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Festivais

3º Fest de Paulínia (2010) – noite 4

A adolescência e a mediunidade em Paulínia

Por Luiz Joaquim | 19.07.2010 (segunda-feira)

PAULÍNIA (SP) – Depois da exibição de sábado, com uma quase que unânime boa recepção para “5 x Favela: Agora por Nós Mesmos” – projeto de Cacá Diegues, com cinco epsiódios dirigidos por Manaíra Carneiro, Wagner Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral, Luciano Vidigal, Cadu Barcellos, Luciana Bezerra, a quarta noite (domingo) deste 3º Festival de Paulínia combinou seu espaço competitivo de ficção para dois trabalhos de olhos no comportamento adolescente.

O bom curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, do paulista Daniel Ribeiro por exemplo, nos coloca num ambiente colegial como “Nª 27”, de Marcelo Lordello, mas o assunto aqui é a primeira paixão num trio formado por um garoto com deficiência visual, sua melhor amiga (apaixonada por ele) e um novato, por quem o primeiro desenvolve uma afeição homossexual. Ribeiro já declarou, por ocasião de seu ótimo anterior “Café com Leite”, que tem sim interesse no tema gay, mas sem que o tema soe mais importante que a questão humana. E sim, ele consegue mais uma vez oferecer uma dramaturgia tão fluida e universal, que o público aceita o que vê na tela da forma como deveria: sem preconceito.

Na verdade, “Eu Não Quero Voltar Sozinho” mostrou-se bem mais eficiente que “Desenrola”, longa de Rosane Svartman (do bobo “Como Ser Solteiro”, 1998) cujo premissa é não a primeira paixão, mas como perder a virgindade naquele mesmo ambiente do curta, ou seja, ali entre os colegiais com seus 15, 16 anos de idade.

Coalhado de lindos e juvenis (bons) atores, todos carioquíssimos – no que essa qualificação possa significar que positiva ou negativa -, “Desenrola” acompanha o “drama” de Priscila (Olívia Torres) que planeja ter a primeira transa com o surfista mais velho Caco (Kayky Brito), enquanto sofre cantadas do atrapalhado e gordinho Boca (Lucas Salles).

Com uma extenuante trilha sonora alternando entre o pop rock dos anos 1980, que Priscila descobre ao catar o velho walkman da mãe (Claudia Ohana), e um pop rock (ruim) dos anos 2000, “Desenrola” de início cansa por, ao invés de garotos e garotas pensantes, mostrar estereótipos de adolescentes cuja vida inteira orbita em torno do sexo.

Em seu desenvolvimento, porém, Boca vai crescendo exatamente por ser o personagem mais desenvolvido. De garoto desacreditado com as meninas, que passa muito tempo no banheiro com revista pornográfica, ele aprende que para conquistar uma mulher de verdade, é importante ir além de uma boa performance na cama.

De qualquer forma, desta nova leva de filme brasileiros para adolescentes – “As Melhores Coisas do Mundo”, de Laís Bodanski, e “Antes que O Mundo Acabe”, de Ana Luiza Azevedo – o filme de Svartman é o mais frágil. Pode, porém, funcionar nos multiplex. Como exemplo tivemos a reação de Bia, 14 anos, na platéia que logo declarou ter adorado o curta de Ribeiro mas sobre o longa de Svartman ela vaticinou: “Não gostei que Priscila tenha ficado com o Caco”. Bia, perfeita avaliação.

Sobre o documentário “As Cartas Psicografadas de Chico Xavier”, de Cristiana Grumbach (que abriu o domingo antecedido pelo curta campineiro “Meu Avô e Eu”, roteirizado pelo crítico de cinema João Nunes), a platéia de Paulínia o recebeu com interesse. Mas até certo ponto. Isso porque Grumbach sequencia relatos de nove mães (com alguns pais) que perderam os filhos e receberam cartas escritas pelo médium.

Nisso, o que é inicialmente comovente, além de interessante pela opção da diretora confrontar o espectador com a imagem vazia e o silêncio da ausência dos mortos antes ou após os depoimentos, torna-se excessivo pela repetição. Nada disso, porém, diminui o impacto do que é dito pelas mães, como aquela que, após receber notícias do filho por Chico Xavier alivia-se depois de ter quase se matado, acreditando agora que o sentido da vida é ser bom com o próximo. Ou do pai que tirava muitas fotografias da filha que perdeu ainda com nove anos de idade e, depois da tragédia, não consegue nem pensar numa máquina fotográfica sem chorar.

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