Ela se Chama Sabine” (Elle S’Appelle Sabine, Fra., 2007) documentário dirigido pela famosa atriz francesa Sandrine Boinnare, que estreia sexta-feira (11-dez) no Cine Rosa e Silva (Recife), o que vemos é uma morte constante da personagem título.

Sabine, 38 anos, é a irmã, um ano mais velha, da atriz Sandrine. Sabine é autista e psicologicamente infantil. O filme intercala imagens atuais com outras de arquivo, em outros momentos da vida de Sabine – aos 27 e na adolescência – e é por essa interposição de imagens em que o tempo se concretiza na tela de forma cruel.

O tempo é implacável a todos. Não questiona. E, desdobrando filosoficamente esse conceito, observar um homem envelhecer no seu tempo de vida, é observá-lo indo em direção à morte. O que perturba em “O nome dela…” é, entre outras coisas, que aqui temos uma real aceleração dessa morte, ou aceleração da falência das funções que permitiriam Sabine conviver normalmente hoje em sociedade.

Aos 27, vemos uma mulher linda, já com um olhar para o vazio, mas que pode muito bem ser lido como a de um ser misteriosamente interessante e atraente. Apesar de limitada, ela tem vida social e expressa alegria. Pilota uma moto, dança e monta a cavalo. Pela ajuda de Sandrine, até realizou um sonho: viajou à Nova Iorque.

Pondo apenas 11 anos sobre essa imagem, encontramos Sabine 30 quilos mais gorda. Com a boca escancarada, tremedeiras e seu olhar para o infinito. O pouco que conseguimos perceber ali é uma aterradora solidão e um isolamento quase indecifrável em seu mundo particular.

Sandrine fez aqui um filme duro e corajoso. Duro porque a todo tempo está nos confrontando as limitações de sua irmã mais velha com a memória visual dessa sua mesma irmã linda e aparentemente sadia no passado. Corajoso por expor um lado triste de sua família, em que a culpa e a preocupação constante não permite a essa família uma vida mais simples. Um bom exemplo está no depoimento da mãe de Olivier. Ele é amigo de Sabine na clínica e, aos 30 anos, precisa de atenção constante por uma marcante epilepsia e disfunção motora.

“Ela se Chama Sabine” faz lembrar o como é pequeno um outro documentário brasileiro chamado “Do Luto à Luta” (2005), de Evaldo Morcazel, que foca portadores da Síndrome de Down. É um filme que mostra essas pessoas especiais como vencedoras (o que elas são, de fato), mas esquece de mostrar o lado triste da vida, que todos nós temos. Sejamos especiais ou não.

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