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Críticas

Passeio pela solidão feminina

Passeio pela solidão feminina

Por Luiz Joaquim | 26.04.2010 (segunda-feira)

Valeria Bruni Tedeschi, 45 anos, não é apenas uma mulher interessante. Ela é uma cineasta interessante. Em “Atrizes” (Actrices, Fra., 2007), em cartaz na Sessão de Arte da UCI/Ribeiro (shop. Recife)-, no qual dirige, protagoniza e é co-autora do roteiro, ela retrata com delicadeza os monstros que assombram uma solitária mulher solteira, prestes há completar 40 anos e com um instinto maternal à flor da pele.

É comovente a sinceridade com a qual Valéria (irmã da primeira-dama da França, Carla Bruni) apresenta a desesperadora solidão de sua personagem, a atriz de teatro Marcelline. O enredo segue pelos ensaios de uma peça dirigida por Denis (Mathieu Amalric) e sua peculiar técnica. Ele é sempre assistida por Nathalie (Noémy Lvovsky), colega de infância de Marcelline, hoje casada e mãe de um bebê. Na peça, a personagem de Marcelline se apaixona pela, bem mais jovem, figura de um criado, interpretado de Éric (Louis Garrel).

Sem a figura do pai, já falecido, e a de um namorado (o último foi morto num acidente), Marceline, quando não está ensaiando, se divide entre a ginecologista – que não a deixa esquecer de seu relógio biológico batendo contra a maternidade ; entre a Igreja – onde faz promessa para conseguir alguém -; e na natação.

Um curiosa sequência, neste último ambiente, revela muito sobre uma personalidade entre o maternal e o infantil de Marcelline. Sua própria mãe, impiedosa, a acusa de ela não ter amadurecido. Movida por uma pressão psicológica desesperadora, que a faz pedir conselhos a sua própria personagem na peça (Valéria Golino), Marcelline acaba por não perceber o que realmente lhe acontece ao redor.

“Atrizes” é não só um interessante filme acerca do universo feminino para mulheres como Marcelline, não apenas pelo tema, mas pela forma desconstruída pela qual vai tecendo as dores e insegurança dessa mulher tão bonita mas tão insegura. Uma insegura que afeta diretamente seu ofício. A certa altura do ensaio, ela desabafa: “Eu não posso fazer essa personagem. Ela é feliz, e eu não sou!”.

“Atrizes” ganhou prêmio especial do júri na mostra Um Certo Olhar, em Cannes 2007. Por aqui no Recife, Valera Bruni foi visto pela última vez no ótimo “O Amor em 5 Tempos” (2004), de François Ozon.

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