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Festivais

20o. Cine Ceará – noites 3 e 4

Cine Ceará relembra guerrilhas latinoamericanas

Por Luiz Joaquim | 28.06.2010 (segunda-feira)

Fortaleza (CE) – Foi uma noite estelar a da abertura do 20º Cine Ceara: Festival Ibero Americano de Cinema. Com presença de Sônia Braga, que veio exclusivamente para entregar o troféu Eusélio Oliveira ao ator Mauro Mendonça – um dos homenageados deste edição -, as poltronas no cine Sesc/São Luiz, na Praça do Ferreira, foram disputadas. O casal, que contracenara há 34 anos na maior bilheteria do cinema brasileiro, Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto, eram na verdade o objeto de curiosidade dos fortalezenses pois, após a homenagem, na exibição do filme de abertura, o costariquenho “Do Amor e Outros Demônios”, de Hilda Hidalgo, o cinema esvaziou.

Curioso mesmo foi ver, desde que cobrimos o Cine Ceará em 2003 pela primeira vez, a exibição de uma sessão da mostra competitiva no meio da tarde, às 15h30. Aconteceu no sábado. A explicação estava no agendamento de um evento para a noite daquela data, feito pela prefeitura da capital cearense, em plena Praça do Ferreira, que conturbaria o fluxo da sessão no Sesc/São Luiz.

Era o primeiro programa da sessão competitiva de curtas-metragens, que contou com alguns trabalhos já vistos pelos recifenses, como o pernambucano “Azul”, de Eric Laurence; e a animação “O Divino, De Repente”, de Fábio Yamaji.

Entre os inéditos, chamou a atenção o novo trabalho do cearense Petrus Cariry, “O Som do Tempo”. Chamando Guimarães Rosa logo na abertura do filme, com a frase “O Sertão está em toda parte, o Sertão está dentro da gente”, Petrus vai nos apresentando aos poucos, em requintada fotografia, a Dona Maria (a quem ele dedicou a sessão), uma senhora em sua muito pequena casinha que resiste de pé, imprensada por edifícios enormes ao redor. Forjando sons bucólicos, e fundindo-os com a zueira da metropóle, Petrus consegue bem chocar o contraste da situação, desenhando aqui um filme-poema em requintada fotografia.

Já em “Vento”, do paulista Márcio Salem, assim como em “Recife Frio”, de Kleber Mendonça, um efeito climático é o mote para dramatizar uma situação inusitada. Por conta de um superaquecimento global, uma cidadezinha isolada no Brasil fica sem vento. Em fotografia geométrica e em tom lúgubre, vemos seus habitantes (Viviane Pasmanter e Otto são dois deles) deprimidos, sempre acompanhados de um ventilador – peça disputada no local. Nesse ambiente, um menino sonha em voar como o Super-homem. Apesar de iniciar com uma força visual pontente, usando cromaqui para criar uma atmosfera irreal ao ambiente da história, “Vento” vai perdendo sua força por uma estrutura narrativa que se torna burocrática e claramente fascinada por si mesma. Uma pena.

Pior foi para o outro paulista, “Jardim Beleléu”, de Ari Cândido Fernandes, com o ótimo ator Flávio Bauraqui como um trabalhador que é assaltado num ônibus por Corisco Sputinick (!), vivido por José Wilker (!), caricato com uma longa peruca loura e chapeu de cangaceiro. A idéia da alegoria era ligar o trabalhador vitima, negro, no ônibus, com o personagem histórico João Cândido, o marinheiro que liderou a Revolta da Chibata no inicio do século passado. O resultado na tela foi – além da projeção suja e no formato errado – um desequilíbrio completo de coerência em vários aspéctos no que diz respeito a narrativa e tensão, ou falta dela. O curta que encerrou a série foi o belo cearense “A Amiga America”, da dupla Ivo Lopes e Ricardo Pretti, exibido na Mostra de Tirandentes (MG), em janeiro.

Na noite de domingo, a mostra competitiva de longas-metragens continuou com o bom documentário “Memória Cubana”, de Alice de Andrade e Iván Nápoles, pelo qual a dupla resgatou a importância da grande guerrilhas na segunda metade do século passado pelos ótimos Noticieros ICAIC Latinoamericanos, feitos em Cuba, idealizados por Santiago Álvarez; e a co-produção Rússia-Cuba “Lisanka”, de Daniel Díaz Torrez. A cansativa ficção nos leva a Cuba de 1962 próximo a uma base militar soviética, quando a protagonista que dá título ao filme tem de decidir entre o amor de três homens: dois cubanos e um soldado soviético.

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