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Festivais

14° Cine-PE (2010) – noites 5 e 6 (cobertura)

O fantástico e o humor no Cine-PE

Por Luiz Joaquim | 02.05.2010 (domingo)

A noite de sábado no Cineteatro Guararapes teve, sem dúvida, o mais volumoso público deste 14° Cine-PE: Festival do Audiovisual que encerra hoje (2) no cine São Luiz. Duas razões talvez expliquem a alta freqüência da platéia. Era sábado e Tony Ramos estava no palco para ser homenageado pelo festival. O mais que popular ator global lembrou que sucesso e fracasso devem ser saboreados da mesma forma e, galante, dedicou o prêmio a esposa.

Logo depois, a homenagem deu espaço para e equipe de “Quincas Berro D’Água” terceiro longa-metragem de Sérgio Machado, exibido em caráter hor-concours, subir ao palco. Os pernambucanos do elenco, Irandhir Santos e Germano Haiut, foram na frente e, como mestres de cerimônia, celebraram os 14 anos do festival. “Nos somos capazes”, lembrou o mesmo Haiuti que esteve presente na primeira edição do evento, em 1997, por “Baile Perfumado”.

Adaptado da obra de Jorge Amado, o filme de Machado é talvez a melhor versão cinematográfica de um livro do escritor baiano depois de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976). É certo que não traz o erotismo gráfico tão presente no filme de Bruno Barreto (que, a propósito, estava na sessão), mas certamente dá o tom certo para as safadezas dos personagens que cercam o rei do baixo meretrício soteropolitano, Quincas Berro D’agua (Paulo José).

Morto, o corpo de Quincas é disputado entre sua filha (Mariana Ximenes) e o genro (Vladimir Brichta) contra os amigos bêbados e a prostitutas (Marieta Severo, Flávio Bauraqui, Luiz Miranda, Irandhir, Frank Menezes) que querem de toda forma “bebemorar” o aniversário do boêmio. Extremo conhecedor de cinema, Machado conseguiu se aproveitar de todas as suas ferramentas (técnicas e artisticas) para criar um filme ágil e divertido, imprimindo na tela um forte cheiro de baianidade digno da liberdade criativa de um Jorge Amado. O filme estreia no circuito dia 14 de maio.

Na sexta-feira, ainda em competição, o longa de Jorge Duran “Não se Pode Viver sem Amor”, trouxe à luz um tipo de cinema tão audacioso na aposta de seu discurso quanto o próprio título o é. Conta a história de Gabriel (o ótimo Victor Navega Motta), menino de 9 anos que, na véspera de natal, vem do interior do Rio de Janeiro para a capital com Roseli (Simone Spoladore) em busca do pai. Na viagem, esbarram com um físico (Ângelo Antônio) sofrendo com a morte do pai, e com um advogado desempregado (Cauã Reymond) disposto a fazer tudo para tirar a amada prostituta (Fabiula Nascimento) do bordel.

Aqui, o roteiro de Duran (que também roteirizou “Pixote, A Lei do Mais Fraco”, 1977) é sadio o suficiente para evitar as tentações de realizar aqueles mirabolantes entrecruzamentos nas histórias dos personagens, como tanto se tem visto no cinema recente. O fantástico aqui acontece em outra escala, a do sentimento humano e não a do narrativo cinematográfico. Gabriel é dotado de poderes especiais que não se explicam, assim com não se explica o poder do encantamento e da inocência inerente a toda criança. “Não se Pode Viver sem Amor” é, sem dúvida, a melhor ficção em competição exibida neste 14° Cine-PE e por isso merece reconhecimento.

Na mesma noite, a atriz Julia Lemmertz, que atuou para Jorge Duran em “A Cor do Seu Destino” (1986), foi homenageada e lembrou que ainda tem muito a fazer, mas hoje sem pressa. Destacou também o programa “Revista do Cinema Brasileiro”, o qual já apresenta há cerca de 13 anos sob a direção de Marco Altberg, o mesmo que lhe entregou o troféu Calunga.

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