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Críticas

Salt

O sal da guerra

Por Luiz Joaquim | 30.07.2010 (sexta-feira)

Está lá no livro sagrado: “Vós sois o sal da Terra”, seriam as palavras de Jesus Cristo segundo o Evangelho de São Mateus (5:13-16) referindo-se a seus discípulos para ressaltar a importância deles em proteger o homem contra a maldade. Não deve ser por acaso a pretensa escolha do nome de Salt (‘sal’ em inglês) que batiza a heroína vivida por Angelina Jolie, além do próprio nome do filme “Salt” (EUA, 2010), de Phillip Noyce – o australiano ‘descobridor’ de Nicole Kidman no longícuo “Terror à Bordo” (1989).

Pretensões biblicas à parte, Noyce é reconhecido (vide “Jogos Patrióticos”) por saber desenvolver clima e tensão por um volume grande de situações filmadas que, numa administração ritmica típica de Hollywood, deixa o filme numa embalagem ok para vender bem nos complexos de cinema do mundo. Junte-se a isto o nome megaestelar de Jolie e temos o produto “Salt” – tão ágil quanto esquecível; e tão descomprometido com o mundo real quanto metido a comprometido com a política internacional.

Todavia, por coincidência, um fato há um mês liga o mundo contemporâneo com a trama de “Salt”. Aconteceu quando os EUA e a Rússia fizeram na Áustria a maior troca de espiões desde o fim da Guerra Fria, há 19 anos. Destaque para a semelhança de situações com a real espiã Anna Chapman, que foi casada com um norte-americano, assim como é a fictícia russa Salt (Jolie) também casada com um norte-americano. Mas as semelhanças encerram aí.

Salt trabalhava na CIA até o momento em que um figurão russo é capturado pela agência gringa e, sob interrogatório, ele anuncia que o presidente russo, em visita a América para o funeral do vice-presidente dos EUA, será assassinado por uma espiã russa infiltrada chamada Salt. Na infância nos anos 1980, ela teria sido criada para assumir uma falsa identidade no “pais inimigo”.

Acontece que Salt de fato se apaixonou pelo maridão, o que é, convenhamos, uma situação mal-ajambrada para um filme de espionagem, e agora, com a identidade revelada, ela precisa provar que é pro-América além de salvar o Obama branco do filme. Para isso, “Salt”, o filme, vem recheado de explosões e perseguições de automóveis, das quais Jolie, como um gato (ou gata?), cai sempre de pé a cada pulo que dá, mesmo sendo de uma altura de cinco metros.

Enfim, para ver “Salt” sem se irritar com o volume alto das bobagens mostradas na tela, é preciso ir com espírito hollywoodiano para falar várias vezes durante a sessão a clássica expressão pernambucana: “Êita, que mentira!”.

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