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Críticas

Alice no País das Maravilhas

Estreia a esperada versão de Burton para obra de Carrell

Por Luiz Joaquim | 23.04.2010 (sexta-feira)

Estamos apenas em abril, mas pode-se dizer com tranqüilidade que hoje estreia, de fato, um dos filmes mais esperados de 2010. “Alice no País das Maravilhas” (Alice in Wonderland, EUA, 2010), de Tim Burton, projetado em 3D digital. Por três razões, nos permitimos anunciar tal lançamento dessa forma.

A primeira reside na idéia de que as obras literárias das quais o filme foi adaptado (os livros “Alice no País das Maravilhas” e “Alice no País dos Espelhos” [ou “Alice Através do Espelho”]) é um clássico da literatura que formou, encantou várias gerações, e ainda continua a fazê-lo desde seus lançamentos (1865 e 1871). Há uma razão para esse êxito. Sem ser exatamente definida como literatura infanto-juvenil ou adulta, os livros de Carrell são atraentes o suficiente para os pequenos dilatarem sua imaginação, e são sugestivos o suficiente aos adultos para que reflitam, por analogias contidas na história, sobre sua própria postura na vida. Em resumo, para os moleques uma linda brincadeira. Para os grandes é filosofia e psicologia.

A segunda resposta pela grande expectativa do filme está cunhada no nome de seu diretor. Tim Burton tem crédito de sobra para passear por histórias absurdas, com personagens solitários e estranhos a todos ao seu redor. Basta dar uma olhada em “Os Fantasmas se Divertem” (1988), “Eduardo Mãos de Tesoura” (1990), “Ed Wood” (1994) só para citar três de mais de suas duas dezenas de filmes. O anúncio da realização do filme “Alice…” significa o encontro de um mestre da literatura fabulosa com um mestre do cinema fabuloso, o que criou um frenesi entre os fãs de um dos dois mestres, ou de ambos.

A terceira resposta está na tecnologia 3D digital, frisson do momento em Hollywood. A curiosidade era: o que teríamos de encantador, aproveitado por Burton, nessa “nova” ferramenta que atribuiria ainda mais beleza à história de Carrell? Dentro desse aspecto. “Alice…” também marcaria a inauguração da sala 3 do UCI/Ribeiro do Shopping Recife projetando 3d digital. Mas o espaço já começou a exibir nesse formato sexta-feira última, com a animação “Como Treinar seu Dragão”.

O FILME
Hora de responder a estas perguntas indo ao cinema, e talvez o espectador um pouco mais exigente não fique satisfeito com nenhuma das expectativas que alimentava. No primeiro caso, temos no roteiro um embaralhamento das histórias dos dois livros, deixando o filme muito mais concentrado em “Alice no País dos Espelhos”, ou seja, acompanhamos Alice (Mia Wasikowska) aos 19 anos, prestes a ser pedida em casamento mas, antes disso, ela novamente segue o coelho fujão que aponta para o relógio de bolso até cair na sua famigerado toca, levando-a ao País das Maravilhas.

Ela tem certeza que tudo é um sonho, um recorrente, que tem desde a infância. Entretanto, pistas vão deixando-a perceber que ela já esteve ali sim. Era uma criança e era mais pura e divertida, conforme lhe informam o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) a Lebre e o Rato, ou Gato Risonho e a Lagarta.

Há nessa estrutura narrativa, particularmente na segunda metade do filme, uma adequação do romance para a modulação das produções de ação hollywoodianas. Isso significa que as lições que Alice poderia nos ensinar através das experiências que vive naquele lugar fabuloso são atropeladas pela necessidade de resolver a aventura, no caso matar um dragão. Nesse sentido, não há nada de diferente aqui que já não tenhamos visto em qualquer bobagem infantil do cinema contemporâneo.

No segundo caso, a “marca” de Burton é pouco vista aqui. Talvez seu momento mais pessoal apareça na apresentação da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), com seu cabeção tratado digitalmente, enquanto ralha com seus sapos-guardas.

No terceiro caso, pode-se dizer que “Alice…” pode ser visto em 2D com poucas perdas do que a versão 3D tem a oferecer. Burton aproveita bastante bem as possibilidades da tridimensionalidade na queda da personagem pela toca do coelho, e em seus constantes encolhimentos e agigantamento (o que rende também boas soluções para o figurino do filme). Exceto por isso, “Alice…” passa quase despercebido na “nova” tecnologia.

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